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1.
É tarde demais para morrer. O tempo. A memória. A palavra. Tudo te fez corpo. Não há espaço onde caiba a morte na tua vida. Já é tarde. Para o céu desaparecer do infinito e o chão desabar dos pés. Talvez se não tivesses nascido. Poderia ser um momento ideal para morrer: esse momento antes da vida te tecer a alma. Agora. Mãe. Já é tarde demais para morrer.
2.
Já não és semente. Mãe. Brotou de ti o universo. Desabrocharam. Partes do crepúsculo. Partes da água. Partes da raiz do sangue. Pequenas partes do verso humano que se deliquesce no coração poema.
3.
A estrada já está improduzida. E é sempre contínua. Corre para longe dos sonhos. E para perto da ilusão. E é como lâmina cerrando a pedra bruta que veste o sol. E não se pode parar de viver enquanto houver essa luz noturna.
4.
Já é tarde. A morte fugiu dos ossos. Esquivou da sombra opaca do tempo. E quando o sol se fecha em seu ventre mecânico. Há luar pairando sobre o queixo das nuvens. Há amor que caminha dentro das veias da casa. E procura caminhos. Invade o coração. E te chora. Como forma de adiar a maleável morte do espasmo da pedra.
5.
Talvez seja apenas uma questão de hábito. Voltar da imensidão da ferida e te encontrar sorrindo sobre a cicatriz do fogo. E na mesma dimensão do sorriso. A dor morre. Brutamente. E não morres: porque só morre quem não produz semente.
Por Otildo Justino Guido
Inharrime, 30 de Novembro de 2019