Cabo Delgado também é Moçambique


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Tencionava destacar-se em papéis A4 essas falas; necropolítica, terrorismo, genocídio, Estado nu, mulher fraca, e fixar na chegada da Casa do povo, Assembleia da República, só para ser morto, que se diga, o herói que matou a Quimera, um monstro que cuspia labaredas, tinha cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente. Imagino que conheça essa mitologia helénica. A parte mais interessante é essa; em que o rei Tirinto solicitava ao sogro um lúgubre serviço:
- por favor te peço que varras deste mundo o portador desta carta que tentou violar minha esposa e tua filha. – Como assim? Voltamos mais tarde.
Hah! Seria guerra justa aquela em Cabo Delgado? É mesmo guerra justa aquela!
Deixa eu lembrar, guerra justa é essa: justos recursos a guerra (jus ad bellum); justa conduta na guerra (jus in bello) e a justiça após a guerra (jus post bellum). Encaixa-se muito bem essa palavra, TERRORRISMO, nessas teorias citadas, ou talvez essas palavras de novo, genocídio e necropolitica.
Sabe nós podemos até pensar que é terrorismo, eu não creio. Pode sim ser a necropolitica mesmo. Para não ter que imaginar o inimaginável, quereria atirar essa crónica no pórtico da presidência da república, proferindo assim: Senhor Presidente, aqui é o teu amigo Tsakane, a quantas andas a nossa felicidade, mesmo eu que sou Tsakane já não sou feliz. A propósito mudei do nome, de Tsakane para VaJra, prefiro mesmo este nome VaJra, um trovão, uma força irresistível, ou relâmpago coberto de pétalas de lótus e de lâminas. Conte a verdade para o povo Senhor Presidente. O que é aquilo em Cabo Delgado? Pensa que é guerra justa aquilo? Como tenente activo das formas armadas cuja lupa hoje lhe investe como presidente, deve saber sobre a guerra justa. Ou melhor, do terrorismo. Não existe nada que podemos fazer como seus filhos? Eu sou um mazimu, um tanto VaJra, posso-lhe ajudar sim. Conte a verdade para o Povo Presidente.
- porque somos alvo de terrorismo, no norte? Por favor não me responda alegando que, porque somos defensores da democracia, da liberdade e dos direitos humanos. Que absurdo. Eu sei que o terrorismo não é exclusivo de grupos revolucionários, pode ser o terrorismo de Estado - quando um Estado exerce crueldade contra as suas populações civis de modo a anular a contestação politica ou promovendo limpezas étnicas, ou combatendo o inimigo ali estalado. Essa coisa de equilíbrio de poder de Morganthau bem sei também Presidente.
Não quero pensar nessa hipótese, porquê o senhor presidente não profere ao povo a verdade? Nossos irmãos estão a ser massacrados todos os dias. Homicídios aleatórios, vitimas inocentes, ataque cego, o menosprezo pelas vidas e pelos direitos das vítimas. Típico de terrorismo. Está mais que claro que não é o terrorismo vermelho, mas a direita apologista do terrorismo branco, praticado em nome da ordem e de Estado.
Também não quero pensar nessas hipóteses.
Diga pelo menos a verdade ao povo. O que é aquilo? Ou é capa de anti-renamismo e do anti-sionismo e não projetos antiliberais, defensores de um nacionalismo exacerbado ou fundamentalismo religiosos? Ou será a arma contra os fracos? Se disser a verdade talvez eu deixe de ser inculto e boçal, o povo também deixe de especular. Guerra Justa? Assim mesmo! Obstruindo a democracia, sufocando a liberdade, pisando os direitos humanos, destruindo ou perseguindo líderes populares que desejam que as riquezas da sua terra sejam repartidas pelo povo que os gerou.
Voltando ao inconclusivo, temente da vingança das fúrias, que não toleravam que a vida de um hóspede real fosse ceifada, Lobadas, o rei da Lícia, encomendou a Belerofonte o dificílimo serviço de destruir a tenda Quimera, façanha que o herói alcançou com a ajuda de Pégaso, o seu corcel alado. Nós podemos destruir aquela Quimera Presidente. Admitindo campanhas terroristas nas emergências supremas, eu sei que isso é mais para situações excepcionais e terríficas, mas pode crer, aquilo em cabo delgado é terrífico, um povo que está perante a eminencia do aniquilamento e da escravização. Cabo Delgado também é Moçambique.
Bom, adeus, meu Presidente Comprei duas penas e dois vasos, um de balsamina e outro de gerânios, para lhe oferecer. Preferia, talvez, reseda? Bastará dizer-mo a sua carta, que logo ela lhe aparecerá ai no pórtico. Mas escreva-me o mais minuciosamente possível, sim? Uma coisa lhe peço especialmente: que em resposta a esta carta, escreva uma carta o mais extensa possível, a verdade é longo e o povo quer saber. Junto envio-lhe um cartuchinho de bombons. Coma-os, que lhe farão bem. Enfim espero que concorde comigo! Aquela não é uma guerra justa.

Por CLÁUDIO JOÃO SINDIQUE

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