A Confissão da Janete
Antes do dia 10 de Julho de 2017, as entranhas dela
estavam incendiadas de aflição, suas mãos permaneceram trémulas por muitos
dias, seu coitado coração efervescia sempre que lembrava daquela Universidade,
pensamentos maléficos acabaram por destruir a sua tranquilidade por muito
tempo, de tanto medo de fazer aquele teste.
Várias vezes desistiu à beira de fazer o teste, porém
procrastinou para outros instantes sem datas seguras, evidentemente era difícil
e quase que impossível para ela, ainda que estivesse preparada para fazê-lo,
pois milhões de pensamentos levavam ao delírio da desistência, mas aquele teste
era o seu futuro, por isso não tinha outra saída senão fazê-lo.
Na verdade, o mais importante para ela, não era o julgamento
que as pessoas iriam fazer após o resultado do exame, mas sim, o que iria fazer
da vida. Estava ciente de que sentença não iriam falhar nesta sociedade
moçambicana, onde as pessoas percebem mais dos outros que de si mesmas.
As colegas da Faculdade já a tinham alertado sobre a
dificuldade daquele teste, elas passaram por aquilo e têm recordações
assustadoras e nem queriam mais partilhar o esqueleto experiencial com alguém,
mesmo aquelas que se dizem as mais inteligentes do mundo tremem as mãos ao pegar
aquela prova. Janete se perguntava sobre o paradeiro desse maldito professor,
estudante ou cientista que elaborou aquele teste.
Depois de tantas rezas e simpósios de coragens, Janete
tomou um suco de coragem para fazer o teste. Estava tranquila, cabeça erguida,
pensamentos positivos e sem medo do resultado da prova.
Quando teve o resultado, ficou toda coberta de lágrimas,
pois não foi além das suas espectativas, teve um resultado sobriamente
positivo. Correu, pegou no telefone e ligou para seu namorado para contar sobre
o resultado.
— Artur, preciso lhe confessar uma coisa muito
importante, venha agora à minha casa. - Implorou Janete!
— Não posso vir ao seu encontro, estou com meus amigos
numa discoteca da cidade, olha se quiser, eu passo amanhã muito cedo da tua
casa e podemos conversar com mais calma. - Retorquiu Artur.
— Amor, tu estás sempre desfrutando com seus amigos e
nunca tem tempo para mim; sua namorada, mas quando é a tua vez de convidar-me
para sua casa, não tenho direito de protestar, aliás, se contesto, aí vem você
fazendo dramas e dramas. Além disso, será que teus amigos não teriam a
paciência de passar a noite na balada sem você? Ham? Será que não posso
partilhar os momentos bons e maus da vida com o meu namorado? - Lamentou a Janete.
— Sabe, você sabe estragar o dia dos outros. Sua chata
pha! Deixa-me só terminar umas duas cervejas e venho para aí e olha, não
precisa chorar ao telefone feito uma cachorra sem dono. – Aborreceu-se Artur.
Algum tempo depois
— Oi Amor, vim esvoaçando feito uma aeronave sem ter onde
pousar, até apanhei boleia do colega Bitone para não me atrasar. Diga-me o que
te levou a tirar-me do txiling com os amigos? – Interrogou Artur.
De forma serena, Janete pegou as mãos de Artur e disse:
— Artur, meu amor, fiz aquele teste e resultado foi
positivo.
— Sério? Wauh, eu sabia que você teria um bom resultado.
Estou feliz e orgulhoso de ti. Mas conta-me, foi teste para que Universidade?
Janete levantou-se e em passos de camaleão seguiu à
janela e disse:
— Universidade da Vida, Artur…. Fiz o teste de gravidez e
deu positivo, estou esperando um filho teu.
Artur levantou-se enraivecido em direcção à Janete
perguntando-lhe:
— Grávida? Você está aguardando um filho teu?
— Estou esperando um filho teu; nosso filho, você quem me
engravidou…- Salientou a Janete.
— Não é possível, como pode? Desde que iniciamos o namoro
em 2012, só fomos à cama sem camisinha apenas um dia e uma vez, como é
praticável engravidar numa primeira relação sexual sem preservativo? Não existe
isso no manual da vida, você quer me burlar.
— Como te burlar e por qual motivo faria isso e quem
disse que uma vez não engravida? Você pode ir à cama com alguém durante trinta
anos usando preservativo, mas no que dia em que for sem protecção e as condições
climáticas estiverem favoráveis e férteis, pode muito bem engravidar. Deixa de
ser ridículo e assuma o que fizemos. - Afirmou Janete com lágrimas nos olhos.
— Então, você é a culpada e irresponsável. Como foi capaz
de deixar que a minha avioneta penetrasse em seu aeroporto enquanto as
condições climáticas eram favoráveis e férteis para qualquer aterrissagem para
pilotos sem capacetes, e veja este acidente que cometemos? Acha que teremos
condições financeiras para garantir a vida desse passageiro em teu ventre?
Janete virou-se para Artur e respondeu-lhe:
— Nunca mais lance essas palavras duras e asquerosas
sobre os meus ouvidos, e porque você não se protegeu? Onde estava com a cabeça
quando a tua maldita avioneta sobrevou e aterrizou sobre a minha pista fértil? Ambos
somos irresponsáveis, mas já está feito.
— Você está muito certo. A culpa é realmente nossa e foi
um acidente consciente, mas eu não tenho condições para cuidar deste filho e de
você. Ainda sou estudante e não tenho previsão de ter um emprego tão já. Veja
como as coisas estão difíceis neste país, até os médicos que se dizem ter
emprego automático quando terminam o curso, estão sendo chumbados em massa pela
Ordem dos Médicos de Moçambique, as coisas não bem neste país - Lamentou Artur
repousando seus braços no ombro da sua namorada.
Janete olhou para Artur e declarou:
— Olha, não é tua obrigação de cuidar de mim e do filho
que estou esperando. Esta é simplesmente a nossa obrigação, como um casal de
namorados, de apaixonados e o filho é muito nosso, por isso, vamos juntos
cuidar dele e de mim. Aliás é preciso que todo homem saiba disso, não é o homem
quem deve cuidar dos filhos, mas sim o casal. Vamos continuar a estudar e
teremos emprego sim e a crise vai passar e ela não é tão forte e resistente que
a intelectualidade da geração actual.
Artur segurou as mãos da sua namorada e deu-lhe um beijo
e disse olhando nos seus olhos:
— Amor, imensas desculpas, pois fui muito estúpido ao
proferir aquelas palavras machistas e agonizantes para ti e estou simplesmente
envergonhado de tudo que disse. Olha, vamos cuidar desse filho, é nosso por
direito e talvez venha ser um revolucionário da geração vindoura. Amo-te meu
bem-querer.
Fim!!
Autor: Meque Raul
Samboco
Meque Raúl
Samboco/ O Poeta Espontâneo
Meque Raúl Tarcisio Samboco que tem o pseudónimo de Poeta
Espontâneo, é um escritor e actor do grupo Teatral “NDhaneta” fundado em 2017
por um grupo de estudantes da Universidade Eduardo Mondlane.
De 26 anos de idade, nascido a 11 de Agosto, na cidade da
Beira, província de Sofala.
O gosto pela literatura, surge aquando da criação de um
departamento Escolar que dedicar-se-ia na elaboração de um jornal escolar na
Escola Secundária da Manga, na cidade da Beira, em 2009.
Neste mesmo Jornal, no suplemento cultural, Meque viu a
necessidade escrever poemas e colocar a disposição dos estudantes na vitrina da
Escola junto das outras informações do Jornal, e nunca mais parou de escrever.
Em 2010, participa de um Intercâmbio Internacional de
Cultura na Alemanha, na cidade de Bautzen para representar Moçambique a convite
da Escola Schiller Gymnasium da cidade supracitada, e foi nesse mesmo
Intercâmbio Internacional de Cultura que declamou um poema pela primeira vez da
sua autoria escrito em 5 línguas (Português, Inglês e Alemão, francês e sena).
Em 2012, lança o seu primeiro livro intitulado
“Pensamentos em Poesia: Eu e você” (Gedanken in Poetry: Ich und dich em alemão)
uma antologia em Português e Alemão com temas diversificados.
Em 2013, venceu o concurso de melhor declamador de poesia
organizado pelo Instituto de Línguas da cidade da Beira, isto em Março de 2013,
e em Agosto do mesmo ano volta a participar do mesmo concurso e acarreada o
prémio de segundo melhor declamador de poesia, concurso este que é organizado
duas vezes por ano no Instituto de Línguas da cidade da Beira.
No ano de 2012, passa a fazer parte do grupo teatral
Chamuarianga da Beira como Actor e Poeta, já em 2013 volta a participar do
outro intercâmbio Internacional de cultura na Alemanha, na mesma cidade onde
esteve em 2010.
Em 2015, participa de um concurso de declamação de poesia
que foi levado a cabo pelo Núcleo dos Estudantes da Faculdade de Ciências da
Linguagem, Comunicação e Artes da Universidade Pedagógica de Maputo, onde
ocupou a primeira posição.
Tem poemas, textos e sua biografia publicado/as em alguns
jornais da cidade de Bautzen na Alemanha, nas redes sociais, jornais e revistas
nacionais e já tem dois romances com titulo “Era um amor para casar" e
Traída Pelo Silêncio " que foram lançados em formato electrónico em 2017.
Actualmente, vem trabalhando como actor de teatro e
declamador em televisões, rádios, festas, casamentos, galas, eventos culturais
em Maputo, etc.
Meque estuda Psicologia Escolar e das Necessidades
Educativas Especiais na Faculdade de Educação da Universidade Eduardo Mondlane,
4 ano e está em Brasília fazendo estágio em Psicologia.
.boa intenção.
ResponderEliminar. Sugestã , melhorar o controlo do trama... Há momentos forçados , caso da irritação do Artur sem contextualizado, choro da Janet..