Créditos da imagem: Cipriano
Matola (Ilha do Ibo – Cabo Delgado)
I
— Pai, de que cor é a
sombra do fogo?
— É claro que é de cor
vermelha, meu filho!
II
E, a brutalidade das
chamas mostra: o fogo, que nos arde a voz, é um animal com nome de gente!
III
Então, o perdigão dispara
os seus dentes à areia. Fogo. Chamas lambem os lábios da minha ira.
IV
Dói-me, arde-me,
queima-me, o sorisso, azul(ado), desse pássaro, que me olha — com as mãos de
fogo.
V
Quem dança a música do
fogo, tropeça, nas cinzas de sua pele. Dancemos os olhos, para dentro do coco.
É preciso lavar o pranto, nas águas do Zambeze.
VI
Ardeu a gramática do
fogo. Meti as mãos, nos bolsos da cinza. Procurei vestígios de semântica. De
nada me valeu o gesto. Mas, não calei os olhos.
VII
Arde a casa da minha voz.
Confesso: Dói-me ver o fogo rindo-se do suor das minhas mãos.
VIII
Só, sombras atravessam o
fogo, sem queimar o corpo da casa maior. E, as janelas recolhem e canalizam as
cinzas à ressurreição. Nada pode atar a boca dos olhos — de gente como eu!
IX
E, a casa ardeu, no olhar
da acácia. Todo gajo sabe a cor da sombra, do fogo — a mover as unhas, na pele
dos homens. O som — a voar para fora dos poros — é cinza duma voz, que também é
minha!
X
Da janela do fogo, pula a
boca das bocas, como a minha — a arder as mãos e os pés. A história é um local
onde se armazena a cinza da coisa dita a sangue frio — o nome laminado de gente
como eu — a cortar as raízes do fósforo. Rios, presos ao sorriso, gaseificado e
petrolífero, cantam a próxima combustão.
Sobre o autor: Britos Baptista, moçambicano, nascido no distrito de Mocuba, na província da Zambézia, em 29 de Março de 1992. É professor. É tradutor e Intérprete Ajuramentado de Francês/Português e Vice-versa. É licenciado pela UEM (Universidade Eduardo Mondlane). É escritor e poeta. É membro da AMOJOF (Associação Moçambicana dos Jovens Francófonos) e da AEZA (Associação dos Escritores da Zambézia). É Coordenador do Clube do Livro de Quelimane. Foi um dos vencedores do concurso de Poesia Desenha-me A Tua Liberdade, em 2016. Participou na Antologia Poética Melhores Novos Poetas Africanos, em 2016 e na colectânea de poesia Desenha-me A Tua Liberdade, no mesmo ano. Foi segundo classificado, no concurso de Poesia Printemps Des Poètes, em 2019. Participou na Antologia 19 cartas para a covid-19, organizada pela Xitende, e publicada pela Oleba Editores, em 2020.