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Agora que é a hora da verdade todos amam teatro e actores que ousam em vomitar em palco. Agora não interessa a feiura nem o defeito das curvas daquelas atrizes. Agora as verónicas, carmelitas são iguais a uma pérola abrilhantada. Todos podem tocá-las desde que tenham uma língua cumprida para lamber o salto e as botas dos seus maridos. Não se fala mais da verdade que há meses era tema de debate nas barracas, em acto sexual e até em prostíbulos. É tabu falar das dívidas ocultas porque a juventude está ocupada com a campanha da camaradagem.
Não há mais tempo para questionar. Até porque os culpados são os da VTB, americanos e os Chang's que, em parte, estão a responder pelos crimes cometidos. Agora, o papel da juventude é vestir a camiseta vermelha e elogiar àquela gente por tudo que faz e continua a fazer. Não há mais tempo para ver ao jogo de futebol. Os Real Madrid's, Barcelonas, Juventus e Messi's que se aplaudem nas europas. Cá a juventude desistiu da autópsia que outrora prometera.
Não é triste amar uma cor semelhante ao sangue. A juventude descobriu que há anos julgava o Messias enquanto devia se render de joelho e agradecer pelo oxigênio, pequenas boladas e pela roupa esfarrapada que aquela gente deixa que os nigerianos e chineses vendam. Os músicos e outros que agora se converteram, constataram que antes compunham canções que desonram Moçambique. Os acadêmicos preferem trancar-se em salas de aula e falar com os estudantes sobre a importância da revolução.
Agora a cor vermelha é sinónimo de paz e motivação para um futuro risonho. Nem vale a pena falar de afonsos porque, quando os homens fracos morrem a natureza bate palmas. Aquela gente é a natureza e, por isso, a juventude decidiu sentar-se à sombra para apanhar as folhas que caiem das árvores.
Não há mais poetas porque as palavras se esgotaram. Não há mais músicas de intervenção porque a revolução terminou em 1975 com a independência total e completa de Moçambique. Não há mais livros para ler porque a História foi escrita.
Se os jovens são a seiva da nação, o futuro está em suas mãos dado que estão satisfeitos com a prestação de serviços públicos do Estado (Frelimo). Estão também satisfeitos em viver de boladas e em trabalhar para um chefe que sequer fala a sua língua e, por isso, zanga e insulta em mandarim, turco e em outras línguas impercetíveis aos moçambicanos. A corrupção é sinal de crescimento económico e social. Ou seja, os moçambicanos já sabem negociar. Aliás, à semelhança das outras palavras pejorativas, corrupção foi uma palavra inventada pelos americanos, ingleses e aquela gente de G7. A palavra certa é negociação.
Não há tempo para rancor e nem ódio, os jovens se deram conta disso: beijam a cor vermelha e à noite enviam mensagens e telefonam para agradecer pelo oxigênio, compõem canções que engrandecem a natureza frelimista, agradecem pela qualidade da educação básica, saúde e pela presteza da polícia.
Por Jorge Azevedo Zamba