A Revolta da Guilhermina — VII capítulo


A Revolta da Guilhermina — VII capítulo
A Revolta da Guilhermina — VII capítulo

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Depois de desbravarem os labirintos do mercado de Xipamanine, finalmente chegaram à barraca do Mauro.
— Chegamos, amiga! Olha, esta é a barraca do Mauro, ele costuma estar aqui todos dias vendendo bebidas! - Disse Florência apontando uma barraca fechada.
— Então...Onde ele está? Não vejo sequer a sua sombra, e esta barraca está fechada! – Retorquiu a Guilhermina com um ar de desiludida!
Florência aproximou-se à barraca e respondeu com um sorriso:
— Calma amiga, ele deve estar bem perto, talvez procurado trocos ou fazendo algumas comprinhas para sua barraquinha. - Pegou nas mãos da Guilhermina e sugeriu. — Amiga, vamos saber daquele jovem de óculos onde ele possa estar…
Diante daquela situação preocupante, o desespero da Guilhermina voltara em espinha. A tal esperança que germinara pelo caminho desfolhava de imediato e transformara seus olhos num rio chamado lágrimas. Guilhermina tomou a dianteira para questionar ao jovem sobre o paradeiro do Mauro, pois a vontade de encontrá-lo era maior que o impossível:
— Jovem, esta é a barraca do Mauro?
— Minha senhora, “boa tarde” ainda não está à venda e muito menos deixa cicatrizes na língua quando se é dito para alguém. Boa tarde! – Respondeu o jovem que se encontrava noutra barraca.
— Boa tarde, por favor, com todo e magnifico respeito, como está de saúde, jovem? Esta barraca fechada pertence ao Mauro? – Questionou Guilhermina, após ser alvejada sarcasticamente; pela sua falta de respeito.
— Boa tarde, meu nome é Roberto! É a barraca do Mauro sim, porém ele não trabalha aos sábados, pois costuma ir ao estúdio gravar suas músicas. – Respondeu o jovem enquanto retirava os seus óculos para limpá-los.
Florência olhou para Guilhermina com cara de espanto ao perceber que aquele jovem era deficiente visual e, de repente, Florência encenou uma situação de perda de ar e gritou ligeiramente:
— Amiga!! Socorro! Socorro! Estou a passar mal, preciso tomar os meus medicamentos. E tem que ser agora.
— Florência, não vai desmaiar agora ne? Por favor, aguenta mais pouco e depois levo-te para uma das melhores clinicas e terás todo tipo de medicamento. – Disse Guilhermina enquanto segurava a Florência.
— Amiga, meus medicamentos são tradicionais e são específicos. Estou a morrer. Por favor, dá-me o dinheiro combinado para que eu volte de emergência para casa.
Guilhermina retirou o dinheiro que prometera à Florência e entregou-lhe acrescentando mais cem meticais para que fosse de táxi.
— E agora, quem me vai acompanhar até a esse maldito estúdio de gravação? - Questionou Guilhermina.
Depois um vasto silêncio e quando a Guilhermina se preparava para voltar para sua casa, eis que uma voz suave lhe responde:
— Eu posso lhe deixar onde está o Mauro.
— Que estupidez é essa? Não brinques com a minha paciência. Tu és cego e como vais me acompanhar até ao estúdio?
— Minha senhora, perdi a visão quando tinha nove anos, mas desde lá, não perdi o respeito por mim, pela vida e pelas pessoas. Já não vejo as pessoas, mas sinto a presença delas e respeita-as. Ser deficiente visual não significa ser inútil e merecedor de humilhação e desrespeito. Tenho outros de sentidos que me ajudam a enxergar o mundo.— Repudiou o Roberto.
Guiado pelo desprezo, ignorância e emoção, Guilhermina deu as costas e respondeu:
— Moço. Sei que algumas pessoas com deficiência visual conseguem fazer algumas coisinhas, mas não acredito que possa acompanhar alguém que enxerga ao seu destino.
O jovem com deficiência retirou a sua bengala que estava na pasta e mostrou a Guilhermina dizendo:
— Esta é a bengala branca, um instrumento capaz de levar uma pessoa com deficiência para qualquer lugar. E, poderia muito bem acompanhar a senhora, mas a senhora não quis. Olha, saiba que só o seu melhor amigo é quem sabe onde fica o estúdio.
— E onde está esse melhor amigo dele?
— Use seus olhos para vê-los, afinal um cego só faz umas coisinhas e não podem acompanhar alguém que enxerga. – Virou-lhe as costas e pôs-se a cantar.
Guilhermina aproximou-se daquela figura humana com os olhos no rosto. Tocou levemente seus ombros e disse:
— Imensas desculpas. Fui tão estúpida e desumana contigo. Ultimamente ando tão desesperada e stressada que acabo ferindo as pessoas sem me aperceber. Por favor, leva-me ao estúdio onde o Mauro foi gravar suas músicas.
— Não se preocupe, estou habituado a ouvir palavras como essas no meu dia-a-dia.
Roberto levantou-se, curvou a sua mão direita e disse com um sorriso brilhante:
— Vamos, minha senhora! Tempo é dinheiro!
Roberto levou a Guilhermina até ao estúdio de gravação de música que ficava próximo daquele mercado, e quando estavam prestes a chegar, eis que a Guilhermina abre um sorriso gigante ao ver o rosto do Mauro saindo do estúdio. Largou o Roberto e correu desesperadamente gritando:
— Mauro!! Mauro!!
Abraçou fortemente chorando nos seus braços e pedindo desculpas. Sem retribuir o abraço, Mauro encheu a sua boa e disse:


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Meque Raul Samboco
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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