Nessas andanças, esbarrei-me com um milagre, algo façanhoso e quiçá sobrenatural. O habitual é nas noites sem nuvens, olhar para o céu e perceber que um conjunto de estrelas desorganizadas, assistem-nos aqui na terra. Desta vez, olhei á minha frente, uma estrela cadente confundia meus olhos, bloqueava meus pensamentos e transformava meu coração em batuque. Um senhor que vinha à velocidade de luz, na sua viatura de marca Toyota Runx, quase me atropelava, mas não deu certo porque aquela mulher já havia estrafegado tudo de mim. No desmazelo dela no olhar, percebe que eu estava todo derretido por ela, tal que levantou o braço e me saudou. Mais acelerado ficou meu coração e algo precisava dizer àquela esplêndida mulher. O meu maior desafio era perder a paralisia e me locomover por uns 3 metros para alcançar aquela estrela que estava acompanhada de outra moça. Elas estavam na outra berma da estrada e dava para perceber que esperavam transporte. Assim ganhei coragem, atravessei a estrada e quando chegava perto delas, um senhor parava seu carro para lhes dar boleia. A outra foi ter com o senhor patrocinador da boleia que por sinal disponibilizava-se para levar as duas até o seu destino. - Cátia, vamos, ele vai nos deixar no jardim. - Hummmm, ela chama-se Cátia. - Não aceito boleia de estranho, te encontro lá. - A amiga não quis perder a chance de viajar num BT50 e a custo zero. Quem sabe, era o destino cruzando-me com a mulher da minha vida.
- Olá Cátia, permita-me cortejar sua beleza excepcional. Sei que deves estar se perguntando como conheço teu nome, mas dentro de pouco tempo, conheci o melhor de ti.
- Oi moço, desculpa, eu não te conheço. Acredito que tenhas ouvido a minha amiga chamando pelo meu nome, contudo, percebi que não tiravas o olhar de mim, e nalgum momento pensei que me estivesses a confundir com alguém.
- Permita-me que eu me apresente, sou ninguém diante dos teus olhos. Perdi meus sentidos logo que olhei a minha esquerda e percebi que uma estrela escapara do céu, e para disfarçar, além de estrela cadente a chamaram de Cátia...Quando tua amiga deixou com que os seus lábios libertassem o som Cátia, minha mente ganhou um novo vocábulo que o compartilharia com o coração.
- Nunca havia sentido o que estou sentindo agora e desde o momento que meus olhos assistiram a direcção que te colocava como referência. Cátia, é prematuro dizer que estou apaixonado por ti, mas sem querer ser egoísta, confesso que estou fascinado com teu ser, sinto-me como se estivesse vivendo para contemplar teu corpo armado em modelo e seus olhos se fazem de limite nos meus sonhos.
- Cala, não fala mais nada, disse a Cátia olhando-me nos olhos.
- Vejo sinceridade nos teus olhos e quero admitir que meu mundo brilha quando tu falas. Nestes segundos que se passaram, senti algo diferente em mim, tua presença mergulhava-se intensamente no meu ser. Mas sinto muito, não posso dar crédito a isto e tenho que ir, minha amiga deve estar me esperando.
- Por favor, permita que eu fique com teu contacto. Meu nome é Jonas e posso não seguir teu caminho, mas seguirei o que sinto.
- Apesar do que sentes, para mim és um inusitado e eu não te posso passar meu número. E está chegando ai um smart kicka, nos vemos um dia desses nessas andanças.
Ela foi pegar o chapa e meu coração ficou hirto. Fui para casa sem ver o caminho, pois meus pensamentos se limitavam a pensar nela. A Cátia virou dona dos meus pensamentos e meu projecto de cada dia era descobrir o caminho que servia de passarela para aquela linda mulher que os olheiros prodigavam no mundo da moda.
Uma semana passou e as ruas e avenidas escondiam ela de mim, voltei àquela paragem, mas somente a lembrança me fazia voltar a ela naquele lugar. Fiz-me de louco, aliás, eu era mesmo louco por ela. Zanzei por ali esperando encontrar a zona que tinha o privilégio de ver uma estrela fazendo das ruas uma passarela.
Trinta minutos passaram e eu andando sem destino e num instante uma voz serena soava numa das casas ao redor de onde me encontrava.
- Essa voz além de linda é especial e familiar e minha suspeita ganhou asas quando ao longe ouvia, Cátia seja rápida porque já está quase na hora de ir a escola de culinária. - Sim mãe, já estou saindo. É ela, dizia meu coração.
Esperei na mesma rua, que se dane a pessoa que me ver e me confundir com um ladrão, mas enquanto não ouvir por perto a voz da Cátia, vou rondando por aqui.
Dez minutos passaram e nenhum sinal dela saindo. Aproximei-me do murro da casa dela e uma mulher elogiava a beleza que saia da sala. Como estás linda Cátia, nem parece que vais a escola e estás com cara de quem vestiu pensando em alguém.
- Nem te conto mana, todos esses dias penso em alguém que nem conheço. Algo estranho está acontecendo comigo, mas te conto bem na minha volta. Mas te adianto que estou apaixonada por alguém que só vi uma e única vez. E creio que não verei mais essa pessoa. Falei muito e já estou atrasada, falamos, mana.
- Estou bem ansiosa maninha, espero que volte logo para me contar todo esse mistério.
- Beijinhos e tchau, mana. Se despedia assim a Cátia, e logo ao sair do portão depara com uma surpresa.
- Jonas! És tu ou estou sonhando?
- Estás esplêndida e impecável Cátia. Desculpa a audácia, mas eu não conseguia mais alimentar meus dias com sorrisos desde o dia que pegaste aquele ônibus. De lá para cá, meus olhos se machucavam pela sede de voltar a te ver. Em nenhum instante deixei de pensar em ti e hoje segui os caminhos do meu coração e tua voz foi o meu semáforo.
- Jonas, eu vou a escola e podemos falar caminhando. Eu também não parei de pensar em ti, nunca me envolvi com alguém e nem sentir vontade de estar com alguém. E acho que entramos em sintonia, hoje acordei imaginando você comigo e algo me dizia que estaríamos juntos. Minha escola é ali e tenho que entrar, mas mais precisava ainda te ver.
- Meu mundo és tu Cátia e eu te espero aqui fora.
- Está bem, deixa-me entrar e em uma hora termina a aula.
- Vá minha paixão e eu te espero aqui.
Ela entrou na escola e eu fiquei no passeio contemplando os carros que passavam pela estrada vizinha à escola. Passado cinco minutos, uma mão cobria-me os olhos! Quem será?
Meu coração bateu, e somente uma mulher fazia palpitar meu coração com a sua presença.
- És tu Cátia.
- Como adivinhaste?
- Eu te sinto em mim, Cátia, tua presença acusa no meu coração é como íman e pedaços de ferro. Mas não devias estar na sala?
- Pois bem, hoje tínhamos aulas práticas, mas os técnicos estão reparando os fornos, por isso fomos dispensados. E eis-me aqui. Tenho duas horas livre.
- Onde podemos ficar? Aqui ao lado tem uma barraca, mas estou vendo muita gente nos copos e eu não gosto deste ambiente. E se não te importares, podemos ir até a obra do meu irmão, eu que estou tutelando-a.
- Apesar de ainda continuares estranho para mim, desta vez vou deixar que me sequestres.
Em 20 minutos já estávamos na casa do meu irmão. E pelo caminho compramos um litro de sumo Compal.
Chegados lá, entramos no quarto, que era o único compartimento que fornecia condições para estarmos à vontade.
- Esteja à vontade Cátia, este é o lugar que tenho ficado nele quando pretendo viajar no silêncio. E hoje estou aqui contigo.
- Sim, eu quero dizer que estou te amando, estou loucamente apaixonado por ti. Quero contigo caminhar e ao teu lado crescer. Aceita namorar comigo?
- Sim Jonas, eu acho que é cedo demais para fazer essa pergunta e não vou negar que estou apaixonada por ti e que desejo também caminhar contigo, mas precisamos nos conhecer mais e vermos se estamos em altura de assumir esse sentimento e uma relação. Eu penso que o melhor é sermos amigos até então.
- Vem cá e olha nos meus olhos, fala diante deles que queres ser minha amiga por enquanto.
A Cátia aproximou-se de mim, olhou nos meus olhos e os lábios dela soletravam "me beija", no silêncio. Deixei tudo a critério da vontade que abraçava nossos corpos, beijamo-nos e nos deixamos levar com a vontade do coração.
- Jonas é a minha primeira vez.
- Deixa-me te amar hoje e permita-me que te ame sempre.
- Quero negar, mas me sinto completa nos teus braços. O que quero é ser feliz e se isso me faz feliz, vamos avante. Não quero saber do amanhã o agora é o que me importa.
Aquilo era um sonho vestido em realidade, subtraí o que tapava a naturalidade dela, a Cátia já estava gemendo nos meus braços, enfiei meus sentimentos nela, tomei da menina minha laranja, enquanto a chupava, ela ficava mole, flutuava e falava línguas.
- Jonas me ame, a ti me entrego.
Finalmente, entrei na terra prometida, protegido pela confiança e pelo amor que fluía, nos amamos e finalmente a acção foi consumada. Olhei para cara dela e lhe vi cheia de vergonha.
- Não acredito que fiz isso Jonas, eu não sou assim.
- Nada de errado fizeste amor, nós nos amamos e tudo foi doce. Eu prometo respeitar e amar você. Mais uma vez pergunto, aceita namorar comigo sua modelo armada em gostosa?
- O que achas?
- Quero nada achar, tudo aconteceu a favor do que sentimos, mas tua resposta me é importante Cátia ou queres ainda que mantemos na amizade.
- Aceito Jonas, sou já tua namorada e espero ser feliz ao teu lado.
Este é meu melhor dia, eu a carreguei até ao banheiro e por lá voltamos a fazer amor enquanto tomávamos banho. Tudo foi especial, mas a hora já estava mandando ela embora.
Acompanhei-lhe até à casa dela e nos separamos com tanta dificuldade.
Durante dois meses, vivemos uma relação brilhante. Foram passeios, presentes e acima de tudo muita entrega e cumplicidade. Era quinta-feira quando ela me ligou a dizer que tínhamos de conversar. Marcamos de nos encontrar no jardim dos namorados na sexta-feira.
O encontro deu certo e ela foi a primeira a chegar.
- Oi amor. Foste rápida!
- Olá, estava muito ansiosa para estar contigo e te falar o que está acontecendo. Não sei se a notícia é boa ou má, contudo, estou preparada para qualquer reacção.
- Estás me preocupando amor, vem cá, me abraça e tire de mim todo conforto. Eu estou contigo para tudo. Te amo e nunca abandonar-te-ei.
- Muito obrigado por tudo e quero que saibas que foste meu único homem e continuas sendo. Há dois meses não desce meu período e minha irmã me aconselhou a fazer teste de gravidez e deu positivo. Estou grávida, Jonas, e te juro que não queria isso agora.
- Grávida?
- Se não estiveres pronto para assumir, eu irei assumir Jonas. Não quero pressionar você, mas achei pertinente te informar.
- Cátia, eu não esperava isso agora, mas não irei abandonar você, aliás, conta com todo meu amor. Essa criatura é resultado do amor que sentimos um pelo outro. É contigo que quero formar minha família. Só te peço que não abandones a escola, com o dinheiro que recebo com a explicação, vai dar para custear o porte da tua escola e da gravidez.
Mas temos de pensar no nosso futuro e da pessoinha que vem. Vamos diminuir passeios por enquanto. Em dois meses me irei apresentar na tua família e hoje vou falar com meus pais sobre este assunto. E muito obrigado pelo presente que estas me dando. Amo você minha estrela cadente.
- Também te amo meu príncipe e muito obrigado por me aceitar com muito amor. Eu quero contribuir com tudo, meus estudos vou custeando com o dinheiro que ganho com encomendas de bolos e biscoitos. Vamos nos concentrar também na nossa obra.
- Quem não quer ter uma mulher assim? Sou sortudo por te ter.
O tempo passou e nos casamos justamente no oitavo mês da gravidez.
Ela terminou a faculdade e foi a primeira a conseguir um bom emprego. Mesmo assim, ninguém notava quem ganhava mais, pois o amor fazia de nós um único ser. A minha vez chegou, fui admitido para leccionar na Universidade Eduardo Mondlhane. Seis meses depois, comprei meu primeiro carro e as chaves seriam para a mulher da minha vida.
- Cátia, toma essas chaves e o carro é teu. Quero poder te presentear todos dias, pela mulher que és, pelo amor que sentes por mim e pela forma como cuidas da minha família. És a mulher que quero para mim e quero ao teu lado morrer. Continue especial e lisonjeira.
- Nem sei o que dizer meu amor.
Lágrimas de alegria falavam por ela e nosso filho vinha correndo para apreciar o carro que estava estacionado no quintal.
Os três, abraçámo-nos e percebemos o quão abençoada era aquela família.
O amor guiara nossos caminhos.
Por Jonas Francisco Muchanga