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Condições na vida nunca me faltaram. Já tive várias oportunidades e as deixei passar porque não me achava capaz de lidar com papéis, canetas ou reuniões. Faço do meu corpo o objecto fundamental do meu trabalho. Eu sou fruto de um estupro, razão pela qual estou aqui homenageando a minha mãe, mãe apenas por me ter gerado; eu fui criada pelo mundo. Fui violada ainda no ventre da minha mãe; e quando os meus pés tocaram o solo, fiquei arrependida, preferia ter sido abortada e mandada para outro mundo.
Quando criança, eu sempre via e ouvia outras crianças falando de pula-pula, cavalinho, papá e mamã etc; eram estas as brincadeiras que eu ansiava se eu tivesse um pai ou uma mãe que me levasse ao parque. O primeiro parque que eu conheci, foi aos meus 15 anos, até hoje aquelas palavras não saem da minha mente que nem as dívidas ocultas que o povo não esquece! Vem, cavalga para mim; suba e senta no meu pula-pula, não tenha medo. Quem diria que isso seria proferido pela boca do meu tio? Foi onde tudo começou! Eu era um circo onde qualquer palhaço vinha e actuava.
Eu já fui casada, viúva, amante...mas nem com isso tive um pau para segurar o meu buraco; motivo: eu sou estéril! A minha vida mudou repentinamente, foi como passar de ministro para recluso; mas fiquei presa no sexo com uma pena perpétua. No início fazia uma lista de homens aos quais dei as minhas partes, mas agora perdi a conta, matemática nunca foi minha área! Quase todos provaram do meu mel, desde mendigos aos deputados.
Hoje a rotina não foi diferente, apenas foi cansativa pelo simples facto de ser uma sexta-feira. Eu era a mais procurada da praça, não era impala, mas fazia uma mistura de vodka, gin e amarula em uma única dose; tinha que gerir bem os meus clientes, alguns aceitaram o trabalho em grupo, em duplas, os mais reservados quiseram fazer individual. Aceitei sem receio; tudo era bem cronometrado, não precisava de árbitro, eu fazia as contagens dos sobe-desce, entra-sai e dos chupa-engole.
A última sessão da madrugada foi um trabalho a 3, dei mais gritos que uma mulher na sala de parto! Ambos os homens apresentavam o mesmo porte físico. Estava diante de 2 paus e 4 bolas, aquilo parecia uma partida de golfe. Quando uma das bolas esvaziava, fazia logo a substituição; mas como ambos eram carnívoros, fizeram a competição de quem come mais a carne, sobrando os ossos para as hienas.
Chupavam os meus seios parecendo prisioneiros que estavam no deserto; e eu simulava prazer para ornamentar o ambiente e estimular o desejo. Eu fazia aquilo porque tinha talento. Ficava feliz porque no final as notas de dólar e metical cairiam na minha garrafa de tequila que eu chamava de cofre, e assim investia nas novas lingeries e chicotes. Mas por dentro, bem por dentro, aqueles gemidos eram lágrimas que ficaram congeladas na minha infância; chorava mas ninguém via. Nunca fiz amor na minha vida, não sei o que é fazer amor com um homem, eu não sei o que é amor. Sei que é um sentimento, mas é algo que nunca senti.
Mas enfim, prefiro castigar o meu corpo por estar a transportar uma alma errada; aqui não estão os cinzentinhos, se estivessem, já teriam passado uma multa. Agora vou dormir, amanhã, logo cedo tenho que adquirir novo stock de camisinhas.
Paula Cristina