Correr não é fácil mesmo quando somos perseguidos por um Guadjisa da Baixa. Imagina em Matalane? É que a vida também está-nos djimar aqui. Preferimos ir djimar lá em Matalane para depois guadjisar legalmente. Na vida é preciso escolher o tipo de burla a seguir. Por aqui era acordar, banhar e sentar no muro com malta Miguel, Sandra e aquela moça dali que parou de estudar porque traiu o namorado. Estás a ver nem? Não é fácil, irmão. Agora imagina uma eu assim, a correr todos os dias em Matalane!
Na verdade já não tenho mais aquela vontade de pegar na arma e chamboco para ameaçar e educar o cidadão. Era para ser uma vez só. Eu lembro. Ele, o chefe disse ao seu subalterno: "Convide 19" e eu fazia parte. A novidade deixou-nos feliz porque disseram que o convite das 19 implicaria comer bem, dormir bem e não treinar até ao dia da graduação. Imagina só, irmão. Quem não quereria sentar a ver os manos a ficar mais escuros e a fumar cigarros e Mbangue para aliviar o sofrimento? Quem? Está é a consequência, mas vou arranjar outras burlas depois do parto. Talvez lá em Chibututuine ou ADDP lá em Gaza para ser professora. Ser polícia não quero mais. Nunca. Prefiro ficar aqui no bairro a viver de boladas do meu boy. Ele já entendeu, mas às vezes grita comigo. São cenas, irmão.
No próximo ano. Depois do próximo ano e mesmo depois de 10 anos, Matalane vai djimar a vida das meninas. É que os têm esposas feias e velhas. Imagina quando eles olham para tudo isto. Meu irmão, mesmo agora que estou grávida. A lista não pára. Mas eu... Juro que vou me vingar daquele senhor. Chorar eu? Cortei muita cebola antes de chegares. Essa criança ele vai criar bem mesmo. Ou eu não me chamo Gertrudes wa ka Kossa. Mas é duro sabe, irmão. Muito duro. Dar para nada. Olha para isso, barriga inchada e nem sei se o bebê será inteligente ou não. É verdade. Dei para nada
Por Jorge Azevedo Zamba