Se não fosse pelo talento que tenho não seria prostituta.

Se não fosse pelo talento que tenho não seria prostituta.
Foto AQUI
Graças a Deus, sou abençoada; nasci onde nunca me faltou tecto; o meu falecido pai deu tudo quanto pôde, inclusive o talento que tenho, herdei dele. As minhas amigas, a Antonieta, a Luísa e a Lúcia, têm vergonha de suas vidas, vivem como se estivessem a prestar contas a alguém, eu não, até os vizinhos do bairro me conhecem, dou as "partes", dou desconto; entendo como alguns homens que cirandam por aí, insatisfeitos, outros divorciados, enlutados, alguns por "galinhice", eu dou-lhes , dou com alma, dou porque tenho talento para ser prostituta.

Em 1998, estive casada, amei tanto quanto fui amada; o Miguel, meu ex-marido, fora mineiro na África de Sul, voltava de 18 em 18 meses, às vezes enfermo, com forças sumidas, só chegava para cumprir o calendário, ora para se tratar e, sem sequer um beijo e voltava; confesso que até o Helton, meu filho primogénito, lhe menti, não é nada filho dele, é do velho cliente que me engravidou e, sem vergonha faleceu em pleno gozo; juro que fiquei assustada, as minhas amigas riram-se do infortúnio e tanto de mim, fui tão firme, corajosa ao ponto de levar o corpo para atirá-lo na estrada. Contudo, mudei...mudei, sou uma mulher de classe. Deixei de ir atrás do Miguel, cansei também de ser mulher de um único homem (não por dinheiro), assumo que sou insaciável, já não sou tão paga assim como nos tempos.

Agora transo para manter a minha paz em dia. (Risos), não me preocupo com nada, já fui amada, até disse há dias ao meu "boisse" que deixasse de me pagar. Se não fosse pelo talento que tenho não seria prostituta.
Quando danço, ali, as lágrimas ainda me escapam, pois eu não sou mãe íntegra, recta para o meu filho. O Helton tem vinte e dois anos, mudou tanto de padrastos que preferiu mudar-se de mim para um lado sabe lá onde. Mas há-de voltar, filhos sempre voltam, mortos ou vivos, mas voltam; não posso mais chorar por nada; o miúdo cresceu com o dinheiro de sexo (podia no mínimo se orgulhar pela mãe que tem), eu nunca escondi, aliás, ele tem visto as minhas fotos; sou tão orgulhosa de ser o que sou, meu filho vai entender; já chorei tanto, tanto mesmo que nem me restam lágrimas para lamentar desta vida. Uma lágrima sequer, agora, me condenaria a um pecadizito neste meu tempo enquanto Deus inventou-me para brilhar. Ontem foi o meu aniversário, completei 42 anos, hoje sinto a velhice me abraçando, estava tão satisfeita, feliz, mas tudo ficou revirado, perpassado, esquecido quando o Miguel apareceu, trouxe junto dele, o meu filho Helton, nem dava para sorrir pela inesperada visita, não dava para nada; não sei se ficava emocionada porque o meu filho oferecia-me botas exóticas, lingeries, óculos escuros, sutiãs e calcinhas ou porque tinha que o explicar que aquele momento era inadequado, todavia, todas aquelas buzinas desses senhorios que ele vira, eram para que sua mãe fosse celebrar o aniversário de outra maneira, como uma verdadeira artista que é.
Sou prostituta por vocação, mas tenho sentimentos e, hoje, mesmo sem  poder abraçar, beijar e dizer que amo muito o meu filho, sou feliz, porque o meu filho continua vivo e chamou-me de mãe sem se aperceber.

Por Luís Nhazilo

Enviar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem