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Ao ritmo do tantã, as águas dançavam contumazes, exibindo
passsos exuberantes ensaiados desde a idade da pedra. Os xamãs arrebatados
trajados a capulanas arco-íris, liánas à cabeça, adornos de guerrilheiros a
condizer, pois estavam prontos para pelejar em oposição aos moya ya chaka, diga-se aos espíritos
agourentos.
De olhos fechados como se não quisessem presenciar um
momento insano, rogavam e invocavam seus antepassados. As crianças sustidas
pela candura, estateladas sobre a capulana baça que boiava no mar pomposo como
ordenara o pai. Matxasi era uma jovem jactanciosa domanda pela mocidade. Agia
de forma espontânea e essa espontaneidade e vanglória lhe trouxeram
consequências.
Logo após concluir a licenciatura casara com um rapaz
citadino que conhcera no percurso académico,
dessa união colheu-se dois frutos. Após um tempo vivenciando um amor utópico, o
fogo que outrora ardia sem se ver, findara a olho nú. Cessaram os dias da esplêndida
aurora. Eis que no advento da noite, fez-se uma completa orgia conjugal. O amor.
O amor não suportara a eminência do caos e depois de muito vai e vem, o casal
divorciou. Mãe, agora, subiu ao pódio altiva na briga pelos filhos. E ele, o
pai, ragressou à terra natal Nampula, a qual tinha abondonado por conta dos
estudos, depois de praguejar contra os seus.
Apartando-se, Nereu, as crianças foram tomadas por uma
enfermidade que piorava à medida que a Matxasi procurava soluções. Xamãs, Magos
e Oráculos foram consultados, cada um com métodos mais absurdos que o outro
para enganar. Depois de muita demanda sem sucesso, decidiu então contar ao pai
das crianças a situação e este confessou ser o mentor da desgraça. Ressaltou
que para cessar o sofrimento teriam que cumprir o exorcismo, levando as
crianças às águas sagradas do mar e as colocassem em pano branco. Com auxílio
dos n’yangas, ter-se-ia que esconjurar
espíritos remotos profanos e, por conseguinte, os n’yangas, esses sabedores da ciência do mundo-dos-espíritos, deviam
invocar os vafi, seus entequeridos, para assessoria. Matxasi anuiu.
Chegado o dia, escolheram um momento poético para actuar na
serenidade do poente encendiado. Na margem da praia da costa-do-sol, optaram
pelo lado menos movimentado, porém num júbilo a areia os recebia afavelmente
fazendo carícias corteses.
Dundum-tatã, subitamente avançou um dos rapazes com as
batucadas, reagiram os demais e em pouco estavam todos aos solavancos. Os n’yangas dançavam para acompanhar as
ondas, enquanto bradavam o mais alto que pudessem. Quiçá tencionassem ser
escutados por Proteu, o primogenito do Oceano.
Após horas findaram os tantãs e as deblaterações. Abriram
os olhos espreguiçando, com a visão frouxa depois de muito tempo no escuro. Precisavam
acostumar-se novamente à claridade. E as crianças, naquele instante, já lá não
se encontravam. Esfregaram as pálpebras para aferir com nitidez e comprovaram.
Haviam desaparecido! Quiçá tivessem sido atra֯ídas pelo esplendor das águas ou escutado o chamado dos Ngunis no fundo do mar. Quiçá.
Puseram-se todos num surto chamando pelas crianças,
interpelando até os dementes errantes que deambulavam à beira-mar. Procurando-as
desesperados, tendo consultado até os mais temidos n’yangas da METRAMO e que nada esclareciam. Limitavam-se em dizer que
só poderiam resolver o problema na presença de Nereu, pai das crianças.
Matxasi viu-se uma vez mais, obrigada a contar o sucedido
ao pai dos filhos. Este que sem nenhum espanto, mandou prescindir as buscas pois
os filhos encontravam-se junto dele.
Sobre a autora:
Raquel Artur Miambo é aspirante à literata, à ensaísta e graduanda em Literatura Moçambicana pela Universidade Eduardo Mondlane - UEM. Tem interesse em estudos sobre Antropologia Linguística, sociologia, Literatura e outras artes.
Contacto: raquelarturmiambo@gmail.com