O Vin Diesel moçambicano – (crónicas do machimbombo baixa-boane -1)




O Vin Diesel moçambicano – (crónicas do machimbombo baixa-boane -1)


Depois de um daqueles dias bem cheios: trabalho, negociatas para cá e para lá; depois de mais uma jornada de curso profissional intensivo, eis um momento deveras cansativo. O regresso é chamado a rimar com a ida. O responsável pelo regresso público é o Baixa-Boane.

O autocarro está abarrotado de gente, recomenda-se atenção ao virar a face, pode ser que adoces lábios de alguém de sexo semelhante. Lá vai o motorista dirigindo gente com todo conhecimento trazido da escola Gicam? Internacional? Talvez dessas recentes cujos proprietários se recusam a pôr o nome da escola na placa de entrada. Ele vai revelando-se prudente, os passageiros num linguajar imparável proseiam. Passando a portagem, o motorista decide mostrar a sua face de Vin Diesel em velocidade furiosa 4.


Ele dá uma daquelas arrancadas que os passageiros desconfiam que um TPM é capaz, ele agora está em velocidade furiosa, a cilindrada do autocarro parece corresponder bem. Perto da paragem onde iria descer um passageiro, ele acelera e trava, acelera e trava, a inércia dos passageiros é coreografada para frente e para trás, frente e trás, acelera e trava novamente, até que alguém diz:

- Hewena motorista unga hi hlakahli, sathanyóko… (1)

O apelo causa risadas no meio do pessoal.

- Motorista lweyi a biwa velocidade ndjani, deve adjula kusurpreendera nsati wa yena kaya. (2)

O Vin Diesel moçambicano, desta vez não dirigindo uma chovrlet mas sim um TPM, sai bem, nas calmas… depois de injectar nitrogénio na sua adrenalina, produz um segundo arranque jamais visto, resultado:


- Heeeeiiiiiii kassi motorista alandza mani? (3)

 Foi um arranque de tirar o ar, deixando todo o seu pessoal de braços e pernas bem agachados, sem dúvida este tem jeito para rally. Dois jovens trocam impressões invulgares:

- Hedjo bai, não me tchova pa. (4)

- Eu também fui empurrado.

- Então arranja outro lugar para ficar.

-Não é carro do teu avô para me mandares arranjar outro lugar.

- Nao fala do meu avô, estás a pedir outras cenas, tó a dizer.

-Não me concentra você, não me nyenyentsa (5), o que vais fazer?

-Vou te fazer merdas você…

- Ah eh faz lá, faz lá então… – Vamos lá descer então, vamos lá descer.

Ao passar o controle policial o Vin Diesel passa pelo mais passivo dos condutores, faz questão até de acenar aos policiais que o correspondem. Passado o controle tira a mascara e volta  à sua realidade de velocista feroz e veloz. Já se percorreu bons quilómetros de estrada, é surpreendente que no meio daquela fadiga ainda haja alguém com vontade, força e inspiração para paquerar ignorando toda logística desfavorável do regresso.

-Assim vais descer onde moça?

-No quiilometro 16.

-Assim quando vens me visitar?

- Eu? Te visitar para quê?

- Ok então da me lá teu número eu vou te ligar.

- Moço, faz favor não me incomoda, deixa me lá descer eu.


Nem deu para felicitar o Vin Diesel moçambicano pelas suas inegáveis habilidades, a moça desceu na paragem do proseador para encerrar as peripécias do dia.



Glossário

1.  1. Motorista, não nos abana, seu malvado.
2. 2. Este motorista acelera muito mal, talvez quer surpreender a esposa dela em casa.
3.  Afinal, este motorista está perseguindo a quem???
4.   Jovem, não me empurra.
5. Não me irrita!!!




Autor: BATHIST DMC
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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