COVID-19 e Os Meus Demónios - Capítulo 3

COVID-19 e Os Meus Demónios - Capítulo 3

QUINTA-FEIRA, 26 DE MARÇO DE 2020
Os dias são dolorosos que uma oração feita de joelho. A quarentena obriga-me a gostar menos da minha cama, excepto quando anoitece. Aliás, o chuvisco prejudicou-me ou salvou-me porque já tinha um encontro marcado com uma jovem. A pequena ventania e o chuvisco levaram consigo uma noite que desejava imponderar com um barulho dos lábios e da cama reclamando o peso. Caí no sono e não consegui mais acordar.
À tarde deste dia, tive de recusar tomar umas cervejas com o filósofo porque, primeiro, ele disse que queria tomar umas, mas estava constipado. Fiquei receoso. Em seguida adiantou que devíamos manter uma distância mínima de 3 metros. Enviei uma mensagem a cancelar o encontro e decidi ver noticias online.
Nas redes sociais circulavam uns vídeos de uns jovens do “Estado Islâmico”. O seu arsenal era, sem dúvida, maior que a Forças da Defesa de Moçambique.  Aquilo obrigou-me a avaliar as opções que tenho. Morrer em Maputo ou aventurar para mundo com uma desculpa de amar academia. Cheguei a uma conclusão: as duas opções são completamente vazias. Agora, cabe-me a mim, escolher qual será o caminho da infelicidade que iria seguir. Por outro lado, os serviços de saúde noticiaram que Moçambique já tinha sete casos confirmados. Saí para comprar uns cigarros e fumei uns três enquanto pensava em 23 mil moçambicanos que chegariam da África de Sul. Em abono da verdade, este é um dos ventos da mudança que as pessoas se recusa a aceitar. Somos novamente nómades à procura de uma solução imediata: comida.
Antes não nos comunicávamos por conta da ignorância humana e as redes sociais dominam. Não temos inteligência para medir o impacto negativo desta desumanização e, COVID-19 está em cima das nossas cabeças. Não temos uma relação amistosa e o vírus não permite que nos aproximemos uns aos outros. E quando isto passar qual será a nossa postura? Limparemos as ruas e poluiremos menos o ambiente para que a Greta fique feliz? As perguntas são parcialmente desprezíveis, mas, se tentássemos responde-las, talvez continuaríamos a destruir o nosso habitat cientes. Eu já pensei no que farei depois desta pandemia. Deixarei de fumar e também vou tirar o cabelo. É um bom começo para homens teimosos e egoístas como eu. Quanto a revolução da humanidade, se não perder os dedos e cérebro para escrever, certamente vou continuar a rabiscar alguns textos tristes.

Por Jorge Azevedo Zamba

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