Mar Africano e outros poemas, de Jorge Pimentel



MAR AFRICANO

Ó MAR AFRICANO
catacumba de escravos
tua espuma branca viu
uma rosa
amar um cravo

Em tuas ondas
repousa Iemanjá
canta Kianda
e mais nem um
Orixá

Alegra-te!
E molha-me
que já é altura
se ontem foste
já não és sepultura

Soma a saudade
não subtrais a distância
   ...& dás aos flamingos
toda tua fragrância

No banco:
nossas conversas
por rumo mudar
teus lábios...
(por trás da máscara)
    ...por beijar

        O laço?
Nem a saudade desata
nem desata o laço
   a saudade

Segue somando saudade
segues somando silêncio
  ...silenciosa...
      rosa cor de rosa
          ...fogosa!


HORA C

Hora C de comer...
Hora C de comer calulú...
Hora C de comer calulú de carne...
Hora C de comer calulú de carne seca,
lamber dez e mais uns dedos
e dizer de barriga cheia
que a carne não presta!

Hora C de caminhar...
Hora C de cá miar à couto...
Hora de viver sem hora
que a vida é agora
e sempre vai saber a pouco.
E é mesmo assim:
ora não, ora sim, ora acção.

Hora C de cintura de mulher!
Hora C de cacimbo que faz cambalear
Hora C de Cassua que não quer aceitar...
Hora C de cantar canções ao mar
Hora C de [não me] co(n)vid(ar)

Hora C de cantigas de (pré) cabunda!
Hora de cantarolar e canta rodar
e quiçá ... canta pular!


LEBLOUH

Toma diluído leite
Sorria. Fique atraente
Diga aos homens
Tua idade nas ancas

Bebe que mata sede.
Não é qualquer leite.
É água do deserto,
Leite chama beijo.
É desejo liquefeito.

Se não bebes, te belisco.
Se bebes, dançam contigo,
Ao mais belo som
De um velho gira-disco.

Bebe menina, bebe.
Serás rainha do Sahara
E em vez da cabeça,
Terás coroa na cintura.


DEUSA AFRICANA

(em comemoração do dia da mulher africana)

I
És tu mulher
o único deus,
a ti mulher
recuso dizer adeus.

II
És tu mulher
com teu elesu
quem toma o horizonte
de vinho e volúpia

és tu a fonte.

III
É tua cintura, mulher
bacia do Congo
o que é Afrodite
senão tua gingongo?

IV
Se andas nua
é porque
te vestes de fogo,
se não vejo a lua
é porque guardas 
no teu olho.

V
Tens toda lava
do Kilimanjaro
depositada na língua.
O que és tu
senão pura poesia?

Teu coração...
único tambor d’África!


Sobre o autor: Jorge Pimentel é seu nome, aos 23 de Janeiro de 2003 viu a luz; escreve desde o ensino primário, faz poesia há quatro anos. Reside em Benguela, província de Angola; estudante de Estomatologia no Instituto Técnico de Saúde de Benguela. Apresenta-se aqui em carne, osso e poesia.

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