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Ashiro e Tristam olharam-se compenetradamente. Um vento suave impunha atenção. A temperatura mudara bruscamente. O céu tingia-se de negras nuvens como se anunciasse maus presságios. Um vento batia sobre a copa das árvores e pequenos arbustos murmuravam uma sonata mais metafísica que as do próprio Beethoven. E o vazio tomou conta de forma repentina do vilarejo.
Eram cinco da tarde e já ninguém passava pela rua. Seria pelo prenúncio da tempestade? Ou se calhar, a presença dos estranhos visitantes? Um cachorro ao longe ladrava obstinadamente. O seu latido era impiedosamente abafado pelo vento e o cantarolar da bicharada que se recolhia às suas tocas e ninhos. E à medida que o tempo fazia seu trabalho o vento se tornava mais intenso; janelas, portas, folhas sobre o chão de terra batida criavam uma música estranha que era acompanhada por sons de uma típica tarde perdendo vida.
— Então Tristan, por que não faz uma pequena demonstração do seu nível de poder? Estamos ansiosos por ver as famosas técnicas do mestre.
— Eu não luto sem causa. - A resposta saiu curta e firme da boca de Tristan, o que não agradou muito àquele estranho visitante.
— Oh! A sério!? Hey rapazes, vocês ouviram isso? Ele não luta sem causa.
Ashiro e sua escolta gargalhavam maliciosamente quando ribombou o primeiro trovão seguido de um exército de nuvens negras que subjugavam lentamente o céu por completo, mergulhando tudo às trevas.
— O que estão esperando idiotas? Dêem-lhe uma causa!
Os cabelos de Ashiro eram negros, mas apenas alguns fios espreitavam obstinadamente para fora do capucho caindo-lhe sobre a testa. Seus pequenos e profundos olhos eram como o próprio reflexo da crueldade. Seus trajes eram de tudo estranhos. Um Sobretudo preto acompanhado de uma capa que ostentava por detrás o bordado de um estranho brasão: uma cobra dourada ornada com dois olhos de rubis e dentes de esmeralda.
— Você está perdendo seu tempo. Eu já disse que não luto sem…
De repente ou mais rápido que isso, um primeiro pontapé atingiu Tristan em cheio no rosto antes mesmo que tivesse completado a frase. E mais outro, e outro, e outro. Tristan tentava defender-se, mas os homens de Ashiro eram sombras que apareciam e desapareciam quando lhes convinha. Talvez fosse ilusão de óptica. O certo é que Tristan tombou desnorteado, quase que desfalecido, sem ter conseguido defender um único golpe. Ashiro do outro assistia a cena com satisfação cruel que lhe era comum.
— Quer saber? Talvez nós tenhamo-nos enganado. Não é nem de longe possível que um rapaz fracote assim seja o Sétimo Homem. Tenho de confessar que Isso já começa a perder a graça e a fartar-me. Talvez essa história toda do Sétimo Homem não passe de uma lenda estúpida fruto da imaginação de um monge maluco qualquer, ou de um velho ousado para entreter seus netos a volta da fogueira.
Disto isto, seguiu-se um suspiro de um pesar irónico e Ashiro ordenou:
— Khiubaldo, Kijim, Kaim iniciem o protocolo. Destruam a vila, matem qualquer coisa que respire e asteiem a bandeira do Clã Invisível. Kevin, controle o portão principal e garanta que ninguém escape. Em breve com ou sem o Sétimo homem seremos nós os donos do mundo.
— E as mulheres e crianças, chefe? O que fazemos com elas? - Perguntou Kaim, o mais jovem da escolta.
— Qual é a parte do mate tudo que você não entendeu Kaim? Estou pouco me lixando para a faixa etária. Além do mais, se vai matar os pais mate toda sua descendência e evite problemas futuros de ajuste de contas. Quero todos, aliás, quero tudo morto. Não quero nem um insecto respirando.
Preparando-se para cumprir a ordem, seguido de Kijim e Kaim, Khiubaldo foi atingido por uma fulminante e intensa luz que o deixou estatelado e momentaneamente cego. Era decerto uma Guezi-ball. Uma técnica milenar que consistia em quatro pilares: meditação, concentração e manipulação de energia através da combinação imaginária de padrões geométricos e o seu redirecionamento através de gestos específicos com as mão ou braços a que chamavam Vhóku.
Cada gesto era a finalização de padrões geométricos, como que a chave que criava um tipo de energia ligada à uma das sete dimensões do universo. No entanto, nem toda energia usada era igual, existiam no universo vários tipos de energia, mas no geral eram divididas e classificadas em duas. Uma era conhecida como Energia-santa, usada e difundida por monges. A outra era a Energia-escura, seu poder destrutivo era absurdo e criou muitas vezes instabilidade nos seus usuários tendo levado, no passado, o mundo por várias vezes a eventos escatológicos, de tal modo que o seu uso foi estritamente proibido. Todos os arquivos sobre meios de como adquiri-la e usá-la foram destruídos há milhões de anos, ou ao menos foi o que se pensou.
Enquanto Khiubaldo estava estatelado por conta do ataque relâmpago, mais duas Guezi-ball’s atingiram seus companheiros que foram arremessados contra as paredes de um celeiro provocando um grande estrondo que ecoou por toda vila. Com os olhos semi-serrados Khiubaldo tentava descobrir quem era o autor do ataque e uma surpresa...
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