A Revolta da Guilhermina – Capítulo VI


 A Revolta da Guilhermina – Capítulo VI
 A Revolta da Guilhermina – Capítulo VI

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Guilhermina caiu de joelho e perguntou chorando:

— Meu Deus dos céus, onde foi que falhei para merecer todo esse castigo? Que maldade cometi para sofrer tanto assim? - Levantou-se em direcção ao marido da Florência e implorou. — Por favor, diga-me onde está o meu Mauro?

O marido da Florência todo apreensivo em voltar ao quarto para terminar a sessão de vacinação, respondeu:

— Sai! Sai desse terreno que és nosso, tens muito abusado. – Olhou para sua esposa e disse. — Esposa, deixa esse mulher louco sozinho e vamos no quarto descansar. Nós nuvai dialogar onde estás Mauro. Sai daquis!

Guilhermina entrou em pânico ao perceber que a esperança de reencontrar o Mauro estava indo com o casal que acabara de expulsá-la da casa e, sem outra alternativa suplicou:

— Peço perdão por tudo que fiz! Enchi-me de desespero e parti para violência. Por favor, ajudem-me a encontrar o meu Mauro. - Enquanto isso, o casal fechava a porta da casa. — Por favor, não fechem a porta. Implorava a Guilhermina. — Olha, se me ajudarem a encontrar o Mauro, agradecerei dando quinhentos meticais e vou levá-los no meu Ranger Rover.

— Quinhentos o quê, amiga? Você disse o quê, minha amiga. - Questionou Florência enquanto reabria desesperadamente a porta da casa apertando os dedos da mão esquerda do marido, simplesmente para ouvir e perceber perfeitamente a proposta da Guilhermina.

— Eu disse quinhentos meticais. Se me ajudarem a encontrar o Mauro, vou agradecer com um valor de refresco e iremos do meu carro.

Florência olhou para o marido toda preocupada e questionou em voz diminuída.

— Marido, escutou bem isso que eu ouvi? Ela disse que vai agradecer com dinheiro de refresco. Não nos custa nada ir acompanhar ela até ao mercado de Xipamanine e ganhar esses quinhentos meticais numa sentada, pois não?

Com os dedos doendo e aflito para terminar a sessão de troca de fluidos orgânicos, olhou para seu ponto de fuga que se dilatava e respondeu:

— Esposa, você queres deixares-me assim por sobre de quinhentos meticais?

— Marido, bebe água e dorme que isso vai baixar. Sexo a gente faz todos dias, mas dinheiro não. – Olhou para Guilhermina e disse, — amiga, vou lhe acompanhar onde está o Mauro, não por causa dos quinhentos meticais, simplesmente porque percebo o sofrimento de uma mulher. Espera, deixa-me só vestir!

— Está bem! - Respondeu Guilhermina com coração rejuvenescido e recapitulado de esperança.

Cinco minutos depois, Florência já estava arranjada para acompanhar a Guilhermina.

— Amiga, desculpa pela demora. Estava tentado atrapalhar meu marido com umas cocegas sexuais, mas estou aqui. Como te chamas mesmo, amiga?

— Guilhermina e o seu nome?

— Aqui Florência, mas pode me chamar por Flor, pois me considero uma flor em pessoa. Amiga, tens um nome elegante e és chara de uma tia que morreu durante a luta armada de libertação nacional em mil e novecentos e oitenta? - Comentou Florência.

— Ham! Obrigada! Mas a guerra da luta armada terminou em mil novecentos e setenta e quatro. - Rectificou Guilhermina enquanto colocava o carro na estrada.

Florência permaneceu toda molhada de vergonha ao perceber que sua mentira fora desmantelada em três segundos. Virou para o assento de traz e reconheceu uma lata de refrigerante que estava num plástico amarelo.

— Ham, sim tem razão, amiga. Então amiga, esse refresco que está no plástico ainda precisas? É que estou com um pouco de sede.

— Preciso sim. Se estiver com sede, tem água aí ao lado desse plástico. Podes levar uma garrafinha e matar a sua sede. - Respondeu Guilhermina.

Sem o que comentar, Florência insisti:

— Ham! Vi água sim, amiga. Só que a sede que tenho é de refresco mesmo e, não me dou bem com água mineral. Posso levar esse refresco, amiga?

Sem opção e com medo que a Florência mudasse de ideia e decidisse não ajudar, Guilhermina viu-se obrigada a ceder o refrigerante.

— Claro, podes levar o refresco para matares a tua sede, Florência.

— Tu és a melhor amiga do mundo. Olha, amiga quando te chamei de desnaturada, não queria te ofender nem tampouco. Desnaturada na minha terra quer dizer uma pessoa que fala sem muita naturalidade, sabes nem? - Comentou Florência enquanto abria a lata de refresco.

Guilhermina permaneceu num silêncio, atenta ao volante e ansiosa para rever o Mauro. Enquanto isso, Florência engolia o refrigerante, que terminara num piscar de olhos.

— Amiga, abra um pouco a janela deste lado, quero deitar esta lata de refresco fora. – Solicitou a Florência.

— Nem pensar, leves esta lata e guardes na sua bolsa ou num plástico qualquer até chegarmos no mercado de Xipamanine e deitarás numa lata de lixo.- Retorquiu a Guilhermina.

— Mas Guilhermina, O Conselho Municipal tem a responsabilidade de recolher todo lixo que se encontra na cidade.

— Claro que tem essa responsabilidade, mas isso não nos dá o direito de ficar atirando lixo por aí em qualquer lugar. Nós temos também a responsabilidade de contribuir para uma cidade limpa deixando o lixo no lugar certo. Imagine só se atiras isso e acerta em alguém? - Salientou a Guilhermina.

— Sabe que não tinha pensado nisso. - Florência sorriu e comentou. — Pessoas ricas sabem muita coisa, sabe. Ainda bem que tu agora és minha amiga confiada.

— Nada disso, este é um saber de todos e não apenas de ricos. – Olha, já chegamos. Deixa-me só estacionar o carro num lugar adequando e que me facilite mais tarde. Tu sabes onde está essa barraca dele?

— Sei tudo. Não se preocupe amiga, tu vais sair daqui com o Maurinho. – Afirmou Florência enquanto descia seus pés do carro.

Depois de desbravarem os labirintos do mercado da Xipamanine, finalmente chegaram a barraca do Mauro e para a infelicidade da Guilhermina, eis que se depara com outra surpresa.



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Meque Raul Samboco, 2017
Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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