Valho tudo menos nada - 5 Poemas de Nwatsukunyane



Valho tudo menos nada - 5 Poemas de N'wantsukunyana
Instagram/p.vangele




Valho tudo menos nada

Valho desgraça
Menos nada
Valho tudo
Que eles, dizem graças.
Os filhos da puta
Beijam o chão da sinagoga
Fazem rezas, para ter a buceta
Da virgem Maria, filha da tia Madalena.
Eu valho as grandezas, massas de gotículas de lágrimas,
Que caem no mukumi, da minha mamã
Valho o suor, que sai do sovaco do meu papá
Valho todos grãos de arroz
Que consumo desde então
Valho tudo
As karinganas contadas pelos meus tatanas xikoxanas
Valho desgraça?
Valho graça?
Todos vós sabeis o que valho
Eu só sei que valho tudo menos nada
Valho o cacarejo do galo
Mamã, salta da cama
Papá, salta da cama
Mil passos largos percorrem
Vão até lá, onde os outros pais vão
A procura do dinheiro do sabão.
Eu valho
Tu vales
Nós valemos
desgraça ou graça
Tudo valemos
Menos nada.


Instagram/graafjoris



2.
Não amo amar, amo o mar

Não sinto amor por amor
Não sinto gosto de amar
Não venero o amor
Amor que partiu, o coração do mufana?
Amor que destruiu, a vida da ntombozana?

Não amo esse amor
Eu amo o mar
Não gosto desse amor
Não amo amar

Oiço a doce voz do mar
Ah! O mar, o mar que eu venero
Deve ter engolido, todos pássaros do mundo
Oiço cantigas de amor
Que o mar recita, com a sua voz rouxinol

Oiço música sinfónica
É poesia
É lira
É o mar que canta
É o mar que encanta
É o mar que eu amo

É o mar que eu beijo
Com os meus pés
É o mar que eu digo, amo-te com os meus olhos
É mar de cá
É mar de lá
É o meu mar
É mar que eu amo.


3.
Uma missiva para José João Craveirinha

Vovô Zé Craveirinha
Escrevi esta missiva
Numa madrugada fria
Onde a Bruma, ocultava todos mistérios da madrugada nua,
E o orvalho lubrificava: as chapas de zinco, o chão, as folham das árvores

Com o meu corpo nu
Escrevi enquanto beijava, o meu leito,
Peguei na esferográfica
E no papel: puro e virgem
Fiz uma viagem
Num vai e vem
Vem e vai...
Desvirginei o papel
Com a tinta da esferográfica

Viajei ao som do xigubo
No "Cântico a um Deus do alcatrão"
De presente para passado, viajei...
Para época das cadernetas
Para época dos Magaisas
Aí! A passividade dos homens
Que sofreram nesta cela
Outrora o xigubo sentia na pele
As palmadas, batucadas dos Nyangas,
Que realizavam a cerimónia do Kupharula dos recém-Nyangas

Ó Vô Craveirinha no teu passado
No meu presente, tudo subiu
Lá no teu passado, subiu!
O gogogo do carvão
O preço do pão
Aí! A passividade animal
Vô lembro-me dos teus karinganas
E o teu nobre amor pela Maria
Da babalaza das hienas
Aí! A passividade animal

Aqui neste presente, também subiu
A subida dos preços
Sempre é surpreendente
A gente reza ave-Marias
Nas divisões do terço e do Rosário
Invocamos o nome do santo carpinteiro,
Cantamos louvores
Clamamos pela descida do preço do pão,
Oramos pela subida do salário

Tudo sobe, nunca desce
Sobe aqui
Sobe ali
Sobe acolá
Sobe lá
Lá sobe a Maria
Na 24 de Julho
Trepa as paredes
Para chamar os clientes
Toda gala-gala
Batom vermelho e, sombras alaranjadas e, cabelo artificial cor rosa

Vai a Maria
Vai a procura de bananas
Vai  Jesebelicamente
Vai vestida a farrapos
Toda destemida, a Maria subiu

Ó Vovô Zé sobe e não desce
Sobe a taxa de casamentos prematuros,
Sobe a taxa de  mortes prematuras
Sobe a taxa de abortos
Sobe bocas de fumo
Vô Zé, sobe Zé  tô-tô-teiro
Sobe a taxa de lixo, de rádio, de energia,
UFF! Sobe o número de corruptos
Mas o salário do assalariado
Ora bolas! Ora porras não sobe.







4.
O poeta declamou!

Em palavras espermatóficas, de súbito tudo brotou.
Javé tinha esperma na sua boca; Deu a luz ao mundo dizendo: Haja luz (Sol e Lua).

Sol e Lua, são filhos que Javé concebeu ao mundo;
Aquele ser esquisito
Que ninguém sabe quem o pariu
O gajo sempre teve, um propósito.

Javé é um poeta
Que no seu Uni(verso) Poético
Criou tanta coisa,
Com a palavra
Espermatófica!
Eu acho que, o gajo nem pau mágico tinha para fazer aquela magia toda.

Javé  fez tudo. Com:
Poder da palavra
Organizou tudo,
Só com a palavra
Mas Javé! Onde encontrou a palavra?
Que fez tudo, sem precisar de um pau.

Javé demonstrou que não só dominava a palavra,
Tinha truques de artesão
Que domina  o barro.

Javé pensou...
De tanto gostar da sua imagem
Este teve inspiração,
Fez um boneco
Inspirando-se nele mesmo
Soprou vida, naquele boneco idêntico a ele.
Sem nenhum pau
O gajo ama a sua obra de arte
Até hoje a sua obra continua

Hoje muitas obras
são feitas com pau
E não com a palavra
Cada dia que passa
Aumenta o número de obras
Feitas com o pau.

Javé Sem nenhum pau fez
Eles com pau fazem.



Instagram/ dinkust_art

5.
Moçambique

País de mim
País do White
Aqui não vivemos
Aqui sobrevivemos

Minha dourada pátria
País de nós
Aqui não bebemos
Aqui só nos encharcamos

Minha pátria amada
País que muito deve
Dormindo no Xiteve
Ouça!
Ouça a voz do Noronha
Surg et âmbula
Levanta-te Moçambique

Terra dos ngunes
Terra dos ndaus
Terra de nyangas
siya-vuma
Siya-vuma
Moçambique.





N'wantsukunyana: Marlen Daisy Lourenço Chaúque. Nasceu aos 22/06/1999, concluiu o ensino médio no ano de 2018.

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