dez notas para tactear a ausência, de Britos Baptista


i

quando te toco,

sei bem onde eu vou.

tenho olhos,

abertos,

na ponta dos dedos.

 

ii

ponho ouvido

na boca do mundo.

ouço discurso dos teus passos,

só não sei se chegas a mim

ou se de mim partes.

confesso: difícil é entender

a língua dos teus pés.

 

iii

olhei-te.

vi,

todo mundo começa,

no chão dos teus olhos.

 

iv

pulei muro das tuas fotografias.

noutra margem,

olhei-te, abracei-te, beijei-te.

senti gosto amargo

do teu silêncio.

 

v

agora,

canta a melodia dos teus olhos

a vasta boca desta noite,

que me chora,

dentro.

 

vi

não

consegui remar

contra as ondas do silêncio.

agora,

estou na margem da palavra,

que te escondia!

 

vii

 

teu olhar

é esse poema cheio de rios,

que

a boca das minhas mãos canta,

à lua.

 

viii

e,

abre as pernas a areia.

o vulcão-rosa arde,

ao rigor do fogo

dum pau preto

aceso.

 

ix

tu

és maior pássaro que escrevi

no colo da lua

 

x

silêncio morreu atropelado

quando gritei teu nome

aos ouvidos da lua.

 

 

Britos Baptista, moçambicano, nascido no distrito de Mocuba, na província da Zambézia, em 29 de Março de 1992. É Tradutor e Intérprete Ajuramentado de Francês/Português e vice-versa. É licenciado pela UEM (Universidade Eduardo Mondlane). É membro da AMOJOF (Associação Moçambicana de Jovens Francófonos) e do Clube Do Livro de Milange e Coordenador do Clube Do Livro de Quelimane. Foi um dos vencedores do concurso de poesia Desenha-me A Tua Liberdade, em 2016 e foi segundo classificado, no concurso de Poesia Printemps Des Poetes, em 2019. Participou na antologia poética Melhores Novos Poetas Africanos, em 2016 e na colectânea de poesia Desenha-me A Tua Liberdade, no mesmo ano e participou na colectânea de prosa: 19 cartas para a covid-19, organizada pele Xitende, em 2020.

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