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["Quem de nós não morre quando todos morremos em Muidumbe?" Nelson Saúte, in O Pais 08 de Junho 2020]
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no inflexível tempo que flui
dentro do pêndulo
repartimo-nos do gume
a dor que enforca o sonho
ai como me dói…
dormir a noite no bosque
e nos tapumes da madrugada
despertar o corpo do nosso irmão
suturado de balas
sem memória
e calado no duro silêncio
ai como me dói…
a boca que rasga o grito
para o ouvido de nenhum que ouça
escorre pela terra
terra que sangra dentro do fogo
repete – se, repete – se a vertigem
a morte perseguindo o tiro
ai como me dói…
Alerto Bia
Dezembro, 2020