O dogmatismo que temos pelo que ouvimos dizer!



O dogmatismo que temos pelo que ouvimos dizer!
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Uma narrativa filosófica em torno disto tudo. - José Maphanga

1. Parábola dos cegos da praça.

O nosso maior problema está no que ouvimos. Nós estamos na praça dos cegos, alí onde eles estendem a mão sem poder ver o que nela depositam os de bom coração, mas isso é o de menos; o incrível é que são cegos em grupo todo. Certo dia passou um homem e em voz alta disse: deixo contigo esse dinheiro, ficas a trocar e outro darás ao teu amigo, os dois agradeceram em simultâneo na confiança de que o dinheiro estava com o outro, assim que eles não conseguem ver mas ouvem, valorizaram a oralidade, tempo depois entraram em conflitos. Muito barulho na praça porque todos alegavam que o outro é que tinha o dinheiro e só não queria ser honesto, quer dizer que houve uma guerra por causa do dinheiro que não foi deixado, apenas falado. Cada cego tinha a máxima certeza de que o dinheiro foi deixado em alguém que não era ele e a prova disso era de que em suas mãos não havia ficado. A lógica era de que assim que não sou eu, alguém é. O mesmo se dá com isto, cá entre nós não fomos recrutados e estamos aqui, mas assim que disseram que alguém foi recrutado, então é o outro, o outro que ouvimos falar, sequer sabemos quem é, estamos cegos com vista porque não a aceitamos usar.

2. A parábola do inimigo entre nós!

Haviam homens armados  trancados numa sala escura. E de lá de fora ouviu-se uma voz a dizer: "cuidado, aí dentro tem um inimigo" sem pensar, os homens dispararam para todos os lados dentro da sala. Quando abriu-se a porta, todos estavam mortos. E não existia nenhum inimigo lá dentro. Fim da parábola.

Nós andamos armados contra um terror pelo desconhecido, o parceiro do lado é o nosso maior inimigo e é a carne da nossa arma, nele experimentamos o quão contudente e perfurante o nosso objecto é, nós, matamos por causa da voz que entoa distante uma canção de perigo e violência sem sequer fazer parte de nós cá, é sempre a distância que a voz vem até nós, aqui na aldeia, na comunidade através das redes ou de boca em boca. Continuamos vítimas do dito e não do visto.

A oralidade e seus arquitectos ganham proporções alarmantes para uma sociedade como nossa, ontem fugimos porque uma voz disse que há inimigo entre nós, fizemos barricadas nas estradas atiramos pedras para o outro lado, mas não conhecíamos a pessoa a quem estávamos atacando.
Por José Maphanga


In-oralidade como cultura.

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