Tenho medo de tudo isto




Tenho medo de tudo isto
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Gostaria de ter uma mente desajeitada para não questionar nada sobre a sociedade e os seus actores. Em abonos da verdade, eu também sou actor nesta sociedade. Zango. Alegro-me e volto a zangar com o sistema. Namoro. Brigo e volto a namorar. Por falar nisso, eu e a minha namoradinha tínhamos um plano de ter uma criancinha aí. Se bem que a Jessy ficava feliz só de imaginar a criança a sorrir, brincar e, não devia faltar essa parte, mijar e cagar nas calças. Lá no fundo eu  rendia com a dica de ter um puto e ou uma gaja agora. Mas pensei profundamente. A pré-primária de uma criança custa mais caro que um curso superior numa universidade pública. Epa, eu andei na UEM por 4 anos mas não gastei mais de 200 0000 meticais. Estou a imaginar um cenário em que o meu bebé, quando já crescido, questione os gastos do meu curso superior e da mãe. Ela ficava a rir durante duas semanas e eu, todo irritado matava.
Depois de ter lido o primeiro parágrafo acima, os meus leitores e amigos devem estar a pensar  em que hospital podem me internar. Mas ainda estou bem, meus amigos. Apenas receio ficar maluco com o mudus-vivend e operand da nossa sociedade. A morte não nos  assusta? A juventude entrega os preservativos às crianças para usarem-nos como balão e à noite as pensões, quartos e ruelas nos bairros suburbanos cheiram à sémen. Tenho medo de tudo isto. Às vezes prefiro viver a solidão com a minha  namoradinha à ser segurança do meu bebé. Em parte, estou a assumir a minha frustração aos meus companheiros. Gosto de fazer sexo. Nunca ocultei isso. Gosto também do meu país. Mas, infelizmente, tenho muito medo de ter um bebé dentro deste território apelidado  Moçambique.

Os Frelimistas dirão que não sou patriota. Entendo. Eles estão a defender a pátria com discursos heroicos. Eu tenho direito de me zangar e, talvez esquecer de vez aquela quadrilha e procurar outras terras habitáveis. Não é ironia, meus amigos, tenho medo de ter um bebé por conta deles. Eles passeiam em meus pensamentos durante o acto sexual. Mas eu sou patriota. Juro. E por isso, tenho sempre vontade em escrever sobre Moçambique e não morar cá para sempre.
Ando num conflito ideológico. Não entendo. Tenho uma força que me empurra para a revolução. Esta vontade nasce logo pela manhã quando acordo. Pego nos livros que há séculos não os leio e tento recuperar o tempo perdido. Ali percebo que nasci no tempo errado. Talvez nem devia ter nascido. Depois de estabelecer contacto com os demais, sinto a veia da revolução a ceder. Deve ser por isso que tenho medo de ter um bebé. O que direi a ele? Até que a minha namoradinha é uma boa menina. Até aqui não posso reclamar. Mas o bebé precisa dos pais e não apenas da mãe.



Por Jorge Azevedo Zamba



Fernando Absalão Chaúque

Professor, escritor, poeta e blogueiro. Licenciado em Ensino da Lingua Inglesa. Autor de ''Âncora no ventre do tempo'' (2019) e co-autor de ''Barca Oblonga'' (2022).

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