Meu orgulho em ser moçambicano é saber que nos importamos com cada mês do ano, seja lá o que isso significa. Não são só as estações estabelecidas por questões de ordem natural agrupadas em meses. Não é só o inverno ou o verão, é tudo isso em volta de cada um deles. Os moçambicanos vivem cada um deles, constroem hábitos e costumes por cada um deles, e não é como o resto do mundo, é a moda moçambicana mesmo, tipo ao estilo país do pandza, da marrabenta ou sei lá que outra musomarca pelo qual somos conhecidos Moçambique a fora.
Neste país das maravilhas o Janeiro dos comuns de lá dos bairros dos heróis e tantos outros é sinônimo de pouca sorte nas contas. Talvez o December time tenha sido bom ou ruim, mas o bom Janeiro é um rio de bolsos vazios dos homens e mulheres desta nação. E aí vem o Fevereiro fazendo parecer que tudo vai melhorar, talvez seja a overdose do amor no tão aclamado São Valentim, mas certo é, que aquelas típicas enxurradas que galgam em direcção a Março só relançam as dores que talvez estivessem passando com a ajuda dos finais de semana recheados de derivados de cevada produzidos nas bandas da Machava, bom, por cá a quem diga que Bobole não fica atrás, por mais que em verdade, uma cerveja não equivale a um bloco; esse é o país do pandza.
Aí vem o mês da mulherada, coitada da Josina, mal sabia ela que algumas das moçambicanas que a representam ostentariam alcunhas como Marhandzas, mulheres de Óleo ou caçadoras de ATM, mas é Abril nem, então vamozembora, viva a mulher moçambicana.
Quem diria que escravos crioulos, ou sindicalistas trabalhistas que cansaram de comer pão sem fermento há mais de 100 anos nos dariam direito a uma folga, que se dane se trabalhamos bem ou mal, nesse mês que celebra os assalariados, só queremos camisetas novas, de preferência bordadas, essas estampas não nos dignificam, bonés e uma refeição entre amigos, ou entre colegas, sei lá, pouco importa, e como no mês anterior, que não faltem capulanas para as senhoras, faz favor.
Junho, um mês em que todos certamente lembram o saudoso Samora, primeiro no dia que todos lembram por mais que seja por um instante minúsculo das tais flores que nunca murcham as quais o Saudoso levava ao colo sempre que se dirigia a nação, pena que naquele dia, em que se declarou a liberdade desta nação, nenhuma criança tenha sido levada ao colo como de costume. Talvez pelo trauma de Moeda... maldita lembrança desagradável.
Bom, quem diria que o mês do número da perfeição não teria uma folga para esta pobre classe de assalariados e desempregados desafortunados, talvez fosse a predição do malfadado mês de Agosto, bem, bem esse é um mês por se estudar, não sei se nele celebro a juventude ou me apavoro com os ventos desvairados e enlouquecedores que “empueiram” as gentes nas bandas de barro e areia vermelha.
Alguém se lembra da armada moçambicana, pois é, os caras que em 64 iniciam com a defesa da honra e da liberdade desta nação, bom, em 7 de 74, Deus respondeu as suas presses e honrou sua gravura. Saudosos heróis nossos, o primeiro tiro valeu mesmo a pena. Pena que por 16 anos as armas soaram naquilo que chamariamos de conflito interno, não fossem os moçambicanos abatidos numa guerra sem proposito plausível, opinião, minha opinião. Mas isso não importa mais, a 4 de outubro de 92, nos livramos dessa armada fria, mas que doidera!, como pudemos nos esquecer do papá Samora, tudo bem que não é seu aniversário natalício, mas phooo, é o papá Samora, até os que vivem na 10 de Novembro sabem disso. Pena que as bebedeiras de Dezembro nos farão esquecer tudo isso, até do menino Jesus, pelos menos não o quisemos matar como Herodes, perdão, corrijo, esperamos completar 33 anos para isso. Mas como disse, somos o país do Pandza, da Marrabenta ou talvez ainda só sejamos a linda e paradisíaca pérola do índico.
Por Calisto Moura