A Revolta Da Guilhermina - I Capitulo

A Revolta Da Guilhermina - I Capitulo

tenacidadedaspalavras A revolta da Guilhermina
A revolta da Guilhermina

Não era habitual que ele ficasse até as últimas horas do dia naquela residência, pois sempre que desabassem os primeiros retalhos de sombra da tarde, já se encontrava com os pés calcados nas ruelas do bairro Khongolote em direcção à sua casa em Albazine, mas naquela noite de sexta-feira 13, em Julho de 2016, Mauro extrapolou a hora de tanto limpar as lágrimas que choviam torrencialmente dos olhos da Guilhermina.
— E dizem que foi vítima de bala perdida. — Perdida! — Perdida fiquei ao ver o corpo do meu esposo perfurado de balas e avermelhado de sangue naquele chão da estrada nacional número um. — Enquanto a minha voz perdia-se numa aflição berrante por um socorro, uma multidão ajuntava-se ao corpo e, naturalmente arrancava fotos em diferentes e inusitadas posições, sequer alguém se prontificou em prestar primeiros socorros. — Sociedade insana! - Comoveu-se a Guilhermina ao contar sobre a morte do seu marido.
— Patroa, imagino o quanto a senhora amava o patrão e, quero crer que foi uma das mais doidas perdas na sua vida. – Comentou Mauro abraçando a sua Senhora.
Guilhermina levantou-se lentamente, limpou as lágrimas que escorriam dos seus olhos e expôs:
— Tu não imaginas como salpiquei a minha blusa de tanto purificar as minhas lágrimas. — Experimentei uma morte dobrada do meu marido; uma ocasionada distraidamente por um cinzentinho, que usou balas de verdade para dominar aquela confusão de pessoas que reivindicavam a subida de preço de chapa, e outra morte, foi um tiro de ignorância dado por um bando de insensíveis que em vez de ajudar, transformaram aquele triste cenário, num festival de fotos para partilharem nas redes sociais.
Mauro segurou levemente as mãos da Guilhermina, olhou naquela mulher azarada de tristeza e tranquilizou-a mais uma vez, dizendo:
— Não chore por um homem que já se foi, Senhora! Todo mundo sabe que é árduo coabitar com o fantasma da injustiça e o drama de viver sem aquele que ontem, era um amor para eternidade, todavia, ainda pode ser feliz com outro homem.
Ela levantou-se da cadeira e furiosamente refutou as palavras do Mauro:
— Que homem? Erro seu pensar que ainda existe uma chance para mim! — Já tenho trinta e sete rugas de idade e custa-me aceitar que alguém se apaixone por uma viúva de olhos desnutridos, cabelos feito uma palha-d’aço, traseiros cansados e levados pelo tempo, lábios rachados que não sabem mais o conceito de beijo e com uma pele amarrotada e desprovida de juventude.
— Patroa, vezes sem conta ignoramos o perfume sentimental que exala bem perto de nós. Provavelmente o novo amor da sua vida esteja bem perto de ti e, a senhora esteja inibindo seu coração de provar esta fragrância de afecto? - Desenhando um sorriso incandescente em seu semblante, Mauro acrescentou! — E para o amor? Não existe chefia, raça, distância, religião e/ou idade, apenas existe o amor.
Guilhermina aproximou-se, segurou as mãos do Mauro e perguntou-lhe com uma voz gritante:
— Que perto, Mauro? Tu sabes melhor do que ninguém, que quem não tem marido aos trinta cinco anos, provavelmente se case com a solidão e morra sob o efeito do desprazer.
Profundamente em silêncio, Mauro aproximou-se e respondeu com jaz e convicção à sua patroa:
— E se eu afirmasse que sempre fui apaixonado por ti, Guilhermina? – Mauro ajoelhou-se à sua dona, que já se reavia com a cara toda coberta de espanto. — Se revelasse que nos meus sonhos só tem você pagando-me um salário de beijos e carinhos; que nas refeições que para ti confecciono, deito as minhas lágrimas de amor para temperar os nossos sentimentos; que depois de arrumar a sua cama, durmo despido imaginando nós dois fazendo besteira com as nossas frutas; que na página da minha vida, a senhora é o meu prefácio e quero-a que faça parte deste livro, casando-se comigo.
Boquiaberta e com os olhos acesos, Guilhermina afastou-se de Mauro e disse-lhe.

Leia o segundo Capitulo AQUI.


Autor: Meque Raul Samboco, 2017.


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Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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