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2100. As revoluções não causaram nenhuma revolução. As pessoas empurram os pés ao trabalho, aliás, os que se fazem ao escritório todos os dias são que não produzem trabalhando em casa. Já há lei de home office promulgada. Ir ao trabalho todos os dias equipara-se a ser um improdutivo. Os que trabalham a partir de casa são revolucionários. Aparentemente, tudo parece desenvolvido, soam pelas avenidas alarmes automáticos que monitoram o excesso de velocidade das viaturas. Os homens e as mulheres são facilmente confundíveis. A medicina ultramoderna já pergunta aos pais sobre o sexo que preferem aos seus bebés - há intervenções cirúrgicas há nascença. O capitalismo venceu, novamente.
Os telefones já são televisores desde que se projecte a uma parede escura cuja cor combine com as configurações. Esse é o mundo que Mazivila receava que chegasse e, por isso, foge para criar o seu. Na verdade, foi viver para um mundo cuja modernidade já o chamava de comunidades indígenas ou não civilizadas. Transformou-se à chegada, era preciso porque aquela sociedade não aceitava influências ultramodernas. Mazivila tem uma nova vida. Não sonha em voltar ao mundo de telas gigantes e danças intermináveis até em escritórios. Tem uma vida que julga ser saudável. É introduzido ao mundo novo.
"Quem se queixaria de ser coxo se todo mundo coxeasse?".- Mazivila lembrava do poema de Eça de Queiroz no Posto de Verificação Anti-civilização. O posto foi criado para estrangeiros vindo da civilização, mas que queiram mudar de vida, de pensamento consumista ou qualquer que se aproxime do mundo das telas gigantes, semáforos e chips de espionagem no organismo. O mundo novo do Mazivila era puro. Havia política e discutia-se a sociedade com uma finalidade - melhorar o modus-vivendi e operandi. Mas quem é Mazivila? Porquê pensou ou lembrou, adentro, um verso do poema de Eça de Queiroz
Jorge Zamba