Jorge Zamba |
As rugas já não perdoam. O cansaço é constante e inexplicável. Agora não interessa a durabilidade no acto, preocupo-me com a satisfação de ambos. Vou ao trabalho com um pé atrás e as orelhas antenadas para outra escravatura. A morte não me assusta mais, mas já não bato de frente com os jacintos, armandos e outros gângster’s da praça. Amigo, estou a envelhecer em câmera lenta. Sabes, desde que aquele nigga foi apresentado ao cartel, ainda não fiz nenhum texto a felicitar o gajo! A casa 30 está às vésperas e eu, amigo, confirmo que consigo ouvir o soprar daquele vento. Mal como, sabes, sou um gajo aparentemente mimado agora. Mas, na verdade é stress.
Aliás, amigo, sorry por não ter dito isto antes, já estou a morar com a Katherine Matlhassela. Lembras que demos à rapariga um nickname? A miss fornicação já dorme comigo, todos os dias. Se um dia ouvires por aí que a minha alavanca avariou, saiba que estou a usar repentinamente. Quando é ela a dirigir a cerimônia não há possibilidade de terminar mais cedo. Sabes, amigo, de tanto fazer a cunilíngua, o meu hálito mudou drasticamente. Não há nenhum cheiro de órgão genital feminino que não me irrite. Estou traumatizado com o sexo e talvez com a Katherine, amigo. Há uns anos fazia punheta por falta de uma gaja ou porque, por eventualidade, não tinha esvaziado o líquido que a Katherine gosta. Agora, bro, a punheta é o meu hobby porque estou à procura de outros prazeres.
O job também é outra estória, amigo. Estagiámos maningue para os escravocratas chamarem-nos de inexperientes. Não é arrogância, mas experiência, às vezes é saber agir e reagir num contexto profissional. A casa 30 está a desajustar as minhas camisas, calças e principalmente está a aproximar-me do abismo. Se fosse cristão orava para transformar a Katherine em uma mulher inactiva, sexualmente. Em segundo lugar pediria a Deus para diminuir o preço da cerveja e aumentar mais empresas de cevada. Pediria a Deus uns dois putos disciplinados. Diz-se por aí que Deus não dá tudo. Se calhar vai dar dois putos e passados uns anos, a Katherine vai continuar a usar abusivamente da minha alavanca. Mas, enfim, respeitemos a paciência daqueles que oram.
Vejo ao longe o meu destino. Na verdade não posso reclamar muito, até porque gradualmente a escravatura está a obrigar-me a ressuscitar Abraham Lincoln. Como estamos na era das legalizações, aos 50 a 60 anos, caso não morre de algumas dessas doenças inventadas, prevejo ficar no quintal a fumar cachimbos e marijuanas, fazer serenatas à Katherine e comer essas carnes dos supermercados que, por sinal, vão acelerar a minha morte.
Por fim, relaxa, amigo. Apesar dessas coisas todas, eu estou bem. Agora, peço, por favor, não permita que os terceiros leiam esta carta. A minha mulher pensa que gosto daquelas brincadeiras. Ainda cogita em ver o seu marido a apedrejar os cartéis locais. Deixemo-la sonhar e, não nos esqueçamos nunca de que o amor é um acto contínuo de domesticação. Hoje eu sou um animal treinado para tudo eu já te disse. Peace, amigo.Por Jorge Azevedo Zamba