Uma vaidade filosófica, a dúvida e o inconformismo juntos!




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"Estamos sendo capturados por nossa cultura da oralidade que leva tudo a ser verdade"- José Maphanga


Somos da cultura da oralidade, são fortes as mensagens que ouvimos dizer e da forma como elas são ditas. Não só a forma como também a pessoa que nos diz, somos mais cegamente confiantes a mensagens que recebemos dos nossos familiares e amigos mais achegados porque não somos da cultura da análise, mas dos sentimentos/afeição,  a verdade é tida como tal quando sai de uma boca que os nossos ouvidos legitimam. Recebi de manhã uma mensagem vindo da minha tia que vive longe daqui do zimpeto, a seguir outra chamada, saindo para comprar pão alguns homens voltavam do mercado zimpeto sem vestes, acessórias ( chapéu, sapatos, pastas) caíram fugindo do "recrutamento", onde ninguém foi recrutado e todos escaparam, quanta sorte. Confesso que tendo recebido SMS de familiares, o meu ouvido não rejeitou, tal que, desde de manhã não consegui sair para a baixa da cidade para fazer alguns trabalhos, hoje está sendo um dia perdido para mim. Tive de obedecer a oralidade que é cultural embora exista dentro de mim um Montaigne, Descartes, Aristóteles…apaixonados pela dúvida e cepticismo admirador bem como questionador. Não fui arrogante à cultura.




No meio a toda obediência, tive que assassinar um filósofo dentro de mim, ví a Vitória do senso comum e acreditei epistemologicamente ser o senso comum a primeira espécie de conhecimento, ví isto na prática. Lembrei-me de um amigo irmão, chamado Sebastião Sansão Chabane que em meus tempos da primária fora usado como monstro das crianças, e eu fui uma das vítimas dele, nem que ele tenha sido inocente. O Sebastião Chabane foi usado como monstro que acompanhava os brancos e se instalava estrategicamente na lagoa de "Tivanine" com facas e cães e os respectivos patrões dele, nesse caso, os brancos de "Tata Mamã", para quem é da minha idade sabe exactamente o que estou a dizer, eu cheguei a temer esse irmão, mas na minha ousadia de infância eu não me preocupava com ele, me preocupava com as crianças que ele raptava e assassinava, bem que procurei de forma jornalística essas informações mas no fim de tudo o Sebastião Chabane era assassino de ninguém, não chegou a matar nenhuma criança, não facilitou sequestro de ninguém apenas carregou a cruz de ser um dos rapazes atrevidos que já naquela idade reunia amizades de outras cores, tal como já o fazia o tio Bemugis, Malume wa phawa e outros…




Não é desses que quero aqui falar, apenas me lembrei desta estória de infância hoje, enquanto jovem fui conseguido e mantido em casa por meio de "estórias orais bem narradas" por quem sequer é vítima, fiz as perguntas tradicionais e meramente filosóficas, quem foi raptado até aqui? Qual é a cor de roupa dos raptores?! Qual é o destino, objectivo? Não tive nenhuma dessas respostas, percebi como é tão forte a cultura, por mais ciências que possamos dominar como a nossa cultura é oral, estórica, acrítica, conformada com o dito e com a legitimidade das pessoas contadoras continuaremos vivendo num mundo onde questionar é uma aberração, onde o mais próximo por suposição de que nos ama, sempre nunca mente e jamais prestará falso testemunho. É tudo sentimental e apaixonado.

Estou reunindo estórias em que a oratura se deu bem, Primeiro a estória do Sebastião assassino e sequestrador de ninguém e hoje a estória de recrutamento compulsivo em que ninguém foi recrutado, as testemunhas voltaram no caminho, ninguém viu isso, mas todos falam disso. É nossa sabedoria africana não tem dono por isso todos sabem algo e o que sabem não é diferente do que o outro sabe, porque alguém lhes disse mas não sabem quem. ... O tempo dirá!

Por José Maphanga
In- uma reflexão em torno do hoje…

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