A Revolta da Guilhermina - Capítulo IX

A Revolta da Guilhermina - Capítulo IX
A Revolta da Guilhermina - Capítulo IX

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Milagre olhou para seu amigo e afirmou:

— Mobrada, enfie esse seu orgulho num envelope e mande para o inferno. Com esta crise económica, encontrar uma mulher rica e abusada querendo se casar, é que nem encontrar uma mina de diamante dentro de casa e, se tu casares com ela, tu serás dono daquela mansão, serás rico e estaremos ricos, meu amigo de coração.

— Como assim, estamos ricos? Não entendo onde entra a questão de riqueza ao me casar com a Guilhermina. – Interrogou Mauro com um semblante indiscreto.

— Mobrada, tu nunca ouviste falar de lógica económica diante da crise financeira? – Questionou Milagre com um sorriso.

— Não sei nada disso. Só sei que não me vou casar com aquela mulher depois de tudo que ela fez comigo, ademais, já não amo tanto quanto antes. – Declarou Mauro num tom de desamor.

— Senta-te aqui e deixa-me explicar como funciona a lógica económica e onde entra a nossa riqueza. – Milagre arrastou vagarosamente seu amigo para se sentarem num pedregulho que fica bem ao lado da varanda e explicou:

— Olha para o seguinte princípio; se tu casas com a Guilhermina, tornar-se-ão marido e mulher, logicamente que tudo que é dela passará a ser teu e, automaticamente passas a ser um rico, e como sou teu único e melhor amigo, é lógico que tu não vais me deixar nas malhas do sofrimento, logo seremos ricos.

— Não estou a compreender nada dessa porcaria de lógica que constróis. - E também já disse que não volto para aquela vivenda, ainda que seja amarrado. Se for para enriquecer, será com o meu sacrifício e de forma honesta, sem precisar de manipular sentimentos e usar as pessoas. - Respondeu Mauro com um tom de voz agressivo.

— Brada, peço imensas desculpas se porventura pronunciei algo inconveniente. Só pretendia abrir os seus olhos e ajudar a pensar mais no futuro. Tu não estás esgotado de tanto vender bebidas alcoólicas e ganhar moedinhas? Não se cansas de estar aqui no estúdio gravando músicas que nunca batem na praça? – Contestou Milagre olhando para seu amigo.

— Vou-me embora daqui! – Mauro levantou-se às pressas e afirmou. — Não vou ficar aqui ouvindo conselhos estranhos e que não fazem sentido algum. Achas que vou me rebaixar perante uma mulher que me humilhou severamente e que já não a amo mais como antes?

Milagre levantou-se, segurou seu amigo pelas mãos e expôs:

— Brada, lembre-se de tudo que disse. “Milagres não caem do seu” e eu sou a prova disso em pessoa. Se eu fosse tu, já estaria neste exacto momento em casa da Guilhermina pedindo-a de volta.

Mauro deixou aquele local sem dizer novamente alguma palavra para seu amigo. E, pelo caminho, turbilhões de pensamentos reinavam sua cabeça e comentara para si:

— Talvez aquela maldita lógica feita pelo Milagre tenha algum sentido diante desta crise que nos aperta feito uma cirola no corpo. – Mauro inclinou e escreveu com o dedo no chão. — Se me caso com uma mulher rica, serei marido dela, logo, também serei rico. E amor? Ah, vou reaprender a amar aquela maluca. – Afirmou Mauro com um sorriso nos beiços e correndo para a casa da Guilhermina.

Enquanto isso, uma tempestade de tristeza fustigava por completo a casa da Guilhermina. Chuvas torrenciais caíam dos seus olhos e rajadas de pensamentos negativos torturavam sua mente.

— A vida não tem mais sentido algum para mim! Tanto dinheiro na conta bancária, casa gigante e bem mobilada e um carro de marca, mas sem o amor da minha vida para ser feliz. – Levantou-se da cadeira e disse. — Prefiro matar esta vida que me deixa sem vida.


Guilhermina correu até a dispensa da cozinha, pegou numa quantia enorme de comprimidos que utiliza para matar ratos na sua Quinta em Marracuene, colocou num copo vidrado com água fazendo uma mistura e voltou para a sala dizendo:

— Já não aguento mais expelir tantas lágrimas de sofrimento. Tomar este veneno é única e última solução para mim, talvez assim essa maldita angustia e outros problemas não escangalhem mais os meus pensamentos e desfalecem meu pobre coração.

Guilhermina levantou lentamente o copo em direcção à boca e, quando estava prestes a entorná-lo na garganta, eis que o Mauro invade a sala e grita com um sorriso nos lábios:

— Guilhermina, meu Amor! Te amo.


Meque Raul Samboco, 2017.

Então, será que a Guilhermina vai tomar o veneno?



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Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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