Rockfellers - um voar libertador

 

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O céu sempre fascinou o olhar humano, sempre coloriu os sentimentos do Homem! Na verdade, o céu sempre foi um espaço confortante, talvez por ser o lugar que abriga o Todo-Poderoso, e por isso o Homem sempre desejou viver lá. Várias foram ou são as tentativas que desperta(ra)m um sentimento de pertença ao Homem no que diz respeito ao espaço celestial. Caso notável foi a construção do “pássaro de metal” e outras engenhocas que sobrevoam a estratosfera. Na verdade, o céu sempre foi um cenário excelente para a inspiração do Homem, principalmente para os artistas quando o mundo não lhes compreende.

Segundo alguns autores, a produção artística, por natureza, é solitária, talvez seja por isso que algumas obras levam muito tempo para serem entendidas, outras são um retrato perfeito das emoções que são ou foram carregadas pelos artistas, e o manto celestial tem servido de terapeuta para amainar o misto de sentimentos confusos; isso pode ser notado na composição “voar” de uma das bandas de rock de todos os tempos da Pérola do Índico, Rockfellers. Esta banda marcou o início do movimento rock em Moçambique, e é considerada a progenitora do rock na terra do Machel.

“Voar”, é uma música que expele o desânimo e desatino de um ente cansado de carregar o fardo da vida, com destaque aos dissabores que perfazem a vida laboral. Num tom de voz lamuriosa e encarnando a personagem principal do enredo, Xavier Machiana nos conduz nas entrelinhas da composição que se despedaça na vontade de um ente que anseia cruzar o céu para se livrar do calvário da labuta. “Dia após dia, sempre mesma via, do trabalho para casa, voltar sem nada”, assim alvorece a fala do protagonista acoplando-se a harmonia aprazível ao ouvido criado pelos restantes membros da banda. A música faz-se no campo harmónico de D (Ré maior) fragmentando-se no vio, IVo, Vo e iio graus. O bass player embora esteja numa harmonização que nos dias actuais seria considerado simplista, o seu touch dá um encanto fascinante em toda extensão da música consolidando um matrimónio perfeito com o drummer; essa dupla preparou uma cama nupcial para as soladas garbosas do guitarrista que mostra a sua mestria quando o assunto é despertar a alma do seu instrumento.

“Sempre a suar, sempre a sonhar em um dia voar e outra vida levar”, o desalento do personagem se atenua no ensejo que brota do seu íntimo, buscar um cantinho para repousar a sua tristeza, mostrando que mesmo em meio ao desalento a alma nunca se despe de buscar encantos que possam despertar o brilho dos olhos. “Sempre a chorar, sempre a sonhar”, Machiana mostra-nos  que, independentemente das circunstâncias que a vida nos oferece, o sonho nunca deve morrer, devemos buscar o horizonte mesmo que os pés se revelem desanimados, porque só no final da jornada compreendemos nitidamente o valor dos sacrifícios. O personagem vai relatando as tristezas que lhe sobrecarregam o íntimo, mas o desejo de cruzar o céu em busca do seu oásis se grafita no coro da música: “quero voar, quero mudar, aqui o tempo está passar e eu estou a ficar”, revelando o encanto que o céu desenha nos olhos e no coração do Homem. Apesar do desejo que o protagonista carrega, em contrapartida ressalta a presença do inimigo que tem acorrentado (para não dizer assassinar) os sonhos do animal racional, o tempo. A “medida da duração dos seres” tem sido uma barreira difícil de ultrapassar quando o assunto é metamorfosear aspectos intrínsecos, por isso, Machiana ressalta a questão do tempo estar a passar e ele a ficar, pois o tempo é uma pedra gigantesca que nos impele em alguns momentos de seguir o que traz a paz do espírito.

Voar”, é uma música que também nos convida a reflectir acerca das nossas escolhas no que refere à  carreira profissional, pois dizem que, depois da casa, o local do trabalho é o lugar em que passamos mais tempo da nossa vida, por isso, trabalhe no que gosta para que a sua vida não seja um fardo repleto de dissabores que ofuscam o encanto da vida, e dê asas à imaginação para que o céu se torne cada vez mais colorido e inspirador.

Arnaldo Tembe

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