MAR AFRICANO
Ó MAR AFRICANO
catacumba de escravos
tua espuma branca viu
uma rosa
amar um cravo
Em tuas ondas
repousa Iemanjá
canta Kianda
e mais nem um
Orixá
Alegra-te!
E molha-me
que já é altura
se ontem foste
já não és sepultura
Soma a saudade
não subtrais a distância
...& dás aos flamingos
toda tua fragrância
No banco:
nossas conversas
por rumo mudar
teus lábios...
(por trás da máscara)
...por beijar
O laço?
Nem a saudade desata
nem desata o laço
a saudade
Segue somando saudade
segues somando silêncio
...silenciosa...
rosa cor de rosa
...fogosa!
HORA C
Hora C de comer...
Hora C de comer calulú...
Hora C de comer calulú de carne...
Hora C de comer calulú de carne seca,
lamber dez e mais uns dedos
e dizer de barriga cheia
que a carne não presta!
Hora C de caminhar...
Hora C de cá miar à couto...
Hora de viver sem hora
que a vida é agora
e sempre vai saber a pouco.
E é mesmo assim:
ora não, ora sim, ora acção.
Hora C de cintura de mulher!
Hora C de cacimbo que faz cambalear
Hora C de Cassua que não quer aceitar...
Hora C de cantar canções ao mar
Hora C de [não me] co(n)vid(ar)
Hora C de cantigas de (pré) cabunda!
Hora de cantarolar e canta rodar
e quiçá ... canta pular!
LEBLOUH
Toma diluído leite
Sorria. Fique atraente
Diga aos homens
Tua idade nas ancas
Bebe que mata sede.
Não é qualquer leite.
É água do deserto,
Leite chama beijo.
É desejo liquefeito.
Se não bebes, te belisco.
Se bebes, dançam contigo,
Ao mais belo som
De um velho gira-disco.
Bebe menina, bebe.
Serás rainha do Sahara
E em vez da cabeça,
Terás coroa na cintura.
DEUSA AFRICANA
(em comemoração do dia da mulher africana)
I
És tu mulher
o único deus,
a ti mulher
recuso dizer adeus.
II
És tu mulher
com teu elesu
quem toma o horizonte
de vinho e volúpia
és tu a fonte.
III
É tua cintura, mulher
bacia do Congo
o que é Afrodite
senão tua gingongo?
IV
Se andas nua
é porque
te vestes de fogo,
se não vejo a lua
é porque guardas
no teu olho.
V
Tens toda lava
do Kilimanjaro
depositada na língua.
O que és tu
senão pura poesia?
Teu coração...
único tambor d’África!
Sobre o autor: Jorge Pimentel é seu nome, aos 23 de Janeiro de 2003 viu a luz; escreve desde o ensino primário, faz poesia há quatro anos. Reside em Benguela, província de Angola; estudante de Estomatologia no Instituto Técnico de Saúde de Benguela. Apresenta-se aqui em carne, osso e poesia.