EXERCÍCIOS DO EXÍCIO 2

 

EXERCÍCIOS DO EXÍCIO 2
By Jonathan Shih

Aquela velha da zona, cujos actos vêem à tona, através de boatos e fofocas, de especulações ou de bate-bocas; aquela para a qual não acenam, a que muitos julgam e condenam sem de facto conhecê-la. Não sei bem o nome dela, mas sei de outra bem mais forte — a essa última chamam de morte.

A morte, não ouso definí-la essencialmente. Ela nunca desfila aos viventes. Nós vamos a ela, em fila, voluntariamente. E esta recebe-nos [pobre argila!] hospitaleiramente.


Tomáš Bittner


No instante antes da morte, vive-se mais do que a vida inteira; sem mais espectativa experimenta-se, sob uma inerte sorte, a versão mais sincera de uma intensa e vertiginosa retrospectiva.

Na dúvida entre eufemismo e disfemismo, é preferível ganhar a morte do que perder a vida — até porque perder é para os fracos.

O suicídio é uma pista, onde não dança o optimista. Por mais que ame ou odeie a vida, todo prudente suicida nunca deve esperançar assim; ora, morrer pode não ser o fim.

A vida além da morte é, praticamente, inconcebível; eu, pelo menos, não a contemplo. Mas a vida após a morte é naturalmente possível; os vermes são um belo exemplo.

Um passo p'ra fora do paraíso, estico sob a luz de cada manhã, porque o chão que agora piso, há-de ser meu céu amanhã.

E sem qualquer sombra de medo, deve a morte ser recebida; ora, mais cedo do que cedo, ela recebe a nossa vida.

Quando, enfim, chegar o dia de ir [rumo] à austera morte, na véspera da travessia, quem nos deseja boa sorte? Pois, vive-se só até ao pó.

Nem à amante, nem à amada, nem num instante à Pátria Armada, nem à arte nem à ciência; pertencemos à morte desde a nascença — à morte unicamente!

Sempre achei indelicado este assunto de mandar os mortos para a prisão; qual é a lógica em prender defuntos na mínima câmara de um caixão?

Pode por vezes doer, urge, porém, aceitar que é necessário morrer para poder descansar.

Trai-nos por vezes a esperança e, antes de nós, ela morre; então, a opugnação avança e a morte nos socorre.

Robert Earl


Enquanto vivemos, o tempo nos sujeita; enquanto sobrevivemos, a vida nos rejeita; e enquanto morremos, a morte nos aceita.

De que havemos de morrer, temos máxima certeza, porém, quando acontecer, será maior a surpresa.

E se te for mais divertido o experimento de morrer, quanta idade terás perdido na experiência de viver?


Ericson Sembua

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