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— O Mauro está aí? Gostaria de falar com
ele por alguns minutos.
A moça que atendera a Guilhermina
respondeu-a com um tom de voz agressiva enquanto apertava o lençol em seu corpo
para não cair.
— Deixa ver se os meus ouvidos escutaram
bem. Repete em voz alta e de forma lenta. Perguntaste por quem mesmo?
Aquela questão repleta de chuviscos
salivares, deixou a Guilhermina sem forças para levantar a sua língua e expelir
qualquer palavra. Segundos depois, ondas gigantescas de medo e desespero
espancavam fortemente seus neurónios deixando-a num silêncio entranhado.
— Senhora, perdeu a língua ou tem ouvidos
entupidos? - Aproximou-se da Guilhermina e olhando atentamente de baixo para
cima questionou. — Vai responder agora ou quer sair daqui em cinco segundos sem
vestido, brincos e sapatinhos?
Enquanto passava a mão direita na face
fingindo ter recebido uma picada, Guilhermina respondeu:
— Desculpa, é que fui picada por uma mosca
tsé-tsé e fiquei um pouco sonsa.
— Sua assassina de extintos sexuais! Sabes
quanto custa retirar alguém duma troca de fluidos orgânicos? – Guilhermina
tentou responder e foi golpeada com outra questão insalivada. — Fecha matraca,
tu tens a noção do perigo de fazer alguém renunciar um orgasmo agendado? Sabe
qual é o crime de cortar a energia libidinal de uma embriaga e morta de prazer?
Achas que é fácil reaquecer o um motor de calibre 50 de um homem após uma
parada brusca de ejaculação?
Guilhermina limpou os chuviscos na sua cara
e afastou-se dizendo:
— Mais uma vez, peço imensas desculpas,
minha senhora. Apenas queria falar algo importantíssimo com o meu ex-empregado
e, em nenhum momento tive a intenção de retirá-los do paraíso sexual.
Sem piedade alguma, Guilhermina foi cortada
outra vez com palavras duras.
— Sua desnaturada! Então és tu, que
despejaste o coitado do Mauro, e de bónus, entulhaste-o de palavras
insultuosas, simplesmente por ter revelado que te amava. – Guilhermina encolhia
o seu rosto enquanto ouvia aquelas verdades. — Fizeste-lhe chorar dias e noites
e hoje, tens a enorme coragem de procurá-lo para pisá-lo ainda mais?
Com a cabeça inclinada ao chão que se
traduzia num arrependimento profundo e de vergonha das suas acções do passado,
Guilhermina respondeu:
— Sim! Infelizmente sou a tal pessoa que
fez isso com ele. Mergulhei-me numa chuva de ignorância, fiz-lhe tomar um banho
de desprezo e despejei-o de forma desumana. Todavia, arrependi-me de tudo que
fiz e vim redimir-me de todo mal e quero que volte para mim. Acho que sou
apaixonada por ele.
— Acho que sou nhé, nhé, nhé por ele! Como
ainda tens a coragem encher a sua matraca para falar disso com maior
naturalidade. A Senhora merecia um banho de abelhas ferozes para picarem essa
sua cara feia e nunca mais voltar a fazer uma coisa dessa. – Com sorriso
sarcástico Florência informou. — Para seu azar e desprazer, a senhora perdeu o
Mauro faz tempo, está muito feliz e duvido que volte para si.
Guilhermina ficou gelada e seu rosto
começará a dizer poemas de tristezas ao ouvir que perdera o Mauro e, perdeu o
controlo de si pegando a Florência e abanou-lhe como se estivesse sacudindo um
saco de milho questionando:
— Como assim? Onde está o Mauro? É teu
namorado? Diga-me, sua vadia!
Florência agarrou os cabelos da Guilhermina
respondendo-a:
— Vadia é sua mãe que te pariu sem prazeres
sexuais, tire suas mãos nojentas de mim. - Puxa para cá e puxa para lá! — Está
me deixar nua, sua pu… de merda. Se eu me zangar, vou te fazer estragos.
Larga-me já, sua feia sem beleza.
Enquanto a Guilhermina tentava retirar o
lençol do corpo da adversaria, suas extensões foram puxadas com muita força e
ficaram nas mãos da Florência, deixando-a com a cabeçada toda desfigurada.
— Viste, destruíste os meus cabelos
importados do Brasil, sua bruxa. Sabe quanto custou isso? Vai conseguir pagar
isso?!– Lamentou Guilhermina com desespero e dor.
Puxando o lençol para cima do seu corpo,
Florência respondeu:
— E a senhora sabe quanto custa a minha
exposição dos órgãos genitais?
Naquele infinito bate-boca, eis que aparece
o marido da Florência para entender o porquê daquela troca de insultos e
gritaria. Sem camisa e com um ponto de fuga desenhando seus calções:
— O que estás acontecendo no meu casa. -
Olhando para Guilhermina. — Afinal você és quem que és que vens lutar-se na
minha terreno. – Retorquiu o marido da Florência com falas desregradas que
denunciavam a falta de intimidade com a língua portuguesa.
— Não é essa vadia que tentou me agredir na
minha própria casa e deixou-me nua. Será que ela não sabe que o Mauro
vendeu-nos o terreno e casa e foi-se embora. - Respondeu Florência enquanto
amarrava o lençol em seu corpo.
Guilhermina ficou congelada ao perceber que
lutara em vão e que o Mauro vendera a casa e partira para outro lugar. Não
conseguindo dizer sequer uma palavra, simplesmente caiu de joelhos e chorou
gritando.
Meque Raul Samboco, 2017!