A Revolta da Guilhermina- II Capítulo |
Boquiaberta e com os olhos acesos, Guilhermina afastou-se do Mauro e
disse-lhe:
— Sinceramente, não esperava ouvir isso de ti, pois nunca demonstraste que
gostavas tanto de mim. – Guilhermina reaproximou-se do Mauro. — Pensado bem,
sabes o que mereces com isso tudo que disseste?
Mauro todo agitado e ladeado de sorriso, afiou seus lábios e apontou aos da
sua patroa respondendo-a:
— Não sei minha coisa linda! Segreda-me que também me ama, que sente o
cheiro do meu perfume natural em sua cama e fica toda insensata de desejo por
mim, diga que o meu sorriso encantador te deixa sem chão, confessa que pensa
sempre em mim e que está louquinha para saborear as minhas gotículas salivares.
— Tu mereces uma bofetada. - Guilhermina acendeu um tapa na face esquerda
do Mauro dizendo: —Seu estúpido e atrevido, desde quando te dei intimidades
para falar assim comigo? Quer dizer, resolvo desabafar sobre meu passado com
meu criado e, este parvamente decidi entrar até à minha calcinha? Filho da
Pu... que te pariu!
Estático e com as mãos tentando arrefecer o aquecimento global criado em
seu rosto pela bofetada atirada pela Guilhermina, Mauro respondeu com uma voz
baixa:
— Senhora, sempre quis dizer isso, infelizmente você nunca deixou que eu
exprimisse tudo que está dentro de mim. Você é a patroa mais linda do mundo e
igualmente perfeita aos meus olhos. Aceita namorar comigo, por favor?
— Porcaria!! Vá exprimir essas tuas coisas em casa dos seus pais e procures
alguém que esteja no mesmo nível que tu! – Guilhermina pegou no cabo de
vassoura que estava no canto da sala e apontou ao Mauro. — Senhor, arruma todos
teus trapos que estão aqui e nunca mais coloques seus pés sujos na minha casa.
Arah, achas que uma patroa pode casar com seu empregado? – Antes de Mauro abrir
a boca mais uma vez, Guilhermina grita novamente em seus ouvidos. — Fora da
minha mansão, além de sujo também és surdo e teimoso?
— Guilhermina, não faça isso com o homem da sua vida, deixa-me ficar
somente para trabalhar. – Pediu Mauro enquanto as suas lágrimas rolavam em seu
semblante. — Por favor, dá-me mais uma chance, Guilhermina.
— Não há emprego para imbecis! Rua daqui nojento, ou quer que eu chame meus
seguranças para te chutarem daqui. - Frisou Guilhermina com um tom de voz
ensurdecedor.
Com rosto carregado de lágrimas, coração apertado e ferido, Mauro foi
arrumar algumas coisas que costumava guardar num dos quartos da casa. Enquanto
isso, Guilhermina direcionava-se à cozinha. Carregou um copo cheio de água,
entornou algumas gotas na boca e murmurou para si mesma em voz alta:
— Onde já se viu, uma apresentadora de televisão, dona de duas lojas de
vestuários e proprietária do Ranger Rover azul mais comentado nas redes sociais
casar com um empregado coitado que saiu do campo e mal sabe vestir. - Sentou-se
e questionou-se mais uma vez. — E o que as pessoas vão pensar e dizer sobre
nós? Empregado atrevido!
Com seu plástico carregando dois pares de chinelos cheios de arrames e
pregos espreitando o plástico e uma camiseta que não se sabia a verdadeira cor
que habitualmente vestia para trabalhar, Mauro foi à cozinha e despediu-se da
Guilhermina perguntando:
— Guilhermina, tem certeza que quer que eu vá e nunca volte para esta casa?
Pense na nossa felicidade e, lembre-se que o ontem é uma história, o amanhã é
incerto e hoje está perdendo um amor da sua vida. – Guilhermina levantou-se e
despejou na cara do Mauro toda água que restara do copo dizendo:
— Vá seu desgraçado e se possível, morra sem emprego e desgraçado.
Mal-educado! Desapareça daqui!
Humilhado pela sua patroa por ter revelado que estava apaixonado, Mauro
abriu a porta da casa todo tristonho. E, quando estava prestes a abrir o portão
principal da casa, eis que a sua patroa grita pelo seu nome.
Meque Raul Samboco, 2017. Direitos reservados!