A Revolta da Guilhermina - Capítulo XIII |
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"5 ANOS DEPOIS"
Juro que, mesmo os ditos Deuses dos sentimentos temeriam aquela confiança
amorosa que brotara de forma súbita naquele casal. Era tanta esperança
entrelaçada de beijos, abraços, juras de amor e a incansável troca de fluidos
orgânicos em todos turnos e ângulos da casa, sem se obedecer qualquer preceito
da dignidade humana.
Aliás, foram estas coisas que levaram a Guilhermina a deixar sua luxuosa
casa por alguns dias para ir à Manjacaze lobolar o Mauro.
Ela só foi lobolar aquele rapaz por conta do respeito pelo espírito do tio
Madeira que falava frequentemente com o Mauro nos seus sonhos avisando que, se
este não fosse lobolado, aquele casamento seria amaldiçoado e, seu filho,
Salvamor de quatro anitos, teria problemas psicológicos quando crescesse.
Após o tão esperado casamento que foi realizado à porta fechada e sem
muitos convidados, Mauro sugeriu a sua amada que largassem tudo e fossem morar
em Pretoria, na África do Sul, alegando que em Moçambique havia tantos
invejosos e, com certeza iriam mandar feitiços para eles.
Mesmo morando doutro lado da fronteira, Guilhermina costumava com muita
frequência voltar à Moçambique para ver seus negócios e visitar a família e sua
amiga confiada, a Verónica.
Numa tarde de verão, sol intenso e com o céu divorciado de nuvens, quando a
Guilhermina visitava sua melhor amiga, Verónica pediu para que a acompanhasse
até ao mercado de Xipamanine e ajudasse nas suas compras com seu carro.
Quando se encontravam naquele mercado, Guilhermina pediu para que sua amiga
adiantasse com as compras no seu carro, pois queria ver se a antiga barraca do
seu marido sofrera algumas mudanças depois de tanto tempo.
— Desculpa, a senhora perdeu alguma coisa por aqui? - Questionou o actual
dono da antiga barraca do Mauro ao perceber-se que alguém estava olhando
atentamente a sua barraca.
— Nada, amigo, estava apenas prezando esta barraca. Ela pertencia ao meu
esposo e, vendia bebidas alcoólicas. - Explicou Guilhermina num sorriso cheio
de vida.
Do outro lado daquela barraca, estava um jovem magro vestido de umas calças
jeans velhas, uma camisa repleta de furos e calçava nos seus pés uns chinelos que clamavam um eterno descanso que, ao
ouvir o nome do seu amigo Mauro interrompeu a conversa questionando:
— Ola ! Desculpa, acho que conheço a senhora de algum lugar. Se a memória
visual não me induz ao erro, a senhora deve ser a famosa Guilhermina, a
ex-patroa do meu falecido amigo Mauro, estou a mentir?
Quando Guilhermina olhou para aquele jovem que carregava consigo um
cigarrito na ponta dos dedos com as chamas abraçando o filtro, imediatamente
teve a impressão de se tratar de alguém que conhecia bem seu marido.
— Mentiu, não sou a ex-patroa, mas sim, a esposa dele, casados há cinco
anos, com um filho de quatro anos e moramos juntos na South. E você? – Olhando
de baixo para cima, Guilhermina pergunta. — Deve ser o tal desgraçado de
Milagre, acertei?
— Errou, pois não sou desgraçado, mas sim, alguém que por muito tempo acreditou
que o seu melhor amigo estava enterrado numa vala comum. – Milagre pegou o
queixo e questionou serenamente. — Como esse sacana pode estar vivo? Ele foi
capaz de inverter o nosso plano mentindo para mim durante todo esse tempo?
Imediatamente uma avalanche de curiosidade sugou a Guilhermina e esta
retorquiu soltando um arsenal de questões carregados de ansiedade:
— Não chame de ladrão meu esposo e pai do meu filho. E que historia é essa
de mentir para ti?
Com os olhos escorrendo lágrimas, Milagre inclinou-se e respondeu:
—Traçarmos um plano milionário e, o combinado era metade para cada um,
pelos vistos, ele se deu bem e não me disse nada. Acredito que até terminou o
seu namoro com a pobre Leloca que estava grávida dele, só para usufruir tudo
sozinho.
Guilhermina ficou atordoada ao lembrar que seu marido implorou todos os
dias para que levasse sua ex-compradora de calcinhas e seu filho para trabalhar
como empregada doméstica na sua nova casa, alegando que estava grávida e o pai
não assumiria o filho. Esta levanta e questiona:
— Espera aí, a Leloca que você está falando, não é aquela moça magra, alta
e um pouco clarinha que comprava calcinhas com Mauro?
— Calcinhas? Mauro nunca vendeu calcinhas na vida. A única coisa que tinha
na sua barraca era bebida alcoólica e, esta tal de Leloca, é uma jovem cantora
que conhecemos no estúdio de música e ficou grávida dele. A senhora conheceu
esta tal barraca de calcinhas?
Imediatamente a Guilhermina começou a transpirar de forma estranha e
lágrimas escorriam nos seus olhos sem piedade:
— Milagre, meu amigo. Posso dar-te tudo que você quiser se me contar mais
coisas que sabe – Pediu Guilhermina de joelhos.
Ao perceber que o chão daquela senhora estava prestes a desabar ao ouvir
aquelas informações drásticas, Milagre viu-se na certeza, de que chegara a hora
certa de se vingar do seu amigo.
Meque Raul Samboco, 2017
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