COVID-19 e Os Meus Demónios - Capítulo 2



COVID-19 e Os Meus Demónios - Capítulo 2

QUARTA-FEIRA, 25 DE MARÇO DE 2020
A chuva caia sobre o meu tecto. Eram 7h40 quando despertei e olhei pela janela - Ruas vazias e o ambiente mais limpo que planetas inabitáveis. Fui obedecendo ao barulho das gotejadas da chuva em chapas da minha casa. As mesmas gotas formavam um som indesejável, mas como não tenho um aparelho que superasse aquele barulho. Submeti-me. Depois liguei o Tablet para ver as notícias - “A esposa de Eneas Comiche tem mais bolas que ele”. Reagiam os jovens sobre a revelação da Senhora Comiche. Lembrei que um dia antes fui almoçar com um amigo e, curiosamente, as 1h da tarde, um senhor que trazia Lap Top, ouvindo a nossa conversa retrucou- “ É o Comiche. Duvidam?”. Também respondemos teimosamente porque a comida estava muito boa para atender a um debate vindo de outra mesa e eu particularmente, quando estou a debater uso também as mãos de forma a convencer a quem me ouve. Naquele momento estávamos a comer.



Quando ouvi que o casal Comiche estava “infectado”, não tinha mais vontade de me levantar da cama. É muita descarga motivacional para Eneas Comiche. Há semanas perdeu uma batalha contra vendedores informais e agora tem um barril de pólvora e, por isso, tem de evitar ficar perto de isqueiros ou fósforo. Decidi ouvir a minha esposa e cancelei alguns contratos que eu teria durante a quarentena. Fiquei dentro do quarto a expelir o fumo de cigarro pela janela e também refleti um pouco mais sobre hipocrisia e a revolução humana. Questionei-me profundamente. Um individuo racional seria capaz de confundir uma campanha eleitoral com uma pandemia? Lavei os dentes e depois fui à cozinha.

Vesti a camisa e dirigi-me ao ATM. Um amigo aconselhou-me a chamar um elevador com o cotovelo. Como faria para um ATM? Um senhor magro e desesperado, aparentemente, levantou a quantia que precisava e afastou-se. Aproximei-me e imitei o magrelo. Enquanto caminhava via as pessoas juntas mas mantinham uma distância de 4 metros. Falavam de COVID-19 com maior lucidez e ademais, afirmaram que os vendedores de mercados Xiquelene, Xipamanine e outos, não tinham medo desta doença. Porque, ao que parece, é algo importado e, por isso, tem alvos predestinados. Os ricos. Os pobres são imunes a esta pandemia. Ignorei a conversa e comecei a fazer cálculos tendo em conta os preços dos produtos que queria comprar. Voltei ao ATM e levantei todo o valor que tinha.

Quando a solidão não é uma opção, o isolamento social transforma-se em uma prisão domiciliar sem precedentes. Os casais descobrem lugares mais nauseabundos da casa e, evidentemente, descobrem também muitas monotonias que eram encobertas pela rotina diária. Naquela quarta-feira à noite comprei umas cervejas e meti no saco plástico. Inicialmente, tinha convidado o meu amigo para tomarmos  2M na minha casa. Ele deu outra proposta dado que a sua esposa estava no salão de cabeleireiro. ...Pus-me a pensar enquanto caminhava para a casa dele. E se contrair Coronavírus ao longo do caminho ou durante a cervejeira? Mesmo assim, cheguei a salvo, afinal de contas, esta doença não é igual uma paragem cardíaca. Significa que a pessoa tem possibilidade de fazer um testamento e despedir-se dos seus familiares. Bebemos como dois jovens medrosos e, certamente Charles Bukowski chamar-nos-ia de fracos.



Comentámos sobre os casos de COVID-19 em Moçambique. Outrossim, eu não gostava daquela conversa, pedi para que ele mudasse de canal. No Hard Talk estava uma jovem muito bonita e com uma aparência indiana. Os homens gostam das mulheres indianas. Elas é que não permitem qualquer proximidade sem garantias conjugais ou etc. Quando nos concentramos na televisão para nos distrairmos, o Hard Talk estava para terminar mas Mia Khalifa ainda tinha muita coisa por responder ao apresentador. Eu disse ao meu amigo que conhecia aquela beldade dos filmes pornográficos. E, por isso, o debate também visava o esclarecimento sobre este ofício. Ele  ficou surpreendido. Por um momento disse que, talvez o apresentador estava no auge da ereção porque, indubitavelmente, aquela jovem é uma lua.
Depois de uns copos de cerveja voltei para casa para dormir. Era suposto. Mas senti saudades da menina que me tinha visitado no primeiro dia de quarentena, dia 23 de Março. Telefonei-lha para que fosse busca-la. Penso que teria marcado o encontro antes de tomar as cervejas e depois da casa do meu amigo ia directo ao seu encontro. Erro de cálculo. A Mia Khalifa já me aparecia na memória e com a ajuda da cerveja espalhada no meu organismo não conseguia mais calcular os riscos de COVID-19, Sida ou mesmo de gravidez. Contive-me e, tentei fazer um texto sobre frustração sexual e fracassei pela segunda vez. O facto de ter pensado em Mia Khalifa para depois vingar-me em outra pessoa, fez-me pensar nos debates que um outro amigo, filósofo, gosta de trazer à ribalta quando estamos juntos. A masturbação. Ele defende tanto a masturbação e, sempre que falamos sobre este ponto, diz que a melhor forma de provar a uma jovem bonita que, às vezes não vale muito é masturbar-se em frente dela caso se recuse a fazer sexo. Não é justo, ele argumenta, que uma mulher bonita aceite entrar no seu quarto apenas para apreciar a cama e a cor dos lenções. Por isso, não insisti que a menina viesse porque eu corria o risco de fazer uma punheta na sua presença. Finalmente, dormi.

Por Jorge Azevedo Zamba

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