O vendedor de crédito (Capítulo 1)




- Maj você sabej que eu preciso studar, comecei a estudar quando ieu já era grande, e este ano passei para a Nonan Claci, minhas irmã também não estudaram e já não estão a guentar com minha scola. Na minha família ninguém tem Diecima Segunda, e ieu disse minha mãe que quero estudar até Diecima Segunda para ela ficar filiz. Minha tia disse que eu posso ir viveri com ela no Maputo e estudar lá, e já está a minha spera em casa pra irmos. - Falou Isaura a Carlitos, naquela tarde amena de um dia de Dezembro debaixo de um cajueiro.

- Queres me abandonar, é isso?

- Nada, você sabej que nunca vou fazer isso, só vou no Maputo studar até Deicima Segunda e voltar para contar minhas irmã de nós, e ficarmos junto, quero ter filhos contigo. Me spera ieu voltar do Maputo, vamos ter nossa premera noite de amor, eu te iamo…

E fez-se silêncio por um instante... Carlitos mal acreditou no que estava a acontecer, inconformado, não fez mais nada senão abraçá-la forte e beijá-la, um beijo longo com gosto de despedida, e foi mesmo o último. Naquela mesma tarde Isaura partiu no carro da sua Tia Joana rumo a Maputo, deixando para trás Carlitos, e o povoado em que morava com suas duas irmãs mais velhas, numa casa de construção precária que fora deixada pelos seus pais, após a morte.

Na chegada, Isaura mal acreditava que estava na Cidade de Maputo, com seus 18 anos, e só conhecendo a cidade grande pela televisão do chefe do povoado, estava fascinada com o tamanho dos prédios. A movimentação dos carros e das pessoas faziam-na experimentar barulhos de todos os sotaques. Demorou para ela se acostumar com o Décimo andar da flat da sua Tia Joana, no Bairro do Alto-Maé. Isaura pouco conseguia espreitar da varanda para baixo do prédio, que já ficava com tonturas.

Os dias foram passando, e ela foi se adaptando ao ritmo da cidade, não deixou de pensar em Carlitos um dia sequer, e sem nenhum contacto, a saudade aumentava a cada dia. A tia matriculou-a na Nona Classe e prosseguiu os estudos no período nocturno. Isaura, destemida e muito aplicada frequentou as aulas, o que a fez se destacar como uma das melhores alunas da turma. O seu vocabulário melhorou muito naquele ano.

E no meio de tantos olhares de admiração, estava lá o seu colega Arsénio, que a cortejava todos os dias, fazia a questão de passar da casa dela a buscar e deixar, e ao longo do caminho fazia declarações de amor, do tipo “se me desses o privilégio de te amar, eu te faria a mulher mais feliz deste mundo”, “o amor é a estrela que me guia até você, fica comigo que te levo ao paraíso.”

Oferecia chocolates e outros presentes, mas mesmo assim, ela não perdeu o foco, que era concluir a Décima Segunda Classe e voltar para os braços do seu amado Carlitos. Meses passaram-se, Arsénio sempre nas investidas para conquistá-la, e nada, a resposta era sempre negativa.

Já no fim do ano, a turma combinou uma festa de encerramento das aulas. A festa aconteceria em casa de um dos colegas no bairro da Mafalala, mas havia um porém, a tia de Isaura não a deixaria ir à uma festa que terminasse de madrugada ou ao amanhecer. Daí que Arsénio propôs-se a ir falar com a tia para pedir a permissão. Ido ter com ela, depois de alguns minutos de negociações, a tia aceitou com a condição de até antes da meia-noite ela estar de volta a casa.

No dia da festa, todos colegas da turma foram ao local comemorar o encerramento das aulas, Arsénio tomou a liberdade e convidou o seu primo Pedro. Apresentou-o a todos, Pedro logo ambientou-se. Nos primeiros momentos da festa, ficaram os três num canto a conversar, Isaura, Arsénio e o primo Pedro. Depois Arsénio saiu, deixou Pedro e Isaura a conversar sozinhos e animados.

Então você é a famosa Isaura.

Rito Nobre

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