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— Olá, Maria!
— Oi...
— Como estás? Sumida!
— Estou bem... Mas, desculpa, não te conheço. Quem és?
— Peço um minuto. Vou já. Vou só aos lavabos dar mão ao meu melhor amigo!
— Lava o quê?
— Lavabos. Casa de banho.
— Ah, certo! Mas que amigo?
— Ha... Maria, aquele amigo lá em baixo...
— Oh, céus!, sorry!
— Até já...
Naquele instante, Maria estava toda pensativa, cobrando à memória a imagem daquele homem que lhe interpelara, enquanto esperava pela sua pizza. Se estivesse com as suas amigas ou qualquer das companheiras fiéis, ter-se-ia recordado, com a sua ajuda. Teo era um homem charmoso, bem musculoso, de cabelos crespos e um olhar sedutor. Estava vestido formalmente, porque saía do serviço (era contabilista) e, coincidentemente, a sua esposa tinha pedido que lhe comprasse uma pizza no Jimmy, ali próximo do seu serviço, na Pandora.
Na verdade, Teo não conhecia Maria. Quase a se esquecer do pedido da esposa, parou o carro bem à frente do Jimmy, depois de ver um casal a sair com uma pizza.
Quando entra, vê uma beldade à sua frente, sozinha, e mudou de profissão, de contabilista a pescador, pôs-se a pescar, para ver se o seu anzol era mesmo profissional e, para começar a investida, preferiu chutar qualquer nome que lhe veio àquela cabeça cheia de contas, cheques por reconhecer e uma série de expedientes pela frente: Maria.
Por sorte, aquela beldade tinha o nome da virgem que trouxe ao mundo o Messias, por intermédio do Espírito Santo.
Teo volta da casa de banho com as mãos humedecidas e vai directo ao banco de espera onde se encontrava Maria, ainda pensativa.
— Ufa, que alívio! Demorei um pouco, mas já voltei. Então, Maria, o que dizias?
— Eu dizia que não te conheço. Estou a tentar puxar a memória, mas...
— Não gastes a tua massa cinzenta. Eu apresento-me. Sou Teo... — Antes de terminar a apresentação, Maria intervém:
— Sim, vais-te apresentar, mas conheces-me de onde? Chamaste-me pelo nome, sabes?
— Bom, vou-te ser sincero, eu não te conheço de sítio algum. É a primeira vez a te ver hoje. E, quando te vi, o primeiro nome que me veio à mente foi esse.
— Chi... És sortudo, moço. Há muita gente que usa esse truque, olha para mim, mas os nomes que lhes vão à mente são Joyce, Neusa, Nina, Paty, Helen, entre outros, mas Maria, muito raramente.
— Uau! Então sou mesmo sortudo. Então, o que vens fazer aqui?
— Mas jovem, desculpa, como te chamas mesmo?
— Teo!
— Sim, Teo, que se faz aqui?
— Come-se, encomenda-se...
— Aliás, o que tu vens fazer?
— Venho comprar uma pizza para o jantar... E tu?
— Também. Minha irmã gosta de pizza e não tive tempo de fazer para ela, venho comprar uma mini-pizza para ela.
— Uau! Até sabes fazer?! Parabéns, mulher! Mas então, estás acompanhada ou nem por isso?
— Sim, estou, pelo taxista lá fora! — Teo sorri, pois pensava que estivesse acompanhada pelo namorado.
— De que te ris?
— Achei que estivesses com o Boyfriend! — Não! Está fora do país. Também não estamos bem. Nem sei se ainda somos… eich, desculpa, estou a falar de coisas que nem devia.
Teo, ali, ganhou mais vida de continuar com a conversa, pois eram mais pontos para si. Mais um atum na sua rede de pesca, aquilo não era magumba nem tainha, era uma raridade.
— E tu, Teo, pizza a esta hora!, jantar…! Não és casado? A tua esposa não cozinha?
— Casado? Não... Moro sozinho. Saí tarde do job e não tenho tempo para ainda começar do zero.
— Mas não és casado mesmo? Vocês homens são bandidos. Se não és casado então tens esposa, namorada ou noiva. Organizado que és, charmoso, toda a mulher quer um homem mais ou menos assim.
— Mas é normal um homem assim ser solteiro, não achas?
— Pode ser, mas enfim, cada um com a vida que leva.
Senha duzentos e quarenta e cinco. Mini-pizza e um refresco sparleta a lata?! — soava o balconista.
— Sim! — Maria foi ao balcão, levantou a sua encomenda e voltou até ao banco de espera para se despedir do Teo.
— Teo, foi um prazer, já vou. Fica bem...
— Maria, desculpa, posso ficar com o teu número pelo menos? Depois conversamos.
— Sim, sem problemas. — O coração do pescador pula de alegria!
Quando Teo tira o seu iPhone que estava no seu bolso esquerdo, com a mão esquerda, vê-se, no seu dedo anelar, a marca da sua aliança que tinha sido recentemente retirada. A mão, mais escura que a parte onde residia a aliança. De imediato, Maria dá uma volta, dando-lhe as costas e seguindo em direcção à saída. Teo segue-a e pergunta:
— Que foi?
— Moço, eu disse que eras casado. Está aí a marca de aliança no teu dedo. Eu não gosto de brincadeiras.
Teo, sem eira nem beira, sem tugir nem mugir, baixou as mãos e o ombro, em gesto de luta perdida e, sem mais a fazer, foi ao balcão comprar a pizza que a esposa mandou comprar e, para o seu azar, levou mais tempo à espera, pois a fila era longa.
Na verdade, quando Teo ia à casa de banho, não ia dar mão ao seu melhor amigo, como disse, mas, sim, tirar a aliança, para que Maria não desconfiasse do seu estado civil.
Para o seu azar, aquela aliança estava bem acostumada ao seu dedo anelar, desde que fora colocada por Yolanda, sua esposa, há cinco anos, no altar da igreja, onde jurara ser fiel à esposa, na saúde, na doença, na alegria e na tristeza, até que a morte os separasse.
Por Carlos da Graça