Do filme A forma da água |
Pensei nisso enquanto assistia a uma apresentação científica sobre a crise político-militar em Moçambique e o orador em algum momento exprsessou o seu desejo profundo de ressuscitar alguns dos negociadores que intercederam pela Paz de Moçambique em Roma, ao que retorquí e rebatí argumentado de punhos cerrados a minha posição contra, sobre tal desejo político.
E de seguida, milhares de mãos levantaram-se para coçar as línguas contra a minha opinião, mas infelizmente não tiveram a chance por questões de tempo, em ciências sociais a “gestão do tempo” é o argumento mais eficaz para encerrar um debate.
Tanto que surgiu em mim o desejo de explicar melhor mesmo que não tenha escutado o seu posicionamento contra, é o cumulo do Principio do contraditório, mas prontos, é um país livre. Eis em míseras páginas o que tentei explicar nos 3 minutos, outrora, concedidos.
Da morte
Concordemos, quando por qualquer motivo, você perde o seu celular ou por uma razão que não interessa destacar você bate no farol do carro, ou ainda comprometer bens infungíveis como quebrar a chávena favorita da sua mãe. É verdade que se gera um desfalque na subtracção resultante do incidente e cria-se um desconforto que chega a desestabilizar a rotina envolvente com o que nos rodeia. Porém quando tal sucede a ideia de superação é imediata, a frase “a vida continua” é intrínseca ao sucedido e logo já sabemos que temos que encontrar um novo substituto para o bem perecido e sim, nestes moldes a “evolução pode vir através da crise”, quando perdes um celular de marca ultrapassada para um outro que lhe permita aplicações recentes, de um computador obsoleto para uma maquina da próxima geração, de uma TV corcunda a preto e branco para uma do tipo plasma led com canais sectorizados.
Não menos fácil, mas superável também é o facto de perder coisas vivas, seres animados que não sejam racionais, mas que estabelecemos um certo relacionamento de vida com eles. Como a ideia de uma senhora reformada, de terceira idade que vive sozinha num apartamento que jaz no terceiro andar de um aranha céus qualquer, algures na metrópole; à janela tem um girassol que lhe ilumina os olhos e vivifica-lhe a alma, esse girassol recorda-lhe tempos da alegria jovial, então ela apaixona-se pelo girassol, passa a dedicar varias horas do seu dia a cuidar da planta/flor poe-lhe a água, muda-lhe de posições para apanhar sol em todos ângulos e sorri profundamente a condizer com a nitidez do brilho da planta. Até que um dia percebeu que aquilo que era para serem pétalas amarelas contraíram um verde vómito como um limão em estado de péssima conservação. Desesperada, a velha aplica todos os produtos químicos que conservara para situações similares, sem sucesso adormece com o vaso da planta enterrado entre o calor dos seus braços. E ao acordar, percebe que o caule da planta antes erecto desfalecera vaso abaixo e ficara careca de pétalas. É sem dúvida o fim de um relacionamento que reservava uma certa intimidade no pacote, mas ultrapassadas as lamúrias o florista pode ser perspicaz na substituição e facultar-lhe a mesma flor/planta nas mesmas condições e pelo preço certo pode obter até um germe novo de modo que possa ver o surgir da primeira pétala e começar um novo relacionamento, uma nova chance para cuidar do que perdemos. Um verdadeiro renascimento de uma alegria ameaçada pelo girassol desfalecido.
O mesmo sucede quando o seu gato encontra morte certa sob o machado do jardineiro da vizinhança por ter liberto das substâncias orgânicas num gramado acabado de se regar. Bem, ultrapassados os jargões de absolvição protocolar afim de conservar os princípios da boa vizinhança, como dono do gato saberá que há que impedir a festa dos ratos. E assim o gato cagão será substituído por um outro mais jovem, mais saudável e que não se deixe simpatizar pelo jardim da vizinhança.
Mas quando os sinos tocam por alguém, penduram-se as luvas e arrumam-se as botas; é o inexorável que nos visita, a morte de uma pessoa é o fim dos tempos para o próprio ser na terra, um pequeno mundo se fecha e o universo torna-se cada vez menor porque nós somos o mundo.
Mesmo que você tenha todas as condições do mundo não terá como ir ao supermercado mais próximo e perguntar o preço de um Zé dos Santos mais saudavel e “um Molho extra de Bom caracter, por favor”, ou perguntar o Preço de um irmão que a heroína te levou, você não verá no intervalo da novela, a quanto anda o preço de uma nova mãe no mercado especulativo, ou porque você sente muito pelo filhos do vizinho que ficaram órfãos de pai e mãe em virtude de um acidente de viação então decides te juntar aos moradores do condomínio para fazer uma “vaquinha” afim de comprar um novo pai trabalhador, protetor e honesto para cuidar dos novatos.
Mesmo se fosse possível comprar um novo “Mangueze”, mas porque somos pessoas e por isso singulares e diferentes, seria frustrada qualquer tentativa de substituição, porque dotado da Razão, de Prometeu e Epimeteu, no seu todo o homem é insubstituível, não haveria pior coisa que no âmbito da dor incontornável referente a perda de um ente querido de repente renascesse uma esperança de o ter de volta quando não passa de uma ilusão porque afinal mais cedo do que tarde perceberemos a discrepância de personalidade, pois um falso Pai de origem sinalagmática instalou-se no seio da família enlutada. É como ser apunhalado por uma faca de dois gumes.
A morte é uma equação de duas variáveis invisíveis, não se isolam, não se derivam nem implicitamente, porque são invisíveis, não se integram e não tem limites, simplesmente aparecem e fazem propostas imperativas de resolução e sobre isso as teorias são várias e por conta dessa invisibilidade de incógnitas a quem diga que “a morte não existe porque quando ela chega, não estamos mais e se ainda estamos é porque ela ainda não chegou, logo não há o que temer porque o encontro com ela é impossível.”
A morte é um dos fenómenos mais tristes, mas a maioria das teorias/pensamentos sobre ela são todas confortadoras e distantes de algo que se deva tentar escapar com tanta inteligência como se tem feito ultimamente. E a teoria divina é uma das mais perspicazes a versar acerca, tanto que se tornou famosa a reação do filosofo Santo Agostinho por não ter jorrado uma lágrima sequer durante as exéquias da própria mãe, sob o argumento de que se tratasse de um momento de glória e não de mera tristeza, pois só faltava um passo para mãe e filho serem felizes para sempre: A MORTE DO FILHO.
Poucos colocaram dedo na ferida como o fez Oscar Wilde ao desabafar nos seguintes moldes: “Odeio a morte, com o avanço das tecnologias hoje em dia pode se sobreviver a tudo, menos à ela.”
E essa ideia de se odiar muito a morte, várias vezes resulta do medo que se tem de enfrentar um certo sofrimento no processo e não a morte propriamente dita, contudo há quem diga que a morte em si já é um mal quando acreditamos na beleza da vida que vivemos. São esses que se surpreendem com a repreensão de Mycroft Holmes quando rebate de forma seca com um olhar impávido sobre o fenómeno afirmando que: não entende porque os humanos ainda se espantam com a chegada da morte, se é o único evento que temos a certeza que irá acontecer enquanto vivos.
Minha opinião sobre a morte não é mais inteligente que a sua, não tenho mais intimidades com ela que ninguém, não permita que eu te engane. Só penso que o conceito que temos sobre a morte não é autónoma, derriva das crenças que temos enqunato vivos. O Professor Clovis de Barros Filho alicerçado pelo teor suicidário do assassinato de Sócrates advoga que a vida em morte é mais confortável que a vida em vida, porque em vida, a vida é atrapalhada pelas vicissitudes do corpo, em morte a alma antes presa liberta-se do corpo e passa a enchergar o mundo da forma mais imparcial possível, pelos olhos da alma. Nas suas palavras: “é como passar muito tempo a nadar de pijama e um dia você tem a chance de tirá-lo, para nadar mais leve, com menos peso, aí sim nadar seria uma maravilha” kkkkkk temos que descobrir o que esses filosofos andavam aí a fumar!
Portanto enquanto vivo não consigo descrever a morte com a eficácia necessária podendo o meu intento circundar entre as nuances dos seus efeitos e, se calhar, as dúvidas caricatas sobre a sua inexorabilidade. Espero eu, depois da minha morte poder ter por perto um papel e uma caneta para endereçar-vos, com a experiência de um pesquisador participante, um bilhete perspicaz sobre do que realmente se trata. Não se preocupem irei escolher um destinatário fiável e imparcial que não seja um mentiroso como o Ricky Gervais tem que ser alguém que esteja em completa sintonia comigo cujos defeitos da minha caligrafia desmistifica.
DO RESGATE
Impossível não é, mas falar da morte sem roçar a estrutura do pensamento religioso seria um tanto que ousado demais para a paz da minha alma ou o levitar da minha consciência, sendo assim em linhas gerais, pois já se introduziu com a cena das exéquias da progenitora do Santo Agostinho. Mas aqui quero ressalvar que no âmbito religioso a ideia de a morte não ser o fim da historia é tao profunda e aliciante que chega a ultrapassar qualquer necessidade de reencarnação.
A morte é um caminho sem volta necessária, a morte é um progresso, uma promoção para quem viveu bem e ao mesmo tempo uma despromoção para quem viveu mal sendo assim são justos os que vivem bem e é um insulto a teoria divina querer devolvê-los ao caos da terra, contudo são monstros aqueles que viveram mal e com a despromoção infernal, se calhar possam ser resgatados afim de explorar-lhes a outra face da sua moeda, o Homem que não viveu para a promoção dos céus, não viveu a divindade na plenitude e Deus dá o livre arbítrio mas não a segunda chance, sucede porém que existem casos de pessoas que não só viveram mal aos olhos de Deus como também viveram mal ao olhos da sociedade considerando que nem sempre o julgamento mundano coincide com o divino. Faça-se uma pausa.
Mas o que é o resgate? Compreenda-se, no contexto em que me refiro é diferente do resgate resultante dos crimes permanetes de sequestro, ou do resgate em relações jurídico-adiministrativas no âmbito do Direito administrativo, ou do resgate de um email enviado por engano ou sem o conteúdo correcto. Atente-se que nos aspectos acima relevados o resgate é sempre sobre a necessidade de corrigir um determinado erro ou de evitar males maiores no final do dia, contudo acrescente-se que nesses resgates os entes resgatados escaparam da posse segura por falha de vontade senão contra a vontade dos seus.
Não é o que nos interessa, situados, voltemos ao primeiro paragrafo, é muito comum que perante a morte até as piores pessoas do mundo transformam-se em anjos, são condecorados pós morte, elogiados e tem os seus defeitos soterados antes de se enterrar o cadáver chovem perfumes e pétalas de rosas, discursos com as mais belas declarações de amor. E meio a essas lamúrias queremos que elas voltem para nós, ignoramos o sentido de missão cumprida e só nos interessa preencher a iminente e certa ameaça do vazio, nesta senda, quantas vezes ouvimos pessoas desejando que o Dom Jaime voltasse a Vida para negociar a paz entre os nossos mais famosos Partidos? Quantas vezes ouvimos nos desabafos dos transportes públicos que era bom que Samora voltasse a vida? Que o Urias Simango foi-se cedo demais e o País precisa dele.
Acrescento que vivemos em tempos em que se respeita mais a morte do que a propria vida, tememos mais a morte do que a vida, consideramos mais os mortos do que os vivos, honramos mais as exéquias do que as celebrações, aderimos mais as cerimónias fúnebres do que as matrimoniais.
Você precisa andar muito para encontrar alguém capaz de cogitar, apenas cogitar, na ideia de oferecer, surpreendentemente, um arranjo de flores à sua mãe, no seu posto de trabalho sem que se trate de nehuma data especial, “só porque é quarta feira” como diria Jamal Jefferis. Com esse tipo de atitude os floristas mais bem sucedidos não seriam os que estão adjacentes aos cemitérios.
Uma carta mal escrita para um vivo agora, certamente trará mais alegria que o discurso mais bonito do velório, o que é se passa contigo? Quer ser o orador mais eloquente do cemitério? Ntlha!
Eu já encomendei o meu caixão e na lateral mandei escrever a Bold “Flores não” e nada de prantos se você não chora pelos meus objectivos agora, tua sensatez é esquisofrénica, não me venha com tuas orações se agora não oras para que as coisas me corram bem, não quero as tuas cerimónias, como diz o Duas caras: “Cremem o Cara Boss e fumem as cinzas” mas okay voltando ao Boi frio, aliás à Vaca morta, quer dizer a vacaaaa... yah é isso mesmo. Voltanto.
Quantas vezes vimos pessoas a rezarem aos prantos pela morte do Craveirinha ou de Carlos Cardoso. São declarações de pessoas que desejam resgatar as pessoas que viveram com aprovação e sem culpa, são declarações de pessoas que querem resgatar ao combate falecidos que cumpriram a sua missão enquanto vivos, o que classifico como um risco na medida em que o homem pode ser concebido como um explorador de plenitudes se viveu a sua vida inteira fazendo a coisa certa e nós pedimos para ele voltar é muito provável que ele volte com o desejo de explorar a outra face da sua moeda comportamental, porque na verdade não é que nos queremos que ele volte como tal, mas sim queremos ter de volta alguém como ele, com as mesma atitudes e princípios.
É nesta prespectiva que eu me oponho e digo com vivacidade que o nosso mundo não precisa de ressuscitar Samoras nem Marcelinos, King Juniores ou Malcoms não precisamos que Mandela se levante, passe pelo 27 anos de novo e depois ascenda novamente a Liderança. Não. Basta.
Minha proposta: é que aqules que viveram com total reprovação social e por isso conotados como monstros pelos seus actos, que transformaram o Mundo num Infernos com base em Gerras, Holocaustos, Genucidios mesmo em sede da teoria deivina, não deviam ir para um inferno desenhado por Deus, mas sim deviam ir para um Inferno desenhado por eles mesmos, isto é se encontraram a morte após ter transformado o mundo num inferno é para este inferno que eles deviam ser mandados de volta, mas na posição do oprimido e com as mesmas ideias mas com tendência revolucionária, o Hitler que Voltasse Judeu com as mesmas tendências megalomaniacas, um Pitter Botter que luta, perseguido pelo Apartheid, um António Enes e o resto dos Albuquerques descamisados e acorrentados numa Nau. Eu não quero que ressuscitem o Che-Guevara eu prefiro que resgatem o Stalin do Inferno e o coloquem na Ucrânia em 1932 a combater o Socialismo enquanto os seus são enterrados vivos. Eu quero a inteligencia do Bin Laden resgatada para enfrentar o terrorrismo que impera nas primaveras árabes. Deixem o Mondlhane descansar em paz, resgatem o Salazar.
Pedir que o Agostinho Neto ressuscite e para dirigir Angola enlutada é o mesmo que pedir a um economista que volte a licenciar-se na mesma Universidade, mesmo Curso, mesmo Curriculum academico, mesmos Professores mas agora com os Custos mais altos. Mais do que ser entediante é muito suspeito, que seja o José Eduardo dos Santos com a mesma vigor imperativo mas desta vez como lider de um grupo qualquer na UNITA.
Eu não posso arriscar ter um Samora que sacrifique o seu Povo, corrupto e que concorde com as ideias opressoras do estrangeiro, não posso dar a chance ao Ngungunhane de vir manchar o seu bom nome. Prefiro resgatar o Ian Smith e dar-lhe a chance de ele se retratar. Por tanto eu proponho O RESGATE DOS MONSTROS. Queria eu poder ter um anzol que me permitisse pescar algumas almas do inferno.
Por Aldemar do Rosário