Vidro Rasgado - Capítulo 3
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Enquanto isso, Quím procurava
respostas para suas indagações vasculhando os arquivos da instituição como um
louco, virava e revirava tudo na expectativa de algo encontrar.
Passando alguns minutos da sua
incansável procura, avistou um envelope que estava escondido entre os processos
empoeirados na estante dos processos lavrados e solucionados com sucesso. Antes
de tirar o achado do esconderijo, olhou ao seu redor para certificar-se que
ninguém estava o espiando. A certificação fora positiva, tirou o achado do seu
conforto e o escondeu debaixo da sua camiseta preta, apressado saiu do local na
tentativa de não ser pego, pois estava fazer algo ilegal, entrar naquela sala
sem autorização dos seus superiores.
Ao sair da sala, tentando trancar a porta
do compartimento, Quím sentiu uma mão lhe tocando o ombro e uma voz ganhou vida
na sua consciência: estás fudido!
Seus pés tremiam suas mãos
também, o líquido salgado começou a transparecer na sua epiderme encharcando o
luto da sua camiseta, o seu maior medo era aquele líquido molhar o documento
que escondia.
- O que fazes aqui? - A pergunta não quis calar.
Quím relaxou os ombros ao
constatar que aquela voz era da Angelina, temia que fosse do delegado ou de
qualquer um que ocupava uma posição superior a sua.
Angelina era uma mulher alta
de um metro e muitos centímetros, de olhos cor da nocturna solidão, cabelos até
o nível do queixo, por causa das suas roupas muito formais, o seu estilo
característico era comparado com o de uma secretária. Ela também era polícia,
porém trabalhava no departamento diferente com o do Quím. Ele estava no
departamento de investigação criminal e ela no de análises de substâncias
químicas (para não dizer laboratório).
- Estava procura do processo de um caso pendente. - Respondeu inseguro.
Angelina olhou-o não
convencida com a resposta que dera, pois sabia que o seu interlocutor estava a
mentir, a mentira estava exposta nos seus traços faciais, olhos revirados
constantemente, lábios trémulos e suor incessante.
- Mentes mal, não tens vergonha?
- O meu trabalho não é convencê-la do contrário.
- Os teus superiores sabem que tens feito trabalho por
conta própria?
Aquela indagação soou a ameaça
aos ouvidos do Quím, que depois de ter perdido seu companheiro já não confiava
em ninguém naquela esquadra.
- É uma ameaça?
- Não faria tal ultraje!
O coração do Quím relaxou meio
receoso, pois sabia que a esquadra era um reino repleto de lobos camuflados em
pele de ovelhas, um reino infestado de sanguinários que escondiam suas garras
para atacar a presa no momento oportuno em que menos espera.
Angelina insistiu em pisar na
tecla da questão que fizera.
- Afinal o que fazes aqui?
- Não vais entender! - Quím repetiu as palavras que ouvira
do companheiro.
Os olhos da sua interlocutora
vestiram uma autoridade fulminante como se quisesse o intimidar, e Quím acabou
se abrindo.
- Está bem, vou ti contar o que está acontecendo, mas
aqui não é o local ideal. Nos encontramos no estacionamento depois do expediente.
- Não me venha com suas histórias Quím!
- Não são histórias Lina, o assunto é muito complicado do
que pensas.
Aqueles vocábulos gelaram o
âmago da Lina que aos poucos ia entendendo que o assunto era muito sério do que
imaginava. Pensava que ele estivera nas brincadeiras que sempre fizera, mas ao
ver o semblante do confrade a consciência lhe deu um duro golpe á chamando a
razão.
- Então nos encontramos depois do expediente agora o
tempo me é escasso, tenho relatórios por fazer.
Disse tais palavras Angelina,
enquanto caminhava rumo ao departamento que tinha como local do trabalho. Quím
respirou aliviado e também tomou seu rumo em direcção ao seu gabinete. Chegado
no mesmo, trancou a porta e tirou os documentos que tinha os escondidos debaixo da camiseta. Inspeccionou o
envelope que estava identificado pelos escritos "Operação vidro rasgado". Estranhou o nome,
mas a curiosidade era tanta por descobrir o que estava contido pelo envelope.
Tirou o conteúdo, um calhamaço de papéis, um disco Cd e uma câmera fotográfica.
Quando se preparava para ler os documentos, alguém agredia a porta do seu
gabinete pedindo licença.
- Caraças! - Cogitou sentido o peso dos
vocábulos na consciência.
Quím permaneceu silencioso
ignorando o indivíduo que agredia a porta, pois não queria ser incomodado,
queria descobrir a verdade com sozinho. Mas o indivíduo na porta era
insistente, permanecia agredindo aquele objecto aumentando a impaciência do
Quím.
- Sei que estás aí. - O indivíduo afirmou.
- Deixa-me em
paz. - Dizia Quím em seus pensamentos.
- Não me obrigue a violar a
porta.
Levantou-se do seu aconchego
muito frustrado, destrancou a porta com o rosto enraivecido, olhou para o
indivíduo e perguntou:
- O que queres de mim?
- A tua rubrica. - Afirmou o indivíduo apontando com a
esferográfica para o canto direito e superior dos papéis que trazia em mãos.
Quím olhou o indivíduo com
desdém e muito chateado, pegou na esferográfica que o fora entregue e rubricou
o documento, depois pegou o indivíduo pelo ombro virou-o como se o obrigasse a
caminhar e fechou a porta voltando para o seu aconchego. Antes que se
acomodasse, a porta foi agredida novamente e a maçaneta foi rodada, o indivíduo
retornara. Sentiu-se na autonomia de ordenar seu semblante invadir o espaço
daquele que o tinha como seu chefe.
- Não te esqueça da reunião. - Afirmou o indivíduo e voltou as
suas tarefas.
- Porras, a reunião!
Quím tinha se esquecido da
reunião que fora agendado para aquela tarde. O seu dia estava muito conturbado
que acabou se esquecido do compromisso. Voltou a introduzir os documentos no
envelope para preparar-se a tal reunião agendada com urgência. Guardou o
envelope na gaveta da sua mesa, levantou-se e caminhou até a janela que tinha
vista para o estacionamento, viu o automóvel do seu comparsa, sem saber que o
parceiro já não estava ali se questionou:
- O que o Zé ainda faz aqui?
Pensou ir ao encontro do
parceiro mas o indivíduo entrara no gabinete para informar que a reunião já
estava prestes a começar. Descartou o pensamento de ir ao encontro do parceiro
e seguiu cegamente o indivíduo.
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Já na sala de conferências, os
colegas se entreolhavam procurando a razão daquela reunião relâmpago. Os rostos
estavam morrendo de ansiedade que não era contida pelos olhos que se perdiam na
incerteza testemunhada pelas suas consciências. Quím estava sentado ao lado
daquela que no outrora não muito distante, despertara sentires em seu coração.
Angelina olhava para o Quím desconfiada e não conseguiu guardar a pergunta que
lhe corroía o pensar:
- Não sabes que agenda vai-se tratar nessa reunião?
- "Só sei
que nada sei". - Recitou o célebre pensamento do filósofo Sócrates.
- E eu sei que "
algo sabes", deixa de enigmatizar o sabido.
- Se sabes porquê me perguntas?
Angelina convocou o silêncio
para aprisionar seu discurso, não queria dar vida a uma balbúrdia desnecessária
e não queria criar um índole distorcido acerca da sua pessoa. Enquanto isso, o
pensamento do Quím ainda divagava em torno do envelope achado, aquilo não lhe
saía da mente. O seu novo desafio profissional era descobrir a verdade
escondida naquele envelope. Será que
a "Operação vidro rasgado"teria sido a razão para o afastamento do
parceiro? Essa pergunta corroía o pensamento do Quím.
Autor: Arnaldo Tembe