Vidro Rasgado – Continuação
do Capítulo 3
Será que a "Operação vidro rasgado" teria sido a razão para o
afastamento do parceiro? Essa pergunta corroía o
pensamento do Quím.
- Essa reunião não começa?
A impaciência começava a se apoderar da Angelina, que não era uma boa
paciente e muito menos uma boa ‘’esperadora’’, não gostava de ficar pendurada a
espera de alguém, talvez porque bebera da rugosidade inglesa no que diz a
questão da disciplina horária.
Angelina também divagava no ermo dos seus pensares, acerca do encontro
relâmpago que tivera com Quím, no compartimento que armazenava os arquivos
processuais dos indivíduos que andavam à margem da lei.
De repente o silêncio vestiu aquela sala de conferências e os polícias
ficaram de pé num sinal de reverência ao indivíduo que ia entrando.
Quím e Angelina permaneciam colados aos assentos, pois estavam desconectados da
esfera física até serem programados pelo um colega:
- O delegado chegou. - Sussurrou.
Os dois levantam-se prontamente antes que recebessem uma sanção por tal
ultraje ao superior. Após se encontrar no pódio, delegado Nevinga ordenou que
os polícias tomassem os seus assentos e começou a palavrear:
- Saudações diurnas confrades, em primeiro rogo pela vossa misericórdia
pedindo perdão, pois não estava no meu cogitar agendar essa azafamada reunião
mas o contorno dos últimos acontecimentos nos obrigou a privar os nossos
afazeres para aqui estarmos. É sabido por vós que a lei é algo que não é
transgredido a olhos vistos da autoridade e o transgressor fica impune, é
sabido que a norma jurídica foi feita para disciplinar os indivíduos queiram
sim ou não, ela está para responsabilizar os indivíduos que perturbam a ordem e
tranquilidade públicas... - Deu uma pausa para humedecer
o discurso com o líquido vital.
O discurso do delegado aborrecera os presentes, pois ele estava a dar
muitas voltas se esquecendo que os polícias tinham metas por cumprir.
- Mas pensa que estamos
aonde? - A pergunta saiu em meio ao bocejo na voz
da Angelina que perdera a paciência de estar ali.
- No comício presidencial. - Sussurrou Quím.
O delegado voltou a sua balbúrdia discursiva:
- Como dizia, a norma jurídica está para sancionar os rebeldes que
recusam viver num ambiente social harmónico. Os prevaricadores da norma
jurídica, a olham como uma regra desnecessária para disciplinar a sociedade, a olham
com os olhos da indisciplina como sinónimo de rebeldia, pois é, já dizia um
grande pensador: "toda acção tem uma reacção", e Zé foi atingido por
esse pensamento, as suas acções ditaram seu afastamento da corporação, digo e
repito "afastamento" como um método disciplinar. As férias para ele
chegaram cego.
- Delegado qual foi a transgressão
por ele cometida para sofrer esse "método disciplinar"? - A
indagação não quis calar na voz do Quím.
- Pois bem... - Começou e pausou para humedecer os vocábulos e prosseguiu: - É sabido por todos que esta instituição tem
normas a serem cumpridas e o policia Zé, passou por cima delas como se não as
conhecesse... Destruiu as provas de uma relevante e delicada investigação que
estamos levando a cabo.
- Mas que investigação é
essa que não tenho conhecimento?
- Amaine os nervos Quím, a
investigação que está em andamento como havia dito é muito relevante e
delicada, não podíamos espalha-la á quatro ventos antes de termos provas
concretas, mas está em sigilo profissional. Nominalizamos a investigação de "Operação vidro rasgado", na
qual estamos a investigar os homicídios e ameaças que muitos dirigentes do
corpo governativo estão a sofrer e...
O discurso do Nevinga foi limitado pela Angelina que hasteava sua mão
direita ao ar e começou a palavrear:
- Perdoem-me por cortar a
sua fala delegado, mas algo me impede de continuar silenciosa... Não seria
ético essa investigação estar nas mãos da PGR? Ou numa outra instituição...?
- Entendo a tua preocupação, mas a
senhora se esqueceu que nós somos um ramo da PGR, essa investigação foi
incumbida a nós...
- Como foi incumbida á nós
se não tínhamos o conhecimento do mesmo até então? -
A pergunta nascera na voz do polícia Jorpa, alcunhado "Senhor
Questão" por causa das suas perguntas que deixava muitas pessoas contra
parede.
- Como havia dito, a
investigação estava em sigilo profissional até o nosso
"companheiroZé" meter os pés pelas mãos e paralisar o andamento da
investigação quando quis se fazer dum agente duplo.
As palavras do Nevinga não entravam na consciência da Angelina e muito
menos na do Quím, que se olhavam abanando a cabeça negativamente.
- "Algo de errado não está certo". - Cogitava Quím.
E delegado continuava nos seus discursos como se estivesse numa campanha
eleitoral conquistando o sufrágio dos cidadãos. Palavreou até dar por terminada
a reunião.
Os polícias saíram daquela sala um pouco sonolentos e com muitas indagações
corroíndo suas mentes, pois a maioria não tinha acreditado no discurso
falacioso do delegado, principalmente o Quím que não se conformava com a
dispensa repentina do parceiro.
- "Algo de errado não está certo!" - Cogitou novamente.
Autor: Arnaldo Tembe