Obedes Lobadias: Poeta ou Cronista?

Obedes Lobadias: Poeta ou Cronista?
Obedes Lobadias [FB]


O poema e a crónica podem conter poesia, mas nem todo poema ou crônica tem poesia. Nem todo cronista e poeta atingem o orgasmo, isto é, trazem o sentimento mais profundo no texto ou um punhado de silêncio num monte de palavras. Ao que traz, resta como função do declamador, na minha opinião, transmitir essa poesia, o sentimento patente nesses dois géneros literários.
Talvez eu esteja a ser um pouco ignorante ou venha causar intrigas, mas a intenção não é essa, o objectivo deste texto é fazer compreender as pessoas o que é o quê, e neste caso o que é o poema, a crônica e a poesia. Quando é que alguém está a dizer um poema ou está a dizer uma crónica? É que para um grupo ainda mais leigo do que eu na matéria acha que tudo é poema e todo declamador é poeta. Poeta é aquele que faz versos emponderados a um tipo de sensibilidade afinada, e o declamador é aquele que recita estes versos com pompa e conveniência e,  por fim às definições, o cronista é aquele que escreve sobre os factos da actualidade, estes são conceitos que podemos encontrar em dicionários.
Em conversa com o poeta Valter Alfredo, disse-me que num concurso de poesia, após ter recitado um texto que ele julgava ser poético, o júri o parabenizou pela crónica... Com isto leva-me a crer que podemos declamar ou recitar crónicas.
 Nesta senda de ideias, me parece certo dizer que Obedes Lobadias é um jovem declamador conhecido a nível nacional por recitar ou declamar as suas crónicas. Poucas vezes escreve poemas na sua conta pessoal do Facebook e poucas vezes mais recita seus poemas. Obedes Lobadias é um jovem que diz e retrata sobre factos da actualidade, temos como um exemplo claro o seu texto “Coisas de Outro Mundo”, é um texto que o caracteriza e é sem dúvidas um dos seus maiores escritos que veio a recrutar maior número de admiradores. Até  tenho no meu canal o vídeo em que ele declama o texto, é o vídeo mais visto dos que já partilhei até ao momento.
Ouvi Obedes a declamar pela primeira vez na apresentação da obra de Norek-Red na Feira de Gastronomia de Maputo (FEIMA) em 2016. De lá até cá fui notando a sua evolução. O texto que ouvira na altura tinha como título “Mãe”, um texto de se tirar lágrimas, um poema carregado de poesia e recitado com muita pompa. E é pelo saber fazer que desde essa época o público começou a aderi-lo. Entretanto, talvez pelo número de apresentações sentiu-se obrigado a ter que produzir mais, trazendo assim quantidade e qualidade. Talvez este seja o factor que fez com que Obedes optasse por escrever mais crónicas do que poesias. Eu notei em seu percurso que Obedes aos poucos ia-se desviando ou talvez se encontrando ao trazer temas que mais interessam ao seu público alvo, do que a ele mesmo, perdendo-se nele as características do Eu-lírico, e, em contraparte, também um pouco daquela poesia melancólica que nos brindara com ela no texto “Mãe” e tantos outros.  Foi de súbito que nos trouxe uma nova abordagem com o texto “Coisas de Outro Mundo”, nele abordava factos tristes que se vivem actualmente no nosso país, mas de uma forma cómica ou com trechos ordinários e com metáforas do vulgar, que talvez seja mais correcto chamar de “punch lines”, muito comum em batalhas de Rap/hip-hop, senti neste texto que estava a vender a sua alma de poeta ao público, deixando o poeta melancólico de lado para rirmos da desgraça e lamentarmos da mesma em sua crónica.
Nas bermas da cidadela há quem dizia: – Alto poema...
 – Poema? Eu indagava.
Talvez seria mais correcto dizer que era um alto Rap/hip-hop a solo...
Obedes Lobadias é sem dúvidas um pequeno grande declamador, mostrou-me que eu estava errado, que ele faz poesia quando lhe apetece e que faz muito bem. Em Fevereiro deste ano (2019) tive a oportunidade de voltar a ouvi-lo no Deal Espaço Recreativo e o título do  poema se não estiver em erro é “Pai”, vi o verdadeiro Obedes Lobadias e o incrível declamador de poemas melancólicos com uma elevada dose de poesia. Resta-me, simplesmente, desejar a este declamador, poeta e cronista, sucessos na sua carreira e que nos brinde com uma obra física, livro ou CD, para consolidar o seu magnífico trabalho e de quando em vez desgustarmos dos seus escritos antes de se deitar.


Avante!

Por: Adilson Sozinho
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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