O vendedor de crédito (Capítulo 2)



Leia o Capítulo 1 aqui 
- De onde me conheces?

- Arsénio fala sempre de ti, e vejo que ele não exagerou quando falava da tua beleza.

Ela sorriu encabulada.

- Está todo o mundo a beber, menos você… - disse Pedro.

Isaura respondeu que não bebia, e que fora criada numa família com regras rígidas, mas que vontade de provar nunca a faltou. A conversa foi fluindo, e Pedro convenceu-a a provar uma bebida que segundo ele, era doce e leve.

Os dois beberam, dançaram juntos, e depois de trocarem os números de telefone, muitos olhares provocantes, conversas tendenciosas e gestos meigos, desapareceram no decorrer da festa e acabaram no carro de Pedro, onde Isaura entregou a sua virgindade, que outrora prometera a Carlitos naquela tarde de Dezembro de baixo de um cajueiro.

Já envolvidos pela sombra nocturna e pelo espírito do álcool, faziam idas e vindas entre a festa e o carro, foram várias sessões no banco de trás do Vitz naquela noite.

Depois da meia-noite, Arsénio deu-se conta que havia combinado de levar Isaura para casa antes da meia-noite, e foi procura-los no canto onde havia os deixado, não estavam. Saiu a rua e os encontrou encostados no carro aos beijos. Ele viu aquela cena paralisado, respirou fundo e disse:

- Isaura, temos de ir, tua tia deve estar chateada a esta hora.

- Eu já a havia prometido acompanhar para casa, porque esta hora já não há chapas. Respondeu Pedro.

- Não precisa, eu é que a levei até aqui, eu é que vou a devolver.

- Então posso levar os dois, deixo-vos de baixo do prédio, e eu tomo o meu rumo.

- Tome o teu rumo agora, e a deixe em paz, gritou Arsénio. Depois tomou-a pelo braço e a levou. Isaura impotente e sem reacção, apenas foi.

Caminharam da Mafalala ao Bairro do Alto Maé, durante a caminhada, ele só repetia a mesma pergunta, porque fizeste isso comigo, ela permaneceu em silêncio até a porta de casa, onde começou a chorar e deu um abraço demorado a Arsénio. Logo entrou porta a dentro, mas com receio de receber alguma repreensão da tia por estar a chegar a aquela hora e de certa forma bêbada. Mas por sorte a tia estava a dormir, e não se apercebeu da chegada de Isaura.

No dia seguinte, Arsénio, inconformado, foi a casa de Isaura pedir explicações sobre o que havia acontecido na festa. Bateu a porta e para a sua sorte Isaura é que abriu. Com a garganta pesada, ele disse:

- Mas como tiveste coragem, sabendo que ele era meu primo, e que eu gosto de ti?

- Não sei como aquilo aconteceu, aconteceu, mas eu não tenho nada com ele.

Foi uma conversa longa na porta da casa de Isaura, e ela prometeu não entrar mais em contacto com Pedro. Arsénio satisfeito com o resultado da conversa, conformou-se e voltou para casa. E Já que estavam de férias, eles pouco se viam, mas quase todo o tempo estavam ao telefone.

Semanas se passaram, as coisas foram fluindo, porém Isaura começou a notar mudanças no seu corpo, tinha enjoos frequentes e quando ela parou de ver menstruação, veio o desespero.



 Rito Nobre

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