No início, era o feudalismo. As pessoas viviam à base da exploração da terra, alguns de maneira independente, outros como escravos dos senhores feudais. Depois, irrompeu a revolução industrial. Muitas fábricas surgem nas cidades. Assim, a população abandona o campo e a liberdade, para ocupar a cidade, vender a sua força de trabalho e prestar vassalagem.
Assim surge o capitalismo. O termo capitalista é, inicialmente,
uma invenção da esquerda, que advém da proposta comunista, através de Karl Marx
e Friedrich Engels. Segundo o que estava na cabeça desta dupla, o capitalismo é
uma relação económica que, dialecticamente, instala dois grupos antagónicos: a
classe empregadora e a classe empregada. Na primeira está o capitalista, aquele
que tem o dinheiro, máquinas para gerar produtos, vendê-los e gerar mais
dinheiro. Na segunda classe, está o proletário, hoje chamado de funcionário,
aquele que vende a sua força de trabalho, por hora, a troco de um dinheiro
fixo. Está instalado o cenário, certo?
O capitalismo, na visão comunista, portanto, será um
fenómeno que surge no século XIX e vive até os dias actuais. Hoje, a economia
da maioria dos Estados é capitalista, baseada na economia do mercado e comércio
liberal.
E qual é a relação do capitalismo com os prémios
literários? Pois bem, caro leitor, já ia chegando até aí. Gosto de provocar que
Shakespeare, Homero, Fiódor Dostoviéski, Miguel de Cervantes, Ivan Turguêniev, Almeida
Garret, entre tantos outros grandes autores da literatura clássica, não venceram
um só prémio literário. Foi porque eles não mereceram? Alguns diriam que sim.
Mas, não. Simplesmente porque não existiam prémios literários na sua altura.
A instituição do prémio literário é contemporânea e surge
dentro do universo capitalista, que transforma tudo e todos em objecto de troca
comercial. É preciso vender tudo. É preciso comprar tudo. Assim, os livros,
também, foram transformados em instrumentos de compra e venda. Mas, para tal
sucesso matemático, o capitalismo gerou o Marketing – um sofismo moderno e
maquiavélico – que tem como fim último vender, não importando o meio de como se
vende, nem a qualidade do que se vende.
Portanto, o prémio literário é um infalível mecanismo de
publicidade e marketing, a favor do autor e da instituição que o promove. O
discurso chega a ser maquiavélico: lobo disfarçado de ovelha. Ou seja, ‘‘capitalismo’’
disfarçado de ‘‘solidariedade’’. Muitas vezes se trata de ‘‘precisamos vender
este livro ou a nossa imagem’’ disfarçado de ‘‘tencionamos ajudar este autor’’.
No fim da história, até que o autor se sai ajudado mesmo,
com uns tantos de euros arrecadados.
Gerson A. S. Pagarache
Fonte da imagem: Troféu de ouro realista cercado por confetes caindo | Vetor Premium (freepik.com)