O que a dúvida, incerta do nome, veicula de modo latente é que o que terá ocorrido é, ao final[...], a verdade do desejo, tal como a Arte [...] a capta e fixa.– Alain Badiou, "Pequeno Manual de Inestética"
É injusto classificar uma obra de arte sob o ponto de vista de números. Nas mais vezes os números não traduzem o que sentimos, o que a obra nos quer dizer. Por exemplo, dar nota a “Um Mc Perdido em Maputo” é assumir que é uma obra qualificável numericamente, o que não corresponde à verdade, pois detém nela os elementos necessários para classificá-la como uma obra de música (Rap) excelsa, o que me faria dá-la a pontuação máxima, 10.
Desde a primeira faixa “Sejam Bem-vindos”, que é uma introdução ao conteúdo abordado na EP, já se abre uma leitura àquilo que são os ‘mundos de vida’ em que o Mc convive, o seu percurso. Nessa faixa, a qual é introdutora Bathist faz um convite aos ouvintes, explicando quando se rebentou em si a veia artística e tentou suturá-la em instrumentais de música. Faz um convite para aqueles que tanto o ouviram e viram nalgum momento perder as forças, mas mesmo assim exigindo que ele lançasse as suas canções e se expressasse. Esse é o chamado que faz para que o ouçam.
A segunda faixa intitulada “1 Mc Perdido em MPT (Maputo)”, é a faixa que dá nome a este manifesto musical em forma de EP. Ainda na senda da ideia apresentada na faixa introdutora, uma abordagem mais lírica, i.é, uma enunciação dos sentimentos do Eu-músico, Bathist Mc, nessa faixa trata de seu percurso, as dificuldades e os ossos do ofício na música rap. Através de uma narrativa de sua história como rapper, apresenta elementos da Cultura Hip-hop/rap de raiz, desde as abordagens líricas pejadas de nostalgia ao referir que “eu entrei nessa viagem nos tempos de cassetes/ lá para os anos 1999...”, e nessa época na qual entrou para a Cultura Hip-hop sentia-se como se tivesse participado junto aos fundadores da cultura hip-hop, mencionando os pais fundadores do movimento hip-hop. Esta EP apresenta-se versátil em conteúdo, sustentando-se uma obra musical de grande valor, nisso nota-se uma fusão entre o lirismo musical do rap com instrumental e um coro Reggae na voz do grande Ras Soto.
No concernente a terceira faixa, “Tá impossível trabalhar”, nota-se uma abordagem musical que remonta às origens do Hip-hop/rap, onde era lugar-comum a crítica, a afronta e a denúncia de situações de injustiça, a corrupção e a condição de vida dos jovens. Com uma instrumental que remonta as técnicas virtuais de criação ligadas aos ‘samples’ ou partituras de outros ritmos musicais, uma voz faz chão na instrumental para que a voz do Eu-músico deslize. Bathist, assumindo-se um storyteller, musica a história de um jovem de Maputo que, após o término do ensino secundário, com as forças, motivações e esperanças erguidas pela idade dos sonhos vivos corre atrás de um emprego, porém há exigências exorbitantes no mercado de emprego as quais se resumem em injustiça, nepotismo e falta de reconhecimento de quem vêm de família nobre; Bathist denuncia falhas no Sistema político, económico e social que, mesmo após o jovem se ter formado, ter feito cursos de capacitação é sujeito a burocracias que o incapacitam de trabalhar daí que o refrão denuncia: “Tá impossível trabalhar/ Tá impossível trabalhar/ Tu podes tentar, se não tiveres padrinho/ o sistema vai-te parar”.
A quarta faixa desse musical é um freestyle com o título “1 Knock Out Lírico”, Bathist invoca um lirismo “das ruas”, fala do seu amor à cultura hip-hop, graceja de pseudoliricistas, os quais andam bem trajados, porém a arte que lhes devia ser a veste não a têm. Sendo um K.O. Lírico, ele disfere golpes tais como “...vejo rappers na TV de carros e fatos alugados/a imitarem-se tipo macacos/ dizem ser os melhores quando estão em cima do palco/ mas quando me vêem todos fogem tipo ratos/ mas eu os catcho (do inglês catch), querem bifes eu os amarro...”. A instrumental dessa música é dura, daquelas que nos levam de regresso a “era de ouro” do hip-hop.
Bathist musica os valores humanos, a justiça, a liberdade de expressão de ideias e as situações de opressão e ‘terrorismo’ no norte de Moçambique que ainda hoje deixa milhares de famílias entregues à sorte, instituições e residências destruídas. A quinta faixa, “O caso de Amade Abu Bacar” tem a participação de Big Master C. Através de recortes de noticiários ou simples ‘speeches’ que auxiliam os Mc’s a reforçar o conteúdo das suas letras, Bathist e Master C exaltam a alma para dar expressão à soltura de Amade Abu Bacar, clamam pelo jornalismo que informa e forma o cidadão e combatem o silêncio que se alimenta do medo; criticam e denunciam a prisão de Amade o qual inocentemente foi posto em cárcere privado, no entanto, porque a esperança é a última a morrer no Homem, advoga o refrão dessa música: “Viva a soltura de Amade Abu Bacar/Justiça é lei não se pode alienar/ A mesma justiça que ontem te condenou/ é a mesma que vai te ilibar”.
Porque a música é expressão de todo sentimento que se vai à alma, a sexta faixa, “Família por que te destróis” expressa uma história de amor familiar, traz uma abordagem musical sobre os valores éticos e morais, a vida conjunta e menos pesarosa quando se vive em família e, acima de tudo, questiona “Família minha, porquê que te destróis?” O lirismo aqui expresso é ornado pela belíssima voz feminina de Acimina que faz o refrão. Com uma instrumental penetrante, o sample invoca a nostalgia dos momentos em família que se escorrem através da voz do Mc.
Porque a música significa alegria, é também para festas, para diversão e não só reflexão e denúncia, Bathist e Kay Lírico dão a sua voz e alma e aí surge a última faixa da EP sob o título “Tamos aqui na night”. Com a colaboração de Kay Lírico, um Mc também bastante forte e representativo quando se fala do cenário rap da nova escola e o refrão da Acimina, que confere um toque diferente ao jogo de vozes na música, os ritmos da instrumental são um convite para o ‘carpe diem’ da noite que é característico das festas de jovens. A música “Tamos aqui na night” tem uma instrumental mais ‘bounce’, positiva e agitada de acordo com o objectivo do tema que se propos. Assim, a voz da Acimina, tão suave, convida-nos a estar na ‘night’, a viver as maravilhas das noites com o alcance do ‘happy hour’ a partir das 17h, nas sextas-feiras.
Além dos valores que acima apresentei contidos na EP, que são ligados a uma imagem socialmente reconstrutora e edificante que a música Rap traz desde a fundação da Cultura hip-hop, Bathist Mc revelou-se-me, enquanto o escutava, um liricista maduro em suas abordagens. A diversidade de temáticas e assuntos que permeiam a vida social fazem-me, portanto, considerar magnifica essa criação artística. As músicas que para mim nesta EP desfilam mensagens fortes são “Família por que te destróis”, “O caso Amade Abu Bacar” e “Tá impossível trabalhar”. Para mim elas tem um teor histórico relevante, serão capazes de nos demonstrar, em casos de estudos sociais futuros por meio da música, como é que se estruturavam os valores familiares no momento presente, como lidávamos com a justiça, a liberdade de expressão e de imprensa e, também, com a questão dos valores humanos como o reconhecimento das pessoas pelo trabalho que fazem e não pela origem nobre que eles têm por detrás de si.
Apreciei ao todo as instrumentais, desde as da linhagem clássica, com ‘samples’ e partituras de ‘speeches’ noticiosos às de bouce, uma musicalidade mais leve e suave. Mas, tem também por conta da ousadia de construir uma música rap em instrumental Reggae. Isto me faz admitir que Bathist está a fazer música, está a expressar sentimentos e não simplesmente preconceituosamente Rap. Enfim, criando uma EP versátil e global em termos de consumidores, visto que é possível se depreender não de forma forçada mensagens que se alastrem para variados tipos de sujeitos e seus gostos, é, portanto, recomendável essa EP.
Por: Daúde Amade,
Maputo, 11/07/2020
Sobre o Autor da EP: Bathist Dmc é um jovem rapper, poeta, escritor e roteirista, nasceu a 21 de outobro de 1986 na cidade de Maputo, concretamente no Bairro Polana Cimento. Começou a fazer Hip Hop lá para os anos 1999 no colégio SOS, com alguns colegas de carteira como o Dário Macondaif (Donners), Taços, Amarildo, e Mário Jornal. Após ter começado a rimar, foi membro fundador de algumas crews como The Flusters Squad. Em 2005 gravou a sua primeira música oficial, no estúdio da Tchaya Records, entitulada Vida de Rua. Em Agosto de 2013 Bathist abraçou a união pelo movimento Hip-Hop, tendo-se juntado ao colectivo Siderurgia Núcleo de Hip-Hop, passando a ser Rapper e Activista e daí em diante contribuíndo para reflexões, críticas e análises escritas sobre Hip-Hop. 12 anos após ter gravado sua primeira música oficial, Bathist Dmc encontra-se prestes a lançar o seu primeiro trabalho discografico - a EP entitulada 1 Mc perdido em Mpt.
Esta EP contará com a participação de artistas proeminentes e também revelações como Ras Soto, Acimina, Kay Lirico, Loló, 1DDHH e mais, também vai contar com faixas como: 1 Mc perdido na Mpt, Está impossivel trabalhar, Familia Porque te destrois, estamos aqui na night e outras. As produções ficaram a cargo dos produtores: Amand Alphonse, Fu da Siderurgia, G Moses, Ghoustbeats e 7 Kruzes. Prevê-se também a gravação de 2 vídeos de duas faixas desta mesma EP.
Para mais informações ou entrar em contacto com o autor consulte aqui 1 ou 2 ou ainda pelo e-mail aqui 3 ou 4 .
Moçambique Stand up, já está disponível para venda Digital a EP do rapper Bathist Dmc intitulada 1 Mc Perdido em MPT, esta EP conta com a participação de artistas talentosos como: Ras Soto,
Big Master C, Acimina, Kay Lírico. A produção esteve a cargo de produtores Proeminentes como: Amand TBMK, G Moses, Freakin Genius, X Ghoust e K Phy.
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