SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2020
A cidade está calma. São poucas as pessoas que circulam nas ruas e avenidas e, por isso, os mercados estão às moscas. Alguns jovens lavam os seus carros do Car Wash. Suponho que seja para SEXTA guardá-los porque a rua mais movimentada da Baixa e outros locais de diversão noturna também estão sendo afetadas pela quarentena. É uma sexta obrigatoriamente santa.
O chuvisco continua a molhar o chão que se recusa a ficar húmido. Por volta das 13h30 telefonei para a minha esposa e disse-me que foi trabalhar, mas a sua escola não tinha sequer água para beber. A informação deixou-me entristecido e sugeri que ela comprasse um gel para se proteger. Era o mínimo. Ela argumentou que não fazia sentido estar na escola em tempos de quarentena para fazer exercícios para as crianças. Repliquei argumentando que um mês é tempo suficiente para uma criança pensar que a letra A é um tipo de talher para usar à mesa. Riu-se e por fim disse que estava com saudades. Também estava mas o crédito impediu que eu me confessasse.
Normalmente falo com a minha esposa três a quatro vezes ao dia. Grudamo-nos ao telefone até que um de nós lembre-se de fazer alguma coisa. Na terceira chamada ela disse que teve um sonho estranho. Alguém estava a arranhá-la e ela, certamente, ficou assustada. Acordou e foi lavar as mãos e voltou a dormir. Para mim foi um sonho gracioso porque fê-la levantar-se e lavar as mãos - Iniciativa incentivada para combater o Coronavírus. Eu nunca acreditei que um leão pode devorar uma pessoa em um sonho. Ouvia os medos da minha esposa com uma cerveja na mão e, também, pensando no significado de um sonho na perspetiva africana. Se eu sonho com um amigo com catana, talvez seja invejoso ou feiticeiro. Mas o que é determinante para que este sonho ocorra? Pensei em recomendar um livro de Sigmund Freud, Interpretação dos Sonhos. Mantive-me estático e esqueci essa ideia de obrigá-la a gostar dos meus livros. Por fim, disse que tinha sido um devaneio simples e que devia se proteger dado que os dias se desenrolavam e os casos de COVID-19 aumentavam. Ficou furiosa porque queria que eu dissesse alguma coisa a respeito dos seus sonhos.
Às 18h20 fui à farmácia para comprar uns preservativos. Supliquei a uma jovem para que viesse me visitar. Ela aceitou, meio receosa, mas por volta das 21horas encontrámo-nos e falámos sobre o Lobolo e o preço que ela, supostamente, iria sugerir caso alguém decida monopolizar a sua pessoa. Ela rematou com uns 50.000 MT e adiantou que o valor seria cobrado pelos pais e não teria como protestar. Meneei a cabeça e quando chegámos à casa vimos um filme por uns minutos e posteriormente tirámos a roupa.
Por Jorge Azevedo Zamba