lâmina a cantar voz do rio - 3 Poemas de Britos Baptista

lâmina a cantar voz do rio - 3 Poemas de Britos Baptista

I

Fiz um poema de água

para te navegar em barco.

fiz um outro cheio de ondas.

fiz ainda dois outros.

fiz ainda mais de três pouco rudes.

fiz tantos outros em tercetos

para mim e para nós em mim

só a falar de nós que só cabe em ti.

tracei teu sorriso dentro do meu

da cabeça aos pés da lua.

cortei as mãos da escuridão.

o vento riu-se do meu gesto louco.

encostei-te num céu quadrado

onde entre as paredes eras o início

prolongando-se em nenhum fim.

e enquanto eu escrevia isso,

eu e eu estávamos sentados

no fim do último verso

à espera do abraço

dos teus olhos.


II

Entre mãos 

e sombra,

lâmina a cantar voz 

do rio.

no mesmo vento 

que tal sol sucede,

tomba noite 

sobre luz da vela acesa

azul 

penetra fundos olhos

da janela.

dentro do quarto,

dorme sem asas anjo.

remos à lua.

noite ainda é barco

feminino.

sono do Querubim

é pássaro

a voar dentro de mim.

tudo que agora acorda 

é silêncio.


III

E

sinto-me

em curva fechada 

num dos dedos 

da pequena e fina mão esquerda 

da minha negra pássara.

ela a voar as curiosas luzes 

no tenso olhar cidade 

e

noite uma inteira anda seus olhos

e

o mundo atravessa o rio 

ainda

mais luas por caminhar


 IV

Já me vejo

ilustrado na unha inferior

esquerda 

de uma antiga pássara 

minha 

ela a andar a gingar a girar

pelas ruas da escuridão 

dos dias multicolores 

que andam seus pés 

com o meu coração 

nas suas mãos

a dançar as voltas 

do vento


Por Britos Baptista

Pinturas de @michaelhedgesart

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