A Revolta da Guilhermina – VIII

A Revolta da Guilhermina – VIII
A Revolta da Guilhermina – VIII
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Guilhermina abraçou fortemente seu empregado chorando nos seus braços e pedindo desculpas.
Sem retribuir o abraço, Mauro encheu a sua boa e disse:

— Quem és tu? Desinfectes imediatamente as suas mãos nojentas de mim. – Empurrando-lhe vagarosamente acrescentou. — Nunca ouse mais tocá-lo sem antes esterilizar as suas malditas mãos sujas.

Como se seus tímpanos estivessem entupidos, Guilhermina desconsiderou aquelas falas cromadas de desprezo que fora cuspidas pelo Mauro, reabraçou-lhe fugazmente com lágrimas escorrendo nas pontas dos seus olhos dizendo:

— Mauro! Meu amor, arquitecto dos meus sonhos, enfermeiro da razão do meu viver, psicólogo dos meus pensamentos, engenheiro das minhas expectativas, historiador da nossa história de amor e biólogo dos meus sentimentos. Tu não imaginas, quantas chamas de ansiedade tive que debelar em meu coração até encontrar-te vivo nesse incêndio da vida.

— Arquitecto de Nhonhonhó! já avisei para retirares as tuas mãos porcas de mim. Não lhe conheço nem de olhos empoeirados. – Insistiu Mauro com um tom de voz carregado de cinzas de desamor afastando novamente a Guilhermina de si.

— Mauro, não me trates como desconhecida e com desprezo sem fronteiras. Tu sabes muito bem que sou a sua ex-patroa; a que tu amas de forma desmedida, sou aquela que seu coração fica amolecido quando a vê, a tua dona mais simpática do mundo que seus olhos encantados já conheceram e sou a tal senhora do teu destino amoroso – Guilhermina ajoelhou-se e aditou: — Olha, vim aqui para lhe pedir desculpas por tudo que fiz e quero me casar contigo.

Mauro colocou-se numa gargalhada desprezível e respondeu com um semblante todo envelhecido de raiva:

— Ham! A riquinha veio pedir desculpas e quer se casar com o ex-empregado que ela escorraçou em sua casa com desapreço! – Rindo-se infinitamente Mauro relembrou. — Onde já se viu, uma apresentadora de TV que faz Sucesso em Moçambique, dona de lojas de vestuários e proprietária do Ranger Rover casar com um empregado desgraçado, que saiu do campo e mal sabe vestir? Levante daí, ex-patroa assanhada!

— Mauro, sei que errei contigo ao demiti-lo da minha casa, mas cá estou, arrependida e pedindo de desculpas sinceras. Deixa-me tê-lo somente para trabalhar em minha casa. Quero estar mais perto de mim, meu tudo. – Implorou Guilhermina num desespero mais aditado.

Mauro apontou seu dedo indicador da mão direita para Guilhermina e questionou:

— Demitir? Tu só podes estar com múltiplos problemas psicológicos. Depois de tudo que fizeste comigo, ainda tens a ousadia de procurar-me e dizer tanta mentira? Quer dizer, para além de mal-educada é também uma patroa falsificada. Sai daqui, sua mistura de demónios na terra e no inferno. - Retorquiu Mauro mordendo seus lábios.

— Não faça isso com a mulher da sua vida, meu príncipe. Olhe para minhas unhas das mãos todas elas roídas de tanta matança de ansiedade de encontrá-lo, veja os meus olhos avermelhados e enchidos de lágrimas de tanta fúria de procurá-lo, mires para a minha pele desnutrida de tantas noites frias esperando pelo seu toque. Eu te amo, Mauro - Declarou Guilhermina.

— Guilhermina! Chega de mentiras. Já desperdicei tempo demais conversando contigo. Nunca tinha sido tão humilhado na minha vida por alguém que amei e trabalhei durante muito tempo para ela. Por favor, “famba ni ma Range ya wena.” (2x) - Disse Mauro num tom musical deixando a Guilhermina sozinha naquele lugar.

Humilhada pelo se próprio ex-empregado por ter dito que estava apaixonada e queria-o de volta, Guilhermina deu às costas para ir embora e, quando estava prestes a dar o primeiro passo, eis que Mauro grita pelo seu nome:

— GUILHERMINA!

Guilhermina olhou louvavelmente ao ouvir a voz do Mauro na esperança de um ouvir uma declaração de amor:

— Esses seus cabelos que caíram aqui no quintal de dono são para sua mãe ficar a pentear? Vem buscar esses cabelos antes que eu mande isso para lixeira de Hulene. - Disse Mauro enquanto apanhava alguns cabelos da Guilhermina no chão.

Guilhermina fez de contas que não estava ali e pôs-se a andar.
Depois de ter andado cerca de cinquenta metros, reencontra o Roberto sentado numa pedra esperando por ela.

— Guilhermina, é você? Está chorando porquê? – Questionou Roberto.

— Roberto, tu ainda estás aqui? Como me reconheceu e sabe que estou chorando?

— Fiquei esperando por você para lhe despedir. Olha, eu sei que você está chorando, sim. Ouvi som de choros com meus ouvidos bem apurados e senti o cheiro do seu perfume.

— Nada, não estou chorando, amigo. Olha sei que ficou esperando para que eu pagasse por me ter acompanhado. Tome esse dinheiro e compre alguma coisa para ti. - Disse Guilhermina enquanto entregava mil meticais ao Roberto.

— Não quero seu dinheiro, minha senhora. As amizades não se fazem pelo bem material, elas fazem-se pelos pequenos detalhes da vida, gestos simbólicos e de sinceridade. Desejo que tudo corra bem com você e que saia desta tristeza maldita. Adeus e até um dia!

Mais uma vez Guilhermina foi atirada para o precipício da tristeza. Pegou seu caminho e foi-se embora.
Do outro lado, Mauro foi ter com seu amigo Milagre que estava aguardando o seu retorno.

— Maurito, aquela jovem que estava ajoelhada em frente de ti, não é aquela empresária, a sua ex-patroa? – Perguntou Milagre num tom de incerteza.

— É ela sim. Tu acreditas que aquela sem vergonha veio pedir desculpas e quer se casar comigo?

— E o que tu disseste, mo brada? Aceitaste nem? Puxah, tu tens sorte meu best friend. Eu sabia que a nossa vida ia mudar um dia. - Comentou Milagre com um tom de felicidade.

— Que aceitar, Milagre. Humilhei aquela sem noção tal como ela fez comigo em sua casa, só para ela sentir na pele a dor da humilhação vindo de alguém que a gente ama. – Frisou Mauro.

— Mauro, foste muito incorrecto ao tratar a sua patroa com desdém e mandá-la embora. Não se paga pela mesma moeda pha. Mulher quando é rica e abusada, deve ser chulada até ficar lisa. – Afirmou Milagre pegando no ombro do seu amigo.

— Nada, já não a amo, por isso, não me vou casar com ela e muito menos colocarei os meus pés naquela casa novamente.

— Mobrada, deixe esse seu orgulho do lado. Com esta crise, encontrar uma mulher rica e abusada querendo casar é que nem encontrar uma mina de diamante dentro de casa e, se tu casares com ela, tu serás dono daquela mansão, serás rico e estaremos ricos, meu amigo de coração.



Meque Raul Samboco, 2017!! Meque Raul Samboco
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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