A Revolta da Guilhermina - IV capítulo |
Verónica aproximou-se da Guilhermina e
disse-lhe:
— Amiga, não estás com muita fome, vamos
tomar o pequeno almoço e irmos aos nossos afazeres?
— Vamos, querida! Porém, estou sem vontade
de espraiar-me pelas ruas de Maputo, apetece-me unicamente permanecer estendida
na cama e pensar na vida. Sinto um enorme aperto dentro de mim e que me deixa
simplesmente cogitada! – Retrucou Guilhermina.
— Amor, sinceramente, nunca entendi esta
sua capacidade impressionante de me tirar palavras da boca. Acreditas que
também queria dizer que também estou sem vontade de sair e andar por essas
bandas de Maputo? Olha, se tu quiseres, posso te fazer companhia até a hora do
jantar conversando sobre homens, pois tu sabes que não é fácil entendê-los
sozinha. – Comentou Verónica com um sorriso nos lábios.
Antes de entornar o seu copo de chá à
garganta, Guilhermina salientou:
— Amiga, tu sabes que podes ficar nesta
casa até a hora que desejares, aqui também é sua casa, não é? Afinal tu estás
todos dias aqui e não vejo o porquê de tanta preocupação com isso. Fiques,
amiga!
— Brincadeira amigona, na verdade, já sabia
da resposta. Amiguça do coração, como ficarei conversando até ao jantar, posso
adiantar retirar dois frangos do congelador? Tu sabes que frangos demoram muito
para descongelar e podemos atrasar o almoço. - Questionou Verónica enquanto
abria o congelador sem uma previa permissão.
— Podes sim. Mas antes, fale-me só uma
coisa, Amiguça. – Olhando para Verónica Guilhermina questiona. — Essa ideia de
procurar o Mauro e pedir-lhe desculpas será que vai prestar mesmo? É que
durante a madrugada mandei-lhe mensagem pedindo para que me informasse assim
que chegasse em sua casa e, simplesmente ficou num silêncio devastador.
Com um tom de voz simplista, Verónica
respondeu:
— Claramente que ele ficou triste e
chateado com tudo que disseste. Amor, ninguém ficaria feliz com aquela tamanha
humilhação que depositaste na conta íntima dele. Olha, fiques tranquila, estou
aqui para ajudar-te a sair desta saia-justa e, tu sabes que sou especialista
infalível e internacional na área pedidos de desculpas e resgate sentimental.
— Sei, mas como faço para ter o Mauro de
volta? Estou deveras preocupada e arrependida por tudo que fiz e falei para
ele. - Interrogou Guilhermina num tom de desespero.
— Agora sim, está demostrando maturidade
feminina, que está arrependida da tamanha vergonha que cometeu e que realmente
gosta do Mauro. Esta é a Guilhermina que conheço. - Disse Verónica num tom de
voz sarcástico.
Guilhermina levantou-se irritada e
retorquiu:
— Amiga, não me irrita, ouviu? Vou jogar
esse chá na sua cara. E se gostar? Qual é o problema? Também nã – nã - não
gosto de – de - dele coisíssima nenhuma. Apenas quero lhe pedir desculpas por
tudo que fiz e, devolver-lhe o seu emprego, talvez seja a sua única fonte de
sobrevivência. - Apontando com o dedo indicador à Verónica, ressaltou. — E
foste tu que disseste há bem pouco tempo que aquilo que fiz é errado, então,
deixa-me pedir desculpas.
Verónica pôs-se numa sucessão de gralhada e
respondeu sarcasticamente:
— Ela está apaixonada! Olha, meu amor,
fiques sossegada e senta-te aqui para dar-te as dicas mais preciosas do universo.
- Convidou a Guilhermina para sentar-se perto de si, enquanto espalhava-se numa
escondida e lenta gargalhada.
Quase impaciente e ansiosa, Guilhermina
afinou os seus ouvidos e pôs-se atentamente a receber as dicas da sua melhor
amiga, que só terminou, por volta das vinte e duas horas e alguns minutos.
— Amiga, falei demais e já está tarde para
mim, preciso ir para casa. – Disse Verónica enquanto preparava-se e questionou
a Verónica. — Entendeu tudo, amor? Agora está tudo em suas mãos e, amanhã
passarei por aqui às treze horas quando sair da Igreja para conversar contigo e
saber como estás.
— Muito obrigada amiga pela companhia e
pelos seus maravilhosos conselhos. Tu chegaste na hora certa. - Guilhermina deu
um abraço forte na sua amiga dizendo: — Sabes eu não conhecia essa tua outra
parte tão impressionante e sábia.
— Não precisa agradecer minha amiga, pois
fiz aquilo que todas amigas devem fazer com as suas amigas! Aprendi com a minha
mãe que nunca devemos deixar as nossas amigas caírem no abismo enquanto
tivermos a oportunidade de ajudá-las. - Salientou Verónica.
— Mais uma vez, obrigado pela ajuda, amiga.
Adeus e até amanhã. - Despediu Guilhermina.
— Amor, falando nessas coisas de ajudar.
Essa comida que vi na geleira, não vai estragar-se até amanhã? Ouvi que a
Eletricidade de Moçambique fará limpeza nos seus postos de transformação de
energia e ficaremos sem energia das oito às catorze horas de amanhã. Deixa-me
levar para dar meus filhos comerem.
— Podes levar amiga, mas por favor, essas
tigelas são caríssimas e estou a pedir devolver-me amanhã quando voltares da
Igreja, pois na sua casa já tem mais de trinta tigelas minhas.
Verónica saiu da casa da Guilhermina toda
feliz, saciada e com uma refeição garantida para dar aos seus filhos, enquanto
a Guilhermina voltava aos pensamentos de tristeza.
Durante três semanas, Guilhermina mal
conseguia dormir de tanta ansiedade de ver o dia amanhecer e chegar a hora
certa que a Verónica sugeriu para que procurasse o Mauro e pedisse-lhe
desculpas.
E finalmente chegou aquela tão esperada
tarde solística de sábado de quatro de agosto. O dia agendado para encontrar o
Mauro e pedir-lhe desculpas.
Antes de sair de casa, Guilhermina modelou
seus cabelos de forma apaixonante, vestiu seu corpo com aquele vestido vermelho
que carregam alguns detalhes extravagantes que acabara de importar da Itália,
calçou seus sapatinhos confiados que davam um brilho negro invejável aos seus
pés e deixou a sua cara entoalhada de maquiagem.
Por volta das quinze horas e alguns
estilhaços de minutos, viam-se marcas dos pneus do Ranger Rover da Guilhermina
entrando no quintal da casa do Mauro. Quando chegou a casa do Mauro, encontrou
a porta fechada. Fez uma oração bem rápida antes de bater a porta e respirou
fundo.
— Com licença! Com licença. - Pediu
Guilhermina enquanto batia a porta.
E quando pretendia solicitar licença pela
terceira vez, eis que uma mulher com a cara toda transpirada, cabelos
desfazidos, pés descalços, cheios de chupões no pescoço e cobrindo seu corpo
com um lençol branco, abriu-lhe a porta e perguntou:
— Sim? Posso ajudar?
Guilhermina ficou dez minutos congelada,
coração derretendo por completo, lágrimas espreitando pelos seus olhos e
questionando para si. “Quem essa vadia?” Guilhermina tomou coragem e respondeu:
— O Mauro está aí? Gostaria de falar com
ele por alguns minutos.
A moça que atendera a Guilhermina
respondeu-a com um tom de voz agressiva enquanto apertava o lençol em seu corpo
para não cair.
— Deixa ver se os meus ouvidos escutaram
bem. Repete em voz alta e de forma lenta. Perguntaste por quem mesmo?