Foto Aqui |
O sol se enamorava pelo ocidente e Djalo contemplava inquieto aquele reluzir que beijava a noite. O esplendor do por do sol tem em si uma beleza única que transmite qualquer mistério ao observador.
Djalo, ao contemplar aquela visão, não via nenhum mistério. Djalo via a sua vida. Passavam-se em seus pensamentos memórias das raparigas que conhecera nas aldeias do rio Save. A moça de cabelos cacheados, a filha do camponês que tivera aventuras de namorisco de petizes. Via as histórias velhas, mas que conservavam a vida atual que a sua avó contava em volta da fogueira.
Djalo sentia saudades da sua terra natal. Mas ele estava longe de tudo. Aquele entardecer, na sua terra recordava-lhe a hora de guiar o gado ao curral. O cheiro saltando das panelas, que anunciava o jantar. Respirava profundamente com os olhos húmidos.
De súbito, por trás da rocha, ouviam-se passos que vinham em sua direção. Djalo limpou rapidamente o seu rosto e levantou-se da rocha.
- Djalo, o que fazes aqui sozinho? – Questionou o mestre.
- Contemplando a resplendente beleza da despedida majestosa do pôr-do-sol.
- Pareces-me inquieto. A musicalidade da tua voz transparece um mar de desassossego. O que há em sua alma?
- Preciso dar um rumo à minha vida mestre. De que jeito posso recomeçar a minha jornada?
- Estavas a contemplar o pôr-do-sol e não compreendeste uma das metáforas da vida? Para onde foi o sol Djalo?
- Diz a lenda que o sol precisa despertar outros irmãos em volta do mundo, para que possam contar os seus breves dias de existência. Outros dizem que é a vitória do deus Seth ao ferir o Hórus. Conta a lenda, que sempre que o Hórus é vencido, a escuridão reina sobre o mundo.
O mestre sorriu delicadamente. Deu alguns passos e contemplou os últimos raios que desfaleciam no horizonte. Do lado havia uma linda laranjeira. O mestre pegou no seu bastão atirou sobre a árvore, deixando cair algumas laranjas. Pegou uma laranja e deu ao Djalo.
- Para que possamos ter uma floresta de laranjeira o que é necessário? – Questionou o mestre.
- É preciso que se jogue em terra muitas sementes.
- Não basta. – Retorquiu o mestre. – É preciso que morra o fruto para se dar origem à uma nova vida. O sol é sinónimo de recomeço. Cada amanhecer é dado ao homem a possibilidade de reescrever a própria história. Recomeçar é a nossa habilidade de tomar decisões no nosso presente e, reconhecer que tais decisões, terão implicações no nosso futuro. A vida é construída de decisões. Sejam elas pequenas ou grandes. As decisões constroem o mundo. Recomeçar é uma decisão. Se tens uma decisão a tomar, vá em diante. A hora é esta…
Álvaro dos Reis
https://web.facebook.com/poetadosreis/