10 POEMAS DE HÉLIO ZYLD GUERRA

10 POEMAS DE HÉLIO ZYLD GUERRA


DESCREVENDO CHUVAS

                                      Ao meu eterno amor


Meu coração chove poesia

Na gota que cai

Há um sentimento que habita

Tão suave quanto a brisa

Do mar que nos envolve, amor.


Adoro a magia nela

Ardendo no alto como chama de uma vela

Rompendo ondas no mar agitado como um barco a vela

E pássaros diabulando pelo pomar.


Meu coração chove poesia no ar

Recalcando teu corpo esculpido

E na hora que cai

Há uma melodia suave, um toque do teu ser

Oma-et sem vírgula e cor, apenas cantando meteoritos.


ALÉM DA COR


Adoro,

Esse olhar de mulher vivida

Que no seu ar há uma dor adormecida.

Adoro, sem querer e sonhar me apaixonei

Por essa delicadeza de sua alma, meu marte

Mulher sábia, expendida obra de arte.


Quem esculpiu-lhe? Essa firmeza dos lábios

O brilho dessa pele, essas claras curvas, Adoro-as!


Adoro tudo em você

Seu perfume, os pelos, alma e terra

Essa proibição de poder lhe amar

Nem navegar em seu belo mar…



Infância juvenil


Virgens são teus olhos

Oprimidos por inverdades

Que jazem dessa realidade abismal

Onde a solidão e agonia vivem.


Cegos são teus olhos abertos

Abertos e fechados ao progresso,

Cépticos ao amor e a bondade.


Altruístas são teus pensamentos

Doados pela religião da globalização

Através da maldição do consumismo.


Egoístas são teus suspiros

Que habitam em ciberespaços

Em que o superego governa infeliz

Oh ser, cante comigo em súplica

A paz e moral a toda humanidade.



Lágrimas de Pemba


É lamentavelmente triste, o peso da dor que sufoca

Tão triste quanto as palavras que saem desta boca,

Pois, a perola quebra-se aos bocados desde o norte

Enquanto o mar se agita ao sabor asqueroso da morte.


É triste, mãe!

As planícies e planaltos de Pemba ecoam lamentos,

Choram lagrimas que inundam os olhos da esperança

Ofuscados pelas balas que pintam o país a cor da desgraça.


É triste, o choro das mães e filhos

Marcados pela febril agitação das balas sem ética

Levantando cortinas de fogo que dançam frenéticas

Enquanto os santos engradecem a religião: o capitalismo.


- Cadáver! Corpos dando costas ao céu, prezando o despeito

Onde a culpa da ganância desconhece a graça dos xicuembos

E os sobreviventes cortejam a discórdia da vida- que infortúnio!


É triste, o vermelho da bandeira pintando o verde das terras,

Bala bailando tesas em busca de inocentes incrédulos de um amanhecer

Que graça tem a misericórdia ou remédios do ocidente

Se Nungungulo não honra pelos seus e muito menos pelos que merecem.

É triste, porém oxalá que Ngungunhane

Ou o padroeiro da unidade nacional, nos salve.

,Somos paito, perdemos o significado da razão

Lito nya utsigo

Á meia-noite de luar

Ventos sopram de oeste à leste

Transportando vozes esquecidas

Dos ancestrais adormecidos.


Vozes silenciadas pelo medo e fartura

E que o tempo as tirou de mim,

Vozes cravadas no túmulo de memórias

Abandonadas pela sophia (no lugar da estupidez)

Que queima a alma imprudente


Na folcloridade da minha arrogância

Martirizando minha descendência


À meia-noite da Santa Paz

Os céus trazem retratos esquecidos

De legiões de heróis

Heróis que escreveram histórias de si

Mas que o tempo as apagou na gloria de si.


PERFUME ERÓTICO

I

Num dia qualquer cobria-se o céu de negro véu

Sob ela havia uma tremeluz e sorridente lua.

Se brande, risota, dançam estrelas baças

Acompanhando o brilho do formidável troféu.


Chão de pétalas e rosas escoltando o baile das chamas

Luminosas que dão a beleza do palácio nupcial,

Saudando a degustação romântica do prazer acidental  

Do briol adocicado de prosas do amor em fervor.


No silêncio falante, corações sorriam gritando

Juras de amor em beijos infinitos de paixões

De um fundo abismo onde não chegam nossas indagações.


Perfume, pele macia, matizes de alegria carnal,

As águas cristalinas e imortais da fantasia

Libertavam asas da criatividade sexual e sensual.


II

Medra volúpia em sofás macios e envolventes

Já lânguida e sem energias, procuras um beijo

Que nas noites de inverno ao vento se balança.

Em favor das caricias que a dor não alcança.


Juras de amor, perfumes, beijos infinitos,

Caricias incessantes e pegadas ressuscitam

O cadáver de seu vampiro de prazeres famintos.


À medida que a língua desliza em seus lábios,

Um gemido emana em minha boca,

E finalmente posso sentir e provar seu gosto

Um gosto tão bom quanto parece. Se entrega!


No suspiro fatigante, você joga meu corpo na cama

Sigo seu corpo com beijos e caricias que tocam a alma,

Penetro carinhosamente e sinto seu estremecer e louca.


III

Nas tardes de domingo na varanda, entre róseos matizes.

Quão doce era o seu seio, o beijo e afável o coração!

Dissemo-nos em caricias, os dois as coisas mais felizes

Consumidos pelos ventos de amor e perdição.   


Agarro seu queixo, aprofundando o beijo,

E sua língua timidamente toca a minha... Explorando.

Considerando. Sentindo. Beijando-me de volta.


Completamente intoxicado, embriagado com seu aroma e sabor.

E os meus lábios se contraindo mais uma vez com fervor.

Suspiro de olhos fechados sentindo o macio da sua pele negra,

Retocado de perfume que me convidam ao palácio do prazer.


Entro e sou recebido com calorosas chamas de prazer,

Cada vez excitado digo: liberte-se e aproveite-se de mim!

E gritas enquanto é consumida olhando para mim.


Inclinando a cabeça para trás, a boca aberta, os olhos fechados...

E apenas a visão de seu êxtase é suficiente. Explodo em si,

Perdendo todo o sentido e razão, na onda de prazeres sem fim

Chamando o seu nome e gozando dentro violentamente.


Quando abro meus olhos estou ofegante, tentando recuperar o fôlego,

E estamos testa a testa, olhando para mim. Está saciada …!

Planto um beijo rápido na sua boca, saio para fora e deito ao seu lado.

Suspirando ma paz e harmonia das tardes de verão alimentando chamas.


Constatações ontologias I



Sou puta!
Em minha cor e alma
Correndo pelo mundo como chuva
Enquanto pênis atravessam por mim
Sedentos da doçura deste mar sem fim.


Sou África parindo órfãos

Sem amor

Sem paz

Sem coração
Sou juventude,

Herdando a distorção dos sonhos

e tradições.


Sou branca, preta, incolor
Tão rabuda quanto os montes deste continente
Ardendo por dentro nas asas do vento.
Sou mãe, pobre, por vezes indiferente
Menstruando nas barbas de Ngungunhane
Esperando a morte nunca se vingar e casar.



Eu, e mais ninguém
Sou tua mulher murchando!


Constatações ontologias II (Meu nome é África)


Não sou amante do diabo, tenho nome

Sou África em sua aurora ou alvorada
Que embalam o despertar do dia,
Nascida das melodias que compõem meu corpo negro


Sou o que você é! Vida!
Com brilho nos olhos espalhando pétalas
Menstruo, não importa a pele e telas
Apenas os sonhos e o tempo.


Sou de cor, africana livre da vida liquifeira
Mais perdida na santidade de uma freira.


Tenho em mim pequenas cabanas
Que no aconchego do abraço e encanto Libertam a imensidão.


Arranque-me o pão se quiser
Talvez o mar escondido no meu ser.
Porém nunca o sorriso e a dignidade que ampara
Sou uma rosa em sua imperfeição
Colhendo a esperança nos beijos da primavera.


Dor


Aos meus amigos

Até a última aurora tudo tinha vida
Caminhos sabiam ao cortejo a beira-mar
Fortes como as ondas da casa nossa que se chama amar
Pois éramos amparados pelo sol a cada sonhar e partida.

Agora, em meu asilo as lágrimas alimentam o mar
Tecendo almas e poemas como pássaros no pomar
Poemas atemporais e sem manifestação existencial
Nem cordiais beijos da primavera do coração.

Perdida estou nesta dor apenas parindo lembranças
De uma vida em que era fiel a nossa amizade
Envolvida numa cor e sentimento patriótico
Mais erecto que o pênis que outrora me alimentava.[vida].


Perdoe-me , tornei-me afinador(a) de silêncios
Esperando que o guardião ressuscitasse o pão que outrora jazia em nós.

 

INDAGAÇÕES POÉTICAS


Que cor contempla o desenvolvimento? Essa etapa eufórica da liberdade do sucesso.

Milagres de um povo lamacento que esconde um pomar de alma em que trocam fluidos de uma esperança. Como se criara a fronteira do bem e do mal? Do dia e da noite? Ou deste outro esquecido pelo EU em que caligrafias de cor e mapas cibernéticos traduzem culturas de um povo. De quê se define uma raça? Um olhar? Essa farda que vestimos, essa história que se escreve nessa linha abençoada sem dó.

Como se escreve um silêncio, uma brisa sem ruídos, um percurso sem turbulências nem lampejos de cansaço de um sonhar alto? Diga-me doce tristeza, melânica humanidade, de que cor a existência se veste. Da cor infinita na solidão conjunta desta dança que se meneia no caos.

Diga-me solidão, até quando a morte se curvará aos teus descanto tirando pétalas de mim sem nobre alvitre ou negociação. A primavera se ilude na dança de uma borboleta ferida no azar daquele sorriso chamado sonho.

Diga-me filo e sofia, a morte cobriu sua mente? Ó pátria dos poetas, que em cada grão de areia se plantem almas sagazes e fecundas de um não-adeus do tempo em nome dessa bondade chamada “gaya guango”. Ó Hosi que a morte não venha antes do assobiar da Vitória e prazer do sexo destes anjos.


Sobre o autor

Deixe-me limpar tua alma com um abraço e as lágrimas com um beijo. Nosso amor é poesia”


Hélio Zildo M. Guerra, cujo pseudónimo é Hélio Zyld Guerra nasceu em uma manhã de domingo, ao décimo quinto dia do oitavo mês de 1993 no Município da Cidade da Matola. É licenciado em Filosofia pela Universidade Eduardo Mondlane (2012-2016 m especial destaque para o tema do seu trabalho de fim de curso: “O progresso do conhecimento cientifico em Gaston Bachelard”). É professor de Introdução à Filosofia e de Língua Portuguesa, palestrante, filosofo, pesquisador, autor e escritor moçambicano. Publicou “Poesia Líquida” (2020”; “Activisionismo: um ensaio envolta da reconstrução social” (2020, co-autor); e sensualidade 21 (Fevereiro de 2021). Em tempos livres, lê, medita, escreve, caminho pela natureza. Contatos: Heliozildo@hotmail.com; heliozildoguerra1@gmail.com ou pelo www.facebook.com/heliozyldguerra. Blog: www.heliozyldguerra.blogspot.com


Paintings de @lisaboardwineart
@abstracktartorg





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