Leia o primeiro
capítulo desta novela AQUI.
Leia o segundo
capítulo desta novele AQUI.
A Revolta da Guilhermina - III
Capítulo
A Revolta da Guilhermina - III Capítulo |
Humilhado pela sua
patroa por ter revelado seus sentimentos, Mauro abriu a porta da casa todo
tristonho. E, quando estava prestes a abrir o portão principal da casa, eis que
a sua patroa grita pelo seu nome:
— Mauro! Tu estás a
brincar mal, sabes? Essas tuas cuecas que parecem vítimas de balas perdidas que
deixaste penduradas no meu estendal? É para o espírito do seu bisavô ficar a
vestir? É melhor levar esse lixo, antes que eu transforme isso em cinzas!
Com a mão esquerda
segurando a cintura, olhos cansados de derreter lágrimas, Mauro despejou um
olhar envelhecido para sua ex-patroa e respondeu:
— Faça aquilo que
desejar com as cuecas, não quero mais que meus os ouvidos sejam poluídos pelas
suas injurias, ver teus lábios pisoteando meus sinceros sentimentos. – Andando
Mauro afirmou. — Queime tudo que restou de mim, incluindo o amor que vive dentro
de si.
— Porcaria! -
Insultou Guilhermina e foi ao estendal da casa.
Levou todas as
coisas que Mauro esquecera, meteu num plástico preto e disse para si mesma:
— Pensando bem, não
vou queimar esse lixo, senão amanhã vem aqui dizer que queimei suas cuecas com
dois cheques de vinte mil meticais. Tenho certeza que virá buscar, pois são as
únicas que ele tem na vida.
Guilhermina
deitou-se na sua cama, mas não conseguia dormir pensando no que poderia
acontecer com Mauro em plena madrugada andando nas ruas perigosas de Maputo.
Rebolou tantas e tantas vezes, mas não conseguia enamorar um sono tranquilo.
Vinte minutos depois, levantou-se da cama, deixou seu orgulho do lado e mandou
uma mensagem para Mauro dizendo:
“Senhor, chegue
bem, assim que chegar em sua casa, por favor dá-me um sinal de vida, estou
preocupada.”
Por voltas das três
horas de madrugada, Mauro finalmente chegou em sua casa. Sentou-se na sua
esteira desfalcada de sorriso, retirou seu celular e, encontrou a mensagem da
Guilhermina. Quando terminou de ler, apenas respirou fundo e afirmou em voz
alta:
— Um dia você vai
me procurar, cedo ou tarde. Ainda ficarei muito famoso e rico com a música
moçambicana. Basta conseguir entrar na Bang e gravar uma música com meu
dinheiro.
No dia seguinte,
por volta das sete horas e algumas substâncias de tempo, Guilhermina
levantou-se e caminhou para banheiro e dá de cara com sua amiga Verónica
sentada na sua sala.
— Oi amor, tudo bem
contigo? Antes da Guilhermina responder, sua amiga justifica. — Amiga, os
seguranças deixaram-me entrar, como já sou quase da família. - Olhando a porta
da cozinha Verónica questiona. — Já tomou pequeno almoço, queria te fazer
companhia, amiga?
— Amiga, desculpa,
hoje não há mata-bicho e nem conversas. Estou sem cabeça para fofocas, seria
melhor guardar essas novidades para outro dia, suma daqui! - Disse Guilhermina
abrindo a porta dando sinal de saída para Verónica.
— Hii! Mor, que
maneira é essa de tratar uma amiga que amavelmente vem trazer as últimas
novidades no dia para si e fazer companhia agradável no café da manhã? Você
sabe quantas amigas aqui no bairro querem mata-bichar comigo? – Aproximando-se
da sua amiga Guilhermina. — Algum problema com os seus negócios, amiga?
Guilhermina pegou
na cabeça, fechou a porta, segurou as mãos na sua amiga e disse:
— Desculpa minha
amiga, nunca fui de responder assim para as pessoas. Senta-te aqui, vou contar
o que está a acontecer. - Sentando. — Amiga, estou muito chateado e
decepcionado com aquele marginal do Mauro, aquele desgraçado do meu empregado.
— Que fez? Roubou?
Fugiu com seu dinheiro? Não se preocupes amiga, conheço uma curandeira que não
falha, a Dra. Mbere, acaba de chegar Malawi, trabalha com pica no espelho, só
com uma picada no espelho, o ladrão vai trazer tudo que roubou de ti. – Disse
Verónica.
— Nada disso,
amiga. Apenas desrespeitou-me! Tu acreditas que aquele sem vergonha andou a
encher a boca para afirmar na minha cara que gostava de mim, pediu-me em
casamento e ainda tentou me beijar? - Contou Guilhermina.
— Heh! Mas tu estás
toda chateada só por causa disso, mor? E o que tu fizeste com isso tudo? –
Questionou Verónica.
— Dei um tapa bem
quente para ele aprender e insultei-lhe bem para nunca mais me ofender. Saiu
daqui com lágrimas nos olhos e acredito que ainda vai chorar por uma semana.
— Amiga, tu não
deverias ter feito isso com aquele rapaz bonito, meigo, doce e cheio de
respeito. Foste muito cruel ao dar um tapa nele e jogar palavras pejorativas,
simplesmente por dizer o que sente por ti. – Assegurou Verónica.
— Mas amiga, um
empregado mesmo? Questionou.
— E se for um
empregado doméstico? Empregados não se apaixonam? Não são seres humanos como
tu? O Mauro também tem sentimentos como qualquer ser humano. - Verónica
levantou-se da cadeira e disse. — Já pensou na possibilidade isso tudo for
verdade? E olha que amar alguém não é crime e nem é falta de respeito
demonstrar esse sentimento.
Guilhermina
inclinou a cabeça para baixo, ficou reflexiva durante alguns minutos e
respondeu com uma fala exaltada:
— Amiga, estás a
imaginar quando vizinhos e amigos perceberem que estou namorando com um
empregado e mais novo que eu? O que vão dizer sobre mim?
— Olha amiga! Neste
mundo, há tanta gente desocupada e sem assunto, e, sempre vão comentar de tudo,
mas isso não deve constituir uma preocupação para si. Aprenda a colocar a sua
felicidade em primeiro que aquilo que as pessoas vão pensar sobre si. Se
depender dos outros, tu morrerás na eterna depressão. Tu gostas dele?
— O quê?
Go-go-gos-tas-tarrr de-de-de quem? Não sei se gosto! Não me faças essas
perguntas difíceis. Não gosto daquele palhaço. - Respondeu Guilhermina
gaguejando e andando pela sala.
— Amiga, seu futuro
depende ti. Se tu gostas dele e ele gosta de ti, vá atrás da sua felicidade.
Sabe, procure o Mauro e peça desculpas, antes que ele encontre uma outra pessoa
e tu percas o homem da sua felicidade e lembre-se que um grande amor, não é uma
questão de sorte, um grande amor a gente cria e alimenta a cada dia das nossas
relações à dois. – Aproximando da Guilhermina. — Amiga, não estás com muita
fome, vamos tomar chá e irmos para os nossos afazeres.
Meque Raul Samboco.