Quer dizer, estás com ele por amor, só?



Reguilas não nasceram para morar com uma mulher, irmã. Sempre te falei. Eu não entendo, sabes. Mas bem, bem, bem, como é que aguentas isso? Precisas de uma libertação, amiga. Não aquela libertação dos pastores que andam por aí. Nós não temos dinheiro para eles enquanto a fábrica de cerveja estiver aberta. Falo da libertação da mulher. Sim, aquela libertação que vem nos livros de História da Frelimo. Tu não és mulher emancipada, irmã. Ficar a chorar todos os dias por causa de um homem também não dá. Sabes, tu não és uma eu assim, que depende de calcinhas de praia, roupas apertadinhas para sobreviver. Tu trabalhas, tens um carro chique para nossa pobreza e uma casa em Boquisso. Para quê perseguir um canudo que não te ajuda em nada? Diga-me uma coisa, talvez eu possa te dar razão. O teu marido tem algum dinheiro escondido ou uma herança? O teu marido remata lá? Tem um bom emprego? Quer dizer, estás com ele por amor, só?

Viver é uma arte. O que vais dizer aos teus filhos daqui há 20 anos? Principalmente as tuas filhas, se tiveres. Elas vão querer saber um pouco sobre a vida. Vais dizer que amaste muito ao pai delas? É triste o que vives, irmã. Nem na Bíblia existe tanta santidade. Tens que usar Facebook e WhatsApp para coisas úteis. Lá no WhatsApp, exemplo, eu tenho um grupo que só discutimos sobre homens. Tudo sobre homem. Tamanhos. Comportamentos. Tudo mesmo. Aquele grupo é a minha escola, amiga. Você ouve muita coisa de mulheres experientes. Mulheres que sabem o que é dor maior que o parto. A vida, amiga. A vida é uma arte. Já se achas que o choro, reclamação e magreza é a base da tua sobrevivência, eu estou aqui para apoiar. Sempre. Já, se quer mudar a situação, ganha tempo e vamos agora levar as malas e mandar aquele reguila fumar lenha.

Tu até podes condenar o jeito que vivo. Mas eu sou feliz, amiga. Bem feliz. Nunca falhei pagar renda. Nunca durmi com fome. E não me falta perfume, cabelos e tudo mais. Eu não vivo aquela felicidade de memes no Facebook e WhatsApp. A minha felicidade é esta que vês. Sabes, às vezes a sociedade dá nomes errados às pessoas. Como eu não trabalho e não tenho marido, para muitos sou marandza. Eu sou uma sobrevivente. Marandza é um nome feio. Eish, sabias que na UEM até já tem monografias sobre Marandzas? Estão a tentar entender como é que isso muda a sociedade. Mas a resposta é simples - há mais mulheres independentes como eu em Moçambique. Voltando ao teu assunto, amiga, desculpa. Liberta-te antes que seja tarde. Quer dizer, tens de voltar cedo para casa, cozinhar e ainda dar para uma pessoa que às vezes desejas matar? Achas justo? Não quero te ofender, mas as escravas de hoje em dia são vocês assim, que dormem e ainda chupam os vossos inimigos.


Por Jorge Azevedo Zamba

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