ai como me dói…


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["Quem de nós não morre quando todos morremos em Muidumbe?" Nelson Saúte, in O Pais 08 de Junho 2020]

***

no inflexível tempo que flui 

dentro do pêndulo

repartimo-nos do gume 

a dor que enforca o sonho


ai como me dói…


dormir a noite no bosque 

e nos tapumes da madrugada

despertar o corpo do nosso irmão

suturado de balas

sem memória 

e calado no duro silêncio 


ai como me dói…


a boca que rasga o grito 

para o ouvido de nenhum que ouça

escorre pela terra

terra que sangra dentro do fogo

repete – se, repete – se a vertigem 

a morte perseguindo o tiro


ai como me dói…


Alerto Bia

 Dezembro, 2020


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