I
Fiz um poema de água
para te navegar em barco.
fiz um outro cheio de ondas.
fiz ainda dois outros.
fiz ainda mais de três pouco rudes.
fiz tantos outros em tercetos
para mim e para nós em mim
só a falar de nós que só cabe em ti.
tracei teu sorriso dentro do meu
da cabeça aos pés da lua.
cortei as mãos da escuridão.
o vento riu-se do meu gesto louco.
encostei-te num céu quadrado
onde entre as paredes eras o início
prolongando-se em nenhum fim.
e enquanto eu escrevia isso,
eu e eu estávamos sentados
no fim do último verso
à espera do abraço
dos teus olhos.
II
Entre mãos
e sombra,
lâmina a cantar voz
do rio.
no mesmo vento
que tal sol sucede,
tomba noite
sobre luz da vela acesa
azul
penetra fundos olhos
da janela.
dentro do quarto,
dorme sem asas anjo.
remos à lua.
noite ainda é barco
feminino.
sono do Querubim
é pássaro
a voar dentro de mim.
e
tudo que agora acorda
é silêncio.
III
E
sinto-me
em curva fechada
num dos dedos
da pequena e fina mão esquerda
da minha negra pássara.
e
ela a voar as curiosas luzes
no tenso olhar cidade
e
noite uma inteira anda seus olhos
e
o mundo atravessa o rio
ainda
há
mais luas por caminhar
IV
Já me vejo
ilustrado na unha inferior
esquerda
de uma antiga pássara
minha
e
ela a andar a gingar a girar
pelas ruas da escuridão
dos dias multicolores
que andam seus pés
e
com o meu coração
nas suas mãos
a dançar as voltas
do vento
Por Britos Baptista
Pinturas de @michaelhedgesart